Ocupação Gregório Bezerra na luta por moradia em Fortaleza

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Na madrugada do dia 25 de setembro, 80 famílias ocuparam um pedaço de terra no bairro Conjunto Ceará, em Fortaleza, e de lá pra cá o movimento tem sido um verdadeiro exemplo de organização de poder popular na periferia da capital cearense. A ocupação, que já havia sido realizada no mesmo local e por vezes desocupada pela repressão, foi agora encabeçada pelo núcleo de luta por moradia da Unidade Classista.

Inicialmente, a Ocupação foi organizada a partir da construção de um grande barracão abrigando as famílias e servindo de local para convivência coletiva, até que estivessem dadas as condições necessárias para construir os barracos individuais, garantindo melhor organicidade  ao  movimento e resistência diante das possíveis repressões.

Apesar de localizado num bairro da periferia, a Ocupação sofre bastante resistência dos moradores vizinhos, acostumados ao discurso hegemônico da sociedade, passando a tratar o movimento de forma negativa, principalmente em redes sociais, com ameaças de despejo e até incentivando a prática de crimes de ódio.

Batizada de Gregório Bezerra, histórico militante comunista da luta pela terra, a Ocupação resgata a história do movimento operário brasileiro, apagada pelo discurso ideológico da burguesia, cuja visão é reforçada pelas ações das autoridades, quando batizam ruas e prédios públicos com nomes de pessoas ligadas às classes dominantes, atitude muito comum no período da Ditadura Militar. Na Ocupação, na contracorrente das práticas elitistas, as ruas foram batizadas com nomes representativos das lutas populares, como Olga Benário e Minervino de Oliveira.

À medida em que a Ocupação cresce de forma organizada, tem chamado a atenção de muitos outros trabalhadores que chegam aos poucos, interessados em lutar por um pedaço de terra numa das capitais com maior desigualdade social do país. Cansados de pagar aluguel, os trabalhadores chegam ajudando com o que podem, dividindo-se nas tarefas da cozinha, segurança, cultura, construção dos barracos. Periodicamente, para encaminhar atividades e os próximos passos do movimento, são realizadas assembleias que chegam a contar com mais de cem pessoas. Prestando solidariedade ao movimento, comparecem militantes das organizações sindicais e populares e dos partidos da esquerda socialista, como o PCB e o PSOL.

Cícera Cenila, massagista, avalia a Ocupação de forma muito positiva. Vinda da luta por reforma agrária, ela afirma que se preocupa muito com a luta e com a organização da Ocupação. “Eu tô gostando daqui”, afirma. Osmarina Evangelista é doméstica e tem participado do movimento, pois para ela “é muito difícil dormir e acordar pensando em aluguel, muitos deixam de comer pra pagar”. Agora com cerca de 150 famílias, Jefferson Ferreira, da coordenação do núcleo de moradia da Unidade Classista, afirma que a Ocupação tem a tarefa de resistir até que as moradias sejam garantidas, acumulando forças para ir às ruas e negociar com o poder público.

Todavia, na manhã do dia 11 de novembro, enquanto o centro de Fortaleza fervilhava com os atos e protestos contra a PEC 55 que tramita no Senado, o Grupo de Trabalho para Ocupações Irregulares da Prefeitura de Fortaleza (GTOI), sem nenhum mandado judicial, apoiado pela Tropa de Choque da Guarda Municipal e pela Polícia Militar Ambiental, ambas portanto armamento letal, chegaram de forma truculenta na Ocupação , acordando a todos e ordenando que retirassem seus pertences em dez minutos, enquanto dois tratores começavam a destruir tudo que encontravam pela frente, passando por cima dos barracos.

A Secretaria da Regional V da Prefeitura de Fortaleza, responsável pelo terreno, alegou que o local é área verde – apesar de haver propriedades privadas ao redor – e afirmando que quem precisa de moradia deve se cadastrar nos programas de habitação do Habitafor , órgão gerenciado politicamente pelo trânsfuga PCdoB, que nas últimas eleições municipais manteve aliança com o prefeito Roberto Cláudio (PDT).
No mesmo dia, uma Comissão da Ocupação f o i recebida pelo Secretário da Regional V, que autorizou o levantamento de uma lona para as famílias se abrigarem temporariamente. À noite, o movimento realizou mais uma assembleia, decidindo manter a Ocupação e iniciando a construção de um grande barracão para permanecer no local até a abertura de negociações com o prefeito Roberto Cláudio. Enquanto isso, os trabalhadores da Ocupação Gregório Bezerra afirmam: “Não vamos deixar de ocupar até conquistar nossas moradias!”

A OCUPAÇÃO GREGÓRIO BEZERRA RESISTE!!

Extraído de: Jornal O Poder Popular, Edição 16, Dezembro de 2016, página 12.