Avaliação da Greve do CPERS

As lições da maior greve das últimas décadas

A greve do CPERS iniciou-se no dia 05 de setembro e foi encerrada no dia 08 de dezembro. Foram mais de 3 meses de luta ininterrupta contra os ataques do governo Sartori. O contexto histórico em que se desenvolveu nosso movimento grevista não poderia ser mais adverso, já que desde o golpe de 2016 vivemos sob ataques intensos e ininterruptos do governo Temer. Só para termos uma dimensão do terrível momento em que seu deu nossa greve, somente no segundo semestre deste ano os golpistas conseguiram aprovar a reforma trabalhista e estão prestes a votar a reforma da previdência antes que o ano acabe. Se isso se concretizar, será sem dúvidas o maior retrocesso social da história da nossa república.

Nosso combate não se deu somente contra os ataques do criminoso governador do nosso estado, como também contra toda uma onda de ataques ao conjunto dos trabalhadores do país. Nós que lutamos bravamente durante estes mais de 3 meses, fomos soldados em diversas trincheiras ao mesmo tempo, contra um inimigo poderosíssimo que cumpre ordens diretas do imperialismo internacional, que quer tomar conta de todas as riquezas do nosso país e nos deixar um lastro de miséria. Portanto, é preciso exaltar todos e todas que lutaram nessa greve, inclusive aqueles que não foram até o final dela. Nós cumprimos o nosso dever histórico! Não há motivo algum para que baixemos a cabeça na hora de retornar ao trabalho. Pelo contrário, se há alguém nesse estado do Rio Grande do Sul que pode andar de cabeça erguida nesse momento somos nós grevistas, que contra tudo e contra todos, travamos uma batalha pela dignidade de todo um país. Em um período em que baixar a cabeça e dizer amém para todos os absurdos que estão ocorrendo parece ser a regra, aqueles e aquelas que rompem com essa lógica e decidem rebelar-se, devem ser exaltados e recebidos como heróis no retorno das atividades nas escolas.

 

Por que não conseguimos derrotar o governo?

Esta é uma pergunta que muitos que participaram desta greve estão se fazendo. Afinal de contas, como uma greve que chegou a níveis históricos de adesão em todo o estado acabou desta forma, sem obter conquista concreta alguma, e com uma adesão bastante baixa nos últimos dias? Alguns, querendo manipular a categoria, respondem a esta pergunta colocando toda a culpa na intransigência do governo e na falta de firmeza dos e das colegas que voltaram a trabalhar antes do fim da greve. Entretanto, nós temos a obrigação de rebater esta inverdade.

Desde o início da greve nós vínhamos alertando para o fato de que a Direção Central, composta sobretudo pela CUT e CTB, dentre todas as pautas da nossa reivindicação, estava mais interessada em não diminuir a cedência de dirigentes para a direção central. Ou seja, dentre todas as terríveis ameaças que estávamos sofrendo, a grande preocupação da direção era não perder os seus cargos de liberação. Isso explica por que a direção tinha uma postura antes do governo aprovar a PL 148, que diminui as cedências, e outra após a aprovação da PL em outubro. A partir daquele momento, a Direção Central puxou o freio de mão e iniciou uma operação para desmobilizar a categoria, que estava resoluta em seguir na greve, pois sabia que haviam preocupações muito maiores para nós. Desde a segunda metade de outubro, começaram a aparecer discursos dos dirigentes alinhados com a direção central em todo o estado, tentando desanimar e desmobilizar a categoria.

Nós, da Unidade Classista, não temos nenhum receio em afirmar que a grande culpada pela nossa derrota foi a Direção Central, que não se comportou à altura do nosso movimento, não utilizou todas as armas contra o Sartori como a categoria desejava e novamente e, repetindo 2015, enterraram uma greve de grandes proporções.

 

A CUT e a CTB só pensam em uma coisa: eleições 2018

Outra razão pela qual a Direção Central não levou a nossa luta às últimas consequências, é o fato de que as duas principais forças que compõem a direção estadual (CUT e CTB), são dirigidas diretamente pelas cúpulas dos partidos à qual pertencem, respectivamente PT e PCdoB. Como todos nós podemos constatar com bastante nitidez, ambos partidos já estão com a campanha eleitoral de 2018. O engraçado, se não fosse trágico, é que os candidatos de ambos partidos já se pronunciaram favoráveis a alianças com o PMDB de Temer e Sartori. O fato é que, neste momento, somente interessa à direção central desgastar o governo Sartori. Aliás, aos partidos de oposição a Sartori, como o caso do PT, interessa inclusive que Sartori siga massacrando os servidores públicos do RS, pois isso aumenta claramente a impopularidade do governador e o enfraquece para a disputa eleitoral. A prática entreguista e eleitoreira dessas centrais não ocorre só no nosso sindicato. A nível nacional essas mesmas forças recuaram da luta cancelando a greve geral do dia 05/12 contra a reforma da previdência, mostrando claramente que não estão do nosso lado, e são sim lobos em pele de cordeiro (pelegos).

É preciso, entretanto, reconhecer que esse comportamento vergonhoso das direções da CUT e da CTB foi repudiado pela própria base dessas centrais que, em diversas regiões do estado, se manifestavam bravamente pela continuidade da nossa luta. Nós, da Unidade Classista, saudamos essa rebeldia das bases contra as direções entreguistas e desde já convocamos esses e essas valorosas companheiras de luta a romper definitivamente com suas direções e a construir um novo sindicalismo dentro do CPERS.

 

O sindicalismo de cúpula dentro do CPERS precisa acabar

Outro importante elemento a ser observado e a ser superado por nós militantes sindicais dentro do CPERS, é o sindicalismo personalista e de cúpula presente em diversas organizações dentro do nosso sindicato. E não são somente as organizações pertencentes à direção central, mas também algumas que se dizem pertencentes à oposição.

Quem participa do movimento sindical dentro do CPERS sabe que há uma tendência muito forte de reproduzir o personalismo de algumas lideranças, que tratam inclusive as suas bases como se fossem cordeiros. Nesta greve, entretanto, já notamos uma disposição dos colegas de diversas organizações a romper com essa lógica. Em muitos núcleos as bases desrespeitaram as “ordens” de suas direções e seguiram aquilo que a sua consciência estava apontando. Nós exaltamos amplamente essa consequente rebeldia de quem não aceita ser massa de manobra de direções que têm interesses obscuros e fazem acordos espúrios dentro do nosso sindicato.

 

Unidade Classista: uma alternativa concreta e coerente dentro do CPERS

A Unidade Classista está organizada já em várias cidades do RS e diversos núcleos do CPERS. Desde o início da greve, nós apontamos alguns eixos centrais da nossa luta: preconizamos a formação dos comitês de base por escolas, levantamos a bandeira do não encerramento do ano letivo, denunciamos a não existência do fundo de greve e o desrespeito da direção central a uma decisão de assembleia, abordamos a questão da Lei Kandir e do FUNDEB, realizamos uma consulta à categoria sobre as prioridades da nossa pauta de reivindicações e criamos os boletins de greve para dialogar e informar a categoria. Tudo isso foi fruto da nossa atuação coletiva nos núcleos do CPERS onde estamos presentes.

Nós não desejamos ser apenas uma organização para demarcar uma posição ideológica. Nós também fazemos o debate ideológico e compreendemos que ele é imprescindível. Entretanto, nós não acreditamos na prática da crítica pela crítica. Desde já, nos colocamos como uma alternativa concreta ao sindicalismo atual, através de uma atuação responsável, consequente e coerente, apontando caminhos e alternativas concretas para a categoria, sem cair no oportunismo de discursos vazios e desprovidos de qualquer possibilidade prática de implementação. Além disso, reconhecemos também a necessidade da autocrítica em nossa organização, para reparar os erros que certamente cometemos no caminho da nossa luta.

Nós, da Unidade Classista, atuamos dentro de uma realidade concreta. Essa realidade é que norteia as nossas ações dentro do nosso sindicato. Convocamos todos e todas que, durante este período de greve, se identificaram com nossas posições e ações, que foram críticas à direção central, como não poderiam deixar de ser, mas não caíram no oportunismo de oferecer ilusões à categoria. Daqui para frente, a Unidade Classista irá se colocar como uma alternativa real à direção central e às práticas entreguistas dessa direção. Nós iremos construir um movimento amplo nas escolas, formando e fortalecendo os comitês de base, para que a categoria trave a luta diariamente contra os abusos do governo, que ocorrem todos os dias na nossa jornada de trabalho, combatendo as pressões das CREs e das direções de escolas que atuam como agentes do governo.

Parabenizamos novamente a categoria que se levantou em luta. Somente a luta nos levará à vitória!

 

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