Argentina: Jornada Nacional de Protestos contra o ajuste neoliberal
Resumen Latinoamericano
Nas primeiras horas da manhã de 24 de setembro, milhares de manifestantes de um amplo arco de unidade de organizações sociais foram bloqueados pelas forças de segurança nacionais durante mais de três horas de muita tensão, ao pé da Ponte Pueyrredón, para impedir que fosse realizado um ato prévio à marcha até a Praça de Maio. Trata-se de um espaço emblemático das lutas populares, de recordação dos assassinatos, em junho de 2002, de Maximiliano Kosteki e Darío Santillán, pelas mãos da polícia de Buenos Aires, comandada na época por Eduardo Duhalde, quando as políticas de fome dos governos neoliberais obrigavam a lutar nas ruas contra o ajuste e a injustiça. (VER http://www.
Hoje as políticas do governo de Mauricio Macri também obrigam a@s trabalhador@s a resistir nas ruas e, nesse marco, a Jornada Nacional de Resistência, com greve geral, encontrou-se com meio milhão de manifestantes no centro portenho e outros milhares em centenas de atos no interior do país.
No ato central, na Praça de Maio, Esteban “Gringo” Castro, Secretário Geral da Confederação de Trabalhadores da Economia Popular, CTEP, contou a difícil situação pela que atravessam os trabalhadores do setor, muitas vezes obrigados a mendigar como se tivessem alguma culpa. “Perdão tem que pedir este governo por levar à miséria a tantos irmãos e irmãs da nossa Pátria”, e lembrou que, tão logo ocorreram las marchas de resistência de dezembro de 2017, “o governo deixou cair a máscara e decidiu converter o ajuste em saque”. Narrou como em Moreno, a partir da morte de uma vice diretora e um auxiliar de uma escola deste distrito, Sandra Calamano e Rubén Rodríguez, por negligência do governo de María Eugenia Vidal, organizou-se toda a comunidade educativa, unindo diferentes setores, para que as verbas da educação cheguem realmente às escolas. (VER http://www.
Enquanto o presidente da Argentina, Mauricio Macri, se encontra em visita a Nova York, Estados Unidos, para assistir à Assembleia da Organização das Nações Unidas (ONU), ou, nas palavras de Hugo Yasky, Secretário Geral da Central de Trabalhadores da Argentina (CTA): “enquanto Macri nos EUA vende a Argentina e toda a região como seu fundo de quintal, esta é a região de San Martín, Bolívar, dos heróis da Independência, e não vamos aceitar voltar a ser colônia, tampouco vão nos entregar como um butim de guerra”. Também recordou os últimos 70 anos de avanços e conquistas de direitos trabalhistas, direitos humanos, de governos com justiça social como o de Perón e de Evita, do crescimento do movimento sindical, “isso não se entrega, isso não se dá de presente, isso se defende de pé”. Além disso, enfatizou que, “assim como o fizemos depois da última ditadura genocida, do desastre do neoliberalismo dos anos 90, o povo volta a agir, porque quando o povo retorna à cena, se constrói a esperança, nossos filhos sabem que sua vida pode mudar para melhor, quando o povo retorna, sabem que temos a possibilidade de terminar com a desigualdade e a injustiça”.
De igual modo Pablo Micheli, Secretário Geral da CTA Autônoma, explicou que as “famílias argentinas não sabem como fazer para pagar as tarifas de água e de luz, como dar de comer a seus filhos, como ter uma vida digna, enquanto o governo só pensa na reeleição de Macri”. Complementou que “não é certo que o único que podemos fazer é aceitar o Fundo Monetário Internacional (FMI). Nosso futuro não está na especulação, esse é o caminho dos vagabundos que nos governam. Estamos diante de um governo que não vai duvidar em nos reprimir. Temos que fazer todos as greves que sejam necessárias para derrubar este modelo econômico ou fazer cair este governo. Com unidade não vão nos derrotar”.
Logo após a leitura de uma carta enviada por Milagro Sala, a dirigente da organização Tupac Amaru, que está injustamente detida na Província de Jujuy há dois anos, Sergio Palazzo, Secretário Geral de La Bancaria, disse que, “os rostos de angústia e de desespero dos trabalhadores que não sabem se vão receber o salário para levar o prato de comida a sua família nos trinta dias do mês, os rostos das companheiras que, produto das políticas excludentes de gênero saem todos os dias e se convertem em chefes de casa, as caras dos jubilados que veem como uma vez mais arremetem contra seus direitos podando seu poder adquisitivo, os rostos dos companheiros com capacidades diferentes que veem como lhes retiram as pensões e os remédios, e os rostos de angústia e desespero dos filhos da pobreza que, no lugar de gozar sua infância ou estar estudando, estão entregando uma propaganda por uma moeda. Esses rostos são os que nos exigem mobilizar-nos pela unidade do movimento operário e lutar para dar esta batalha final contra este processo que leva adiante a direita na Argentina”. Diante das últimas prisões de várias e vários dirigentes sociais, explicou que, “não buscam encarcerar dirigentes. Na realidade buscam encarcerar as políticas de inclusão, de participação e de integração que desenvolveram os governos populares”.
A seu tempo Juan Carlos Alderete da Corrente Classista e Combativa (CCC), chamou à desobediência civil diante dos cortes dos serviços de luz e de gás das famílias pobres, que devem optar por ter estes serviços ou comer, “as tarifas têm que ser de acordo com nossa renda, quando nos cortam [os serviços] nãos temos que voltar a pagar, porque violência é não poder comer”.
Também Daniel Menendéz chamou à reflexão ao governo nacional e à ministra da Segurança da Nação, Patricia Bullrich, para que deixem de utilizar as forças repressivas para calar os protestos d@s trabajador@s, “no pouco tempo que lhes falta para que saiam pelo voto popular, o governo tem que garantir a paz social, evitando que haja crianças com fome nos nossos bairros, num país que produze alimentos para 40 milhões de pessoas.”
Sonia Alesso, Secretária Geral da Central de Trabalhadores da Educação da República Argentina, CTERA, encerrou a jornada de luta e recordou que “estamos aqui para dizer a Macri não ao ajuste, não á fome, não aos descamisados”. Também explicou que a detenção, pelas forças de segurança de vários dirigentes dias atrás, sucedeu porque querem evitar a solidariedade da classe trabalhadora. “Querem um povo submisso, ajoelhado, querem que não nos preocupemos com as panelas vazias, querem que as professoras não se juntem com os sindicatos e se ponham à frente das lutas, querem um sindicalismo débil. Os que mais sofrem são os filhos do nosso povo”. Por isso exigimos que os legisladores não votem o projeto de ajuste que o governo nacional apresentou para o ano de 2019.