Corte de ponto não inibe grevista
O Globo
Apesar de endurecer o discurso, governo não consegue volta ao trabalho de servidores
O Palácio do Planalto endureceu o discurso, cortou o ponto de 11,4 mil servidores federais, ameaçou punir de forma exemplar agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e não aceita negociar reajustes acima da proposta de 15,8%, em três anos. Mesmo assim, a adesão à greve no setor público aumentou ontem em todo o Brasil, sobretudo entre as chamadas carreiras de Estado. Elite do funcionalismo, os analistas tributários da Receita Federal realizaram uma paralisação de 24 horas em todo o país e prejudicaram serviços como a conferência de bagagens e mercadorias em portos e aeroportos e os centros de atendimento ao contribuinte. No fim da tarde, em mais um dia de protestos, servidores do Judiciário entraram em confronto com a Polícia Militar.
Os grevistas faziam manifestação na frente do Supremo Tribunal Federal, na Praça dos Três Poderes, e avançaram em direção ao Palácio do Planalto, derrubando grades de ferro que bloqueavam o caminho. Policiais revidaram com golpes de cassetete e spray de pimenta. De uma janela do Palácio, no gabinete do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, acompanhou a confusão. Um dos diretores do Sindjus (Sindicato dos Servidores do Judiciário), Cledo Vieira, informou que alguns manifestantes ficaram feridos, mas não gravemente. Outro chegou a ser detido e depois liberado, segundo Vieira. A tropa de choque foi acionada. Servidores do STF aderiram à greve e querem 56% de aumento.
O presidente da Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF), Pedro Cavalcanti, disse que, até sábado, os agentes em todo o Brasil entrarão em greve. Ontem, eles cruzaram os braços no Distrito Federal, o que elevou para 13 o número de unidades da federação afetadas. Parados desde segunda-feira, os policiais querem equiparação com os agentes da Polícia Federal – o salário inicial iria de R$ 5,8 mil para R$ 7,5 mil. Cavalcanti participou de reunião com o secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça, que colocou na mesa a mesma proposta de 15,8%.
– Como não houve acordo, nosso calendário continua – afirmou.
Em São Paulo, protesto da categoria hoje marca o início da greve no estado. Apenas serviços essenciais como atendimento a acidentes com feridos e vítimas, ou que ofereçam riscos aos demais usuários das rodovias serão prestados. Outros serviços, como o registro dos acidentes nos boletins de ocorrência, ou recursos contra multas serão suspensos.
– A proposta de aumento de 15,8% feita pelo governo, diluída em três anos, terá um impacto médio de apenas R$ 250 no salário do policial rodoviário – diz Marcos Kadur Rosa Pires, coordenador de relações do trabalho da Federação Nacional dos Policiais Rodoviários Federais (FenaPRF).
Já os agentes da PF aprovaram a continuidade da greve iniciada em 7 de agosto. Os policiais federais também mantêm o efetivo mínimo de 30% nos portos e aeroportos.
Os auditores fiscais, por sua vez, chegaram ao segundo dia de paralisação na zona secundária, onde realizam atividades como o acompanhamento das declarações de Imposto de Renda. Nas contas de Pedro Delarue, presidente do sindicato da categoria, o Sindifisco, o protesto teve adesão de 80% dos servidores. Ele avisou que os auditores vão voltar a cruzar os braços nos dias 28 e 29 de agosto. Em busca de um aumento de 30,18%, os auditores mantêm a operação-padrão nos portos há dois meses e sete dias, com retenção de cargas.
– Fizemos assembleias e, em 99% dos casos, estamos decidindo pela rejeição da proposta. Vamos pedir uma reunião com o governo para sábado pra voltar a conversar – afirmou Delarue.
Só uma categoria fechou acordo
Em greve desde quarta-feira, os servidores do Itamaraty informaram que 39 representações diplomáticas brasileiras no exterior já estão paralisadas, incluindo embaixadas como as de Berlim, Moscou, Buenos Aires e Londres e consulados como os de Roma, São Francisco e Madri. A sede do Ministério das Relações Exteriores (MRE) em Brasília e os escritórios de representação de São Paulo, Rio de Janeiro e Curitiba também foram afetados.
Até agora, apenas os servidores técnico-administrativos das universidades federais fecharam acordo com base nesse índice. Ontem, o Sinasefe, sindicato que representa docentes e técnicos dos institutos federais, aceitou a proposta relativa aos servidores, condicionando o aval a modificações pontuais na parte referente aos professores. As alterações reivindicadas pelo Sinasefe, porém, não implicam aumento de gastos do governo com o reajuste dos docentes, fixado em R$ 4,2 bilhões anuais, a partir de 2015.
No Rio, por volta das 17h, cerca de 70 alunos da Universidade Estadual do Rio de Janeiro (Uerj) fecharam parte da Radial Oeste, no Maracanã, por cerca de uma hora. O protesto terminou com a entrada de agentes do Batalhão de Choque da Polícia Militar no campus. O estudantes acusam os policiais de usarem gás de pimenta contra estudantes e professores que ocuparam o bandejão do campus.