REABERTURA DAS ESCOLAS: O INTERESSE DE POUCOS CONTRA A VIDA DE MUITOS
A autorização para o retorno às aulas presenciais no Estado de São Paulo, tanto na rede pública quanto na rede privada, escancararam, mais uma vez, as desigualdades que atravessam a sociedade brasileira e, consequentemente, o sistema educacional. Além das óbvias diferenças entre as escolas públicas e particulares, é possível notar uma clara diferença também entre as escolas privadas.
O processo de reabertura das escolas tem como premissa a adoção de uma série de protocolos de segurança. No entanto, ao se observar cuidadosamente estes protocolos, podemos perceber dois grandes problemas. O primeiro é que as medidas de seguranças apontadas como mínimas necessárias para a reabertura das escolas ainda é insuficiente diante da facilidade de propagação do coronavírus. Como vimos ao longo dos últimos meses, a Covid-19 se alastrou muito rapidamente pelo mundo, entre outros motivos, por sua transmissão se dar pela dispersão do vírus pelo ar. Nesse sentido, muito embora o uso de máscaras e higienização constante das mãos contribuam na prevenção, não são garantia de contenção da contaminação.
Desta forma, a reabertura das escolas pode propiciar uma nova onda de contaminações, seja ao promover a circulação e aglomeração de pessoas nos estabelecimentos de ensino, seja ao aumentar a exposição de professores, estudantes e funcionários que precisarão se deslocar de casa até as escolas. Ademais, considerando a possibilidade de flexibilização dos cuidados por parte dos envolvidos que já foram contaminados, ou mesmo o estímulo à contaminação por pessoas que se entendem fora do grupo de risco, sobretudo com a ideia aventada de implementação do questionável “passaporte Covid”, devemos lembrar que as pesquisas sobre possíveis reinfecções estão em andamento e ainda são inconclusivas, de sorte que as incertezas sobre a natureza da contaminação continuam.
Outro grande problema que a autorização para a reabertura e retomada das atividades escolares presenciais escancara é a discrepância entre as instituições de Ensino Privado. Enquanto algumas escolas de elite, com mensalidades exorbitantes, buscam ampliar seus protocolos de segurança, como a garantia de poucos estudantes por vez, contratação de mais professores para garantir o atendimento dos alunos no ensino híbrido (parte presencial, parte remoto), fornecimento de equipamentos de segurança (face shield, máscaras, termômetros), testagem constante de estudantes e funcionários, criação de estruturas abertas e até a aquisição de bolhas para manter o isolamento dos estudantes, a imensa maioria das escolas privadas não possuem condições de propor protocolos de segurança além do mínimo apontado pelas autoridades estaduais e municipais.
As escolas pequenas, “de bairro”, que em pouco se diferem das escolas públicas (algumas possuem estruturas até piores que muitas escolas públicas), não têm possibilidade de oferecer, de fato, segurança para alunos, professores e funcionários. Desta forma, a responsabilidade pela segurança recairá, mais uma vez, sobre os indivíduos. Além disso, as escolas de pequeno porte não apresentam estrutura e recursos necessários para a manutenção de um ensino híbrido sem que isso signifique a sobrecarga de trabalho para os professores e funcionários
A MENTIRA DO ACOLHIMENTO EMOCIONAL E DA PREOCUPAÇÃO PEDAGÓGICA
Um dos principais argumentos do governo do Estado de São Paulo, das prefeituras e, especialmente, dos empresários da educação para a reabertura das escolas era a necessidade de oferecer aos estudantes acolhimento emocional e reduzir os possíveis prejuízos pedagógicos do longo período de isolamento social e de ensino remoto. No entanto, está mais do que claro que tais preocupações não passam de falácias daqueles que estão interessados exclusivamente nos lucros do mercado educacional.
Desde o início da pandemia, a intenção em manter os níveis de lucratividade do ensino privado se mostrou latente nas práticas adotadas pelas escolas e faculdades em todo o país. Superexploração do trabalho de professores, aumento de jornada de trabalho, redução de salários, transferência de responsabilidades de diferentes ordens para o corpo docente (incluindo os custos de energia, internet e equipamentos, além do próprio adoecimento físico e mental), para a equipe de apoio pedagógico (agora também equipe de apoio sanitário com as novas demandas, tais como medição de temperatura, controle de fluxo e limpezas redobradas) e para as famílias (escolas e Estado buscando se desresponsabilizar por eventuais contaminações dos estudantes), assédio moral, imposição oportunista de aditivos de contrato de teletrabalho, improviso de ferramentas e metodologias de ensino remoto e demissões marcaram este período, conforme a Unidade Classista denunciou ao longo dos meses. Em nenhum momento houve, por parte dos donos de escolas e faculdades (muitas vezes vinculadas a grandes corporações com capital estrangeiro) uma preocupação verdadeira em relação ao acolhimento emocional e às questões pedagógicas.
O retorno precipitado das aulas presenciais durante a pandemia pode significar, na verdade, um efetivo retrocesso, sobretudo nas questões pedagógicas e emocionais, pois se houver novas ondas de contaminação, mais cedo ou mais tarde, novas medidas de isolamento serão tomadas e o ensino presencial precisará ser suspenso novamente. A experiência de outros países e estados brasileiros já indica que a reabertura de escolas contribuiu para o crescimento no número de casos e mortes pela Covid-19. França, Itália, Espanha e Inglaterra se veem hoje obrigadas a tomar medidas de isolamento e o fechamento de estabelecimentos de ensino para conter o novo avanço do coronavírus. Os Estados Unidos, por sua vez, vêm registrando novos recordes diários de contaminação por coronavírus naquilo que os especialistas denominam de “segunda onda” da pandemia, fenômeno que já atinge a Europa. Aqui no Brasil, o estado do Amazonas tomou medidas de flexibilização da quarentena de forma prematura, inclusive promovendo a reabertura das escolas quando os casos da doença permaneciam altos. O resultado foi desastroso e hoje o Amazonas é um dos estados brasileiros que mantém níveis crescentes de contaminação e mortes pela Covid-19.
Cabe destacar, por fim, que em época de eleições toda desconfiança é pouca em relação aos dados epidemiológicos publicizados pelos governos locais e regionais. Certamente a última notícia que certos governantes gostariam de ver circulando neste momento é que a pandemia ainda não está sob controle, muito pelo contrário. Não podemos permitir que, em nome do lucro e de interesses eleitoreiros, a reabertura das escolas promova um verdadeiro massacre na população. Retomar as atividades presenciais enquanto durar a pandemia ou enquanto não houver vacina eficaz distribuída massivamente à população é uma medida perigosa e precisa ser combatida.
EM DEFESA DA VIDA! CONTRA A REABERTURA DAS ESCOLAS ENQUANTO DURAR A PANDEMIA!
PELA PROTEÇÃO DOS TRABALHADORES DA EDUCAÇÃO E DE ESTUDANTES COM MEDIDAS EFICAZES DE ISOLAMENTO!
POR CONDIÇÕES DE TRABALHO DIGNAS AOS PROFESSORES E FUNCIONÁRIOS NO ENSINO REMOTO!
CONTRA TODA FORMA DE TRANSFERÊNCIA DE RESPONSABILIDADES DOS PREJUÍZOS PEDAGÓGICOS E EMOCIONAIS PARA OS TRABALHADORES DA EDUCAÇÃO!