Na triste semana em que o Brasil bateu recordes de óbitos por COVID, o Presidente Jair Bolsonaro fez chacota do luto de milhares de brasileiros, chamando de covardes aqueles que preferem o lockdown como estratégia de sobrevivência num país sem planejamento algum de combate ao vírus.

Relatório da ONG Conectas chamado: Direitos na Pandemia, traçou uma linha do tempo demonstrando como o caos instaurado no país não tem relação apenas com a incompetência do governo mas sim algo estrategicamente pensado. “No âmbito federal, mais do que a ausência de um enfoque de direitos, já constatada, o que nossa pesquisa revelou é a existência de uma estratégia institucional de propagação do vírus, promovida pelo governo brasileiro sob a liderança da Presidência da República” e continua “Os resultados revelam o empenho e a eficiência da atuação da União em prol da ampla disseminação do vírus no território nacional, declaradamente com o objetivo de retomar a atividade econômica o mais rápido possível e a qualquer custo.

Mesmo tentando se isentar, terceirizar ou jogar para os prefeitos e governadores a culpa, o relatório deixa claro que foi por meio de decretos, vetos e ações do Ministério da Saúde que o governo federal lançou o Brasil propositalmente num precipício. A vacina do Butantan foi oferecida em três ocasiões ao Presidente desde julho do ano passado e totalmente ignorada, a compra de outras vacinas também foram deixadas de lado enquanto Bolsonaro insistia na indicação de tratamentos preventivos não efetivos como a Cloroquina e a Ivermectina. O resultado disso é que agora o Brasil ocupa as últimas posições na lista dos laboratórios que estão abastecendo o mundo com suas vacinas e pior, o descaso com a pandemia deixou o terreno livre para o vírus circular e sofrer mutações a ponto de surgir uma nova variante absurdamente mais agressiva e contagiosa, colocando não só o Brasil mas o mundo todo em alerta. Resultados preliminares apontam que a nova variante brasileira é resistente a vacina, atinge aqueles que já se contaminaram uma vez e pode levar facilmente á óbito os mais jovens.

O país sofre agora um colapso na saúde e a falta de leitos na UTI já é uma realidade com pessoas morrendo na fila de espera, não somente de COVID mas de qualquer outra doença que necessite de atendimento especializado e internação. Pois bem amigos, parece que a morte foi convocada e agora senta-se à mesa com os brasileiros. Estamos assistindo passivos o genocídio do nosso povo, inertes, anestesiados, paralisados perante tanta mentira, desinformação, fanatismo e cegueira coletiva diante de tudo que acontece. Eles riem, debocham, adquirem mansões, desdenham diariamente do trabalhador e pavimentam o caminho para a continuidade desse projeto as custas de milhares de vidas e da agonia de milhões de brasileiros.

Mas nenhum pesadelo dura pra sempre e nenhum demagogo engana por muito tempo. Tudo isso vai passar, sofreremos perdas pelo caminho, mas sobreviveremos graças a construção diária de um modelo alternativo ao que está colocado. Enquanto isso tento encontrar forças na poesia de Maiakóvski: Por enquanto há escória de sobra. O tempo é escasso – mãos à obra. Primeiro é preciso transformar a vida, para cantá-la – em seguida. […] É preciso arrancar alegria do futuro. Nesta vida morrer não é difícil. O difícil é a vida e seu ofício.

Paulo Napoli – Militante da Unidade Classista em São José do Rio Preto – SP