Desmonte do BB prejudica bancários, clientes e prepara a privatização

01/12/2016

Ney Nunes*

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O Banco do Brasil, dia 20/11, anunciou um plano de reestruturação e de incentivo à aposentadoria. O primeiro implica no fechamento de 402 agências, a transformação de outras 370 em pequenos postos de atendimento, a desativação de setores administrativos, redução de jornada e salários para muitas funções e a extinção de 9.200 postos de trabalho. O plano de incentivo a aposentadoria tem como meta o desligamento de funcionários já aposentados ou em condições de requerer aposentadoria, o detalhe, é que não haverá substituição dos que saírem.

As consequências de mais essa reestruturação sobre aqueles que vão permanecer no Banco serão funestas: perda de função comissionada (redução salarial), redução de jornada (redução salarial), transferências forçadas devido ao fechamento de centenas de unidades do Banco, além da inevitável sobrecarga de trabalho com a redução do quadro de funcionários. A incerteza é enorme, muitos, além da perda salarial, ainda poderão ser obrigados a mudar de cidade ou região. Se esta dinâmica não for barrada, o próximo passo será um PDV, aproveitando-se do desespero daqueles que estão sendo prejudicados agora.

Nos últimos dez anos o BB, assim como os demais bancos, obtiveram lucros exorbitantes. Foram favorecidos por uma política econômica que privilegia o pagamento da dívida interna, mantém os juros altos e utiliza a expansão do crédito para alavancar o consumo. Ao primeiro sinal de crise o fardo é jogado nas costas dos trabalhadores, vejam que o BB, Itaú, Bradesco e Santander lucraram mais de 25 bilhões no primeiro semestre de 2016, lucratividade enorme levando em conta que nesse mesmo período muitas empresas estão operando no vermelho ou mesmo indo à falência.

O aumento da inadimplência que afeta o balanço dos Bancos em geral, consequência direta da recessão e do desemprego, no caso do BB e da Caixa têm um componente a mais, os investimentos e empréstimos bilionários em parceria com grandes empresários. No caso do Banco do Brasil a lista é extensa: Banco Votorantim, OI, Sete Brasil, PDG, além de outras. O Votorantim, de propriedade da família Ermírio de Moraes, teve metade das suas ações compradas pelo BB quando amargava pesados prejuízos. Somente a OI e a Sete Brasil devem juntas ao BB, o maior credor bancário delas, mais de oito bilhões de reais, valores que não serão mais integralmente recuperados, porque as negociações envolvem descontos de até 70% sobre o passivo dessas empresas.

Os avanços da terceirização e das parcerias com o Bradesco apontam para a privatização do BB, ou pelo menos, da sua parte lucrativa, deixando a fatia que não interessa ao mercado financeiro com o setor público. De forma simultânea a reestruturação foi anunciada mais uma associação com o Bradesco, agora através da criação de um novo banco focado no atendimento digital, o CBSS, com participação de 49,9% do BB. Essa política não é nova, vem desde o governo Lula e está sendo aprofundada e acelerada pelo governo Temer. Registre-se que o senhor Paulo Caffarelli, atual presidente do BB indicado por Temer, fazia parte da diretoria durante o governo anterior e participou da equipe econômica durante o segundo mandato da presidente Dilma.

Esses ataques não afetam apenas o funcionalismo do BB, o fechamento de agências significa a demissão de milhares de trabalhadores terceirizados das áreas de apoio, como limpeza, telefonia e segurança. Vão prejudicar o atendimento do público mais necessitado, principalmente das regiões mais afastadas e carentes. Acontecem num momento onde a crise capitalista afeta o Brasil em cheio, já são mais de doze milhões de desempregados, os municípios e estados falidos deixam de pagar os servidores e aposentados. Quando os governantes envolvidos até o pescoço nos escândalos de corrupção pretendem nos impor esse tal de “ajuste fiscal”, que, na verdade, é mais arrocho sobre o povo trabalhador. Querem roubar nosso direito à aposentadoria e arrebentar com as mínimas garantias trabalhistas.

Nada disso é inevitável, a organização, a unidade e a luta dos trabalhadores podem retificar o curso dessa História. Temos grandes obstáculos pela frente, a começar pela maioria dos sindicatos e federações da categoria bancária dominada pela CUT, CTB e a CONTEC, que nesses últimos anos praticaram a mais descarada conciliação de classes com os banqueiros e o governo. Levaram o sindicalismo bancário ao descrédito, afastando a categoria da participação e das decisões. Em pleno curso desses ataques esses pelegos resistem até mesmo a convocar assembleias para que os bancários possam se manifestar e apontar os caminhos da luta, como, por exemplo, a unidade com o pessoal da CAIXA afetado também por reestruturações.

Apesar disso tudo, no último dia 25, os funcionários do BB em muitas cidades foram trabalhar de luto, vestiram preto, boicotaram as festas de final de ano promovidas pelo banco, reuniões de mobilização foram realizadas e os ativistas e oposições sindicais pressionam as diretorias dos sindicatos pela convocação imediata de assembleias em todo o país. Essas assembleias devem ser o ponto de partida para uma grande campanha de mobilização contra esse plano de reestruturação, em defesa do funcionalismo, dos empregos e do papel de empresa pública do BB.

 

* Funcionário do BB e dirigente do PCB

 

DESMONTE DO BB PREJUDICA BANCÁRIOS, CLIENTES E PREPARA A PRIVATIZAÇÃO