Crianças no trabalho e na chefia dos lares

O Globo

São mais de 130 mil, de 10 a 14 anos, que respondem pela casa

Recife e RIO Com o pai preso e a mãe dona de casa (com três outros filhos para cuidar), Jenson da Cruz Menezes, de 11 anos, tem responsabilidade: é do seu trabalho que depende a família, que reside em um barraco no bairro do Coque. Ele não tem feriado nem domingo, e passa as manhãs em um cruzamento no bairro de Ilha do Leite, perto do centro de Recife, onde vive de vender pipocas. Seu objetivo é vender pelo menos cem saquinhos por dia, mas basta uma chuva forte, para estragar os R$ 50 almejados como renda diária da família.

– Tirando o que gasto comprando, esse dinheiro fica bem menor – diz o menino, que estuda à tarde e ainda ajuda na tarefa dos irmãos menores, porque a mãe é analfabeta e se diz sem condições de ajudar nas lições dos filhos. Sem Bolsa Família, ela vende a mesma mercadoria nos sinais, mas admite que é do menino que vem a maior parte do dinheiro da família. Cada saquinho de pipoca é vendido por R$ 0,50.

Ajuda a irmãos nos deveres

Essa realidade de ter o sustento da casa nas mãos de crianças é a mesma de 131 mil famílias no país, segundo o Censo Demográfico de 2010. De 15 a 19 anos, são 661 mil adolescentes e jovens responsáveis pela família.

– Meu pai está preso porque matou muita gente e preciso de dinheiro para comer – diz ele, com franca simplicidade.

A mãe, Vera Cruz de Menezes, tem mais três filhos (de 8, 5 e 3 anos), dois dos quais estão na escola. Mas afirma que Jenson é o orgulho da família:

– O menino é muito estudioso, não precisa de adulto para ensinar ele, não. E ainda ensina os menores.

Mesmo trabalhando, Jenson consegue frequentar a escola. Está na sexta série.

Elisabete Bilac, socióloga da Unicamp, diz que esse tipo de chefia familiar expõe a importância de se atacar o trabalho infantil no país.