Operários denunciam aumento de acidentes de trabalho na CSN

Maior empresa siderúrgica do Brasil apresenta números alarmantes de acidentes trabalho

Fania Rodrigues

 

Acidentes de trabalho viraram rotina na maior empresa siderúrgica do Rio de Janeiro, a Companhia Siderúrgica Nacional (CSN). Não teve um único mês desse ano sem acidentes no local. Se somado a outras unidades do Grupo CSN, o número chega a 260 acidentes, entre os meses de janeiro e novembro de 2016. O ano nem acabou e o número de acidentes já supera anos anteriores. Em 2015 ocorreram 197 acidentes e em 2014 foram 194, de acordo com um grupo de trabalhadores que se organizam através do Fórum de Resistência, uma organização que reúne empregados da empresa, integrantes da Pastoral Operária e da sociedade civil.
De acordo com dados fornecidos pelo Fórum de Resistência, foram registrados 178 acidentes no mesmo período, só na unidade da CSN em Volta Redonda (RJ), localizada no Sul Fluminense.
No mês de outubro, em Volta Redonda, foram 16 acidentes, três deles considerados graves. No dia 7, dois trabalhadores da CBSI, empresa metalúrgica terceirizada que presta serviço para a CSN, foram soterrados. Eles estavam fazendo reparos setor do alto forno II e caíram dentro do silo que armazena escórias (restos).
No dia 21, uma telha teria se desprendido e caído sobre uma ponte rolante causando um curto circuito e, por consequência, uma explosão de um painel elétrico, dentro da Usina Presidente Vargas. Um metalúrgico foi levado para o hospital com queimaduras. E no dia 25, um funcionário teve a mão prensada entre cilindros em um dos setores da Gerência de Não Revestidos (GNR).
O mês de novembro também começou com acidentes. No dia 4, um vazamento de água no canal de escoamento de aço líquido na unidade de aciaria de aços longos causou queimaduras em quatro outros funcionários. Aciaria é o setor de uma usina siderúrgica onde existem máquinas e equipamentos voltados para o processo de transformar o ferro em diferentes tipos de aço.

Acidentes graves
Entre os 178 acidentes ocorridos esse ano, 22 resultaram em algum tipo de ferimento a trabalhadores. Foram quatro vítimas fatais, uma vítima com amputação de parte do pé e outra com sequela permanente por inalação de gás.
Em agosto, quatro trabalhadores sofreram uma intoxicação após um vazamento de gás no setor de aciaria da Usina Presidente Vargas. As causas do acidente não foram divulgadas. Um dos funcionários ficou com sequelas graves e hoje vive em “estado vegetativo”, segundo a família.
No entanto, o acidente mais grave esse ano aconteceu em março desse ano. Um incêndio no setor de zincagem provocou a morte de quatro funcionários: Wanderlei dos Santos, de 38 anos, Renan Martins, de 29, Dênis da Silva, de 37 e Aluênio Francisco Alves Gouveia, de 31 anos.

Investigação
Tantos acidentes levaram o Ministério Público Federal (MPF/RJ) a instaurar um inquérito, no dia 17 de outubro, para acompanhar a fiscalização realizada pelo Ministério do Trabalho e pela Previdência Social. “A apuração visa identificar as causas dos acidentes e determinar a correção das irregularidades encontradas, com o objetivo de tornar o ambiente de trabalho mais seguro e salubre”, informou o MPF, através de uma nota da sua assessoria de comunicação.
Segundo o procurador federal que acompanha o caso, Júlio Araújo, o aumento de acidentes e a dificuldade em obter informação da empresa chamou a atenção do MPF, que decidiu entrar no caso. “Viemos dar um reforço ao trabalho que já vinha sendo desenvolvido pelo Ministério Público do Trabalho, que tenta apurar as causas dos acidentes e tomar medidas preventivas para novos casos não aconteçam mais”, ressalta o procurador.
Para discutir esses e outros temas relacionados a CSN que o MPF realizou uma audiência pública no mês de novembro onde estavam presentes os representantes da CSN, Fórum de Resistência, funcionários e ex-funcionários, assim como o Sindicato dos Metalúrgicos do Sul Fluminense e representantes da sociedade civil organizada. As informações relatadas na audiência vão integrar o processo de investigação contra a CSN.