UC apoia de forma militante a CHAPA 2 – “ADUFG DOS PROFESSORES É MAIS ADUFG!”
UC-GO
A crise da expansão na UFG,
a greve e o movimento sindical
Desde a greve nacional de professores federais em 2012, um novo debate se fez necessário e é colocado na ordem do dia. A retomada do caráter combativo e classista das Associações Docentes do Ensino Superior.
É importante partirmos do quadro específico para o geral. Nesse sentido, precisamos considerar o processo de expansão da UFG nos marcos do REUNI, a entrada de novos professores e a ampliação de estudantes ao mesmo tempo em que houve estagnação na carreira e na composição salarial. O processo de expansão das IFES num quadro de acúmulo de perdas, tanto em termos salariais como na composição da carreira dos professores, associadas às políticas restritivas e de desestruturação (reestruturação vai apontar documentos do governo e análises de especialistas) que assolaram a Universidade Pública brasileira desde o final dos anos 1980 resultou na grande greve de 2012.
Os limites desse modelo de expansão do Ensino Superior refletiram também nas suas representações docentes. Na UFG, em Goiânia, as sucessivas direções da ADUFG nas últimas duas décadas desenvolveram um modelo de organização sindical multifacetado, com bases corporativistas, associacionista, de negócio e empresarial. A instalação de práticas antidemocráticas e a demarcação de uma direção patrimonialista do sindicato consolidou-se com o engajamento das forças políticas que a hegemonizam desde 1993 na tentativa de desmonte do ANDES-Sindicato Nacional, uma das maiores referencias do sindicalismo combativo e democrático da América Latina. Para isso colaboraram na criação de uma entidade refratária à democracia de base e ao sindicalismo vinculado às necessidades e interesses dos trabalhadores. Criaram o sindicalismo amarelo entre os docentes do ensino superior representado no Proifes. Mas, a faceta mais perversa da deformação deste importante organismo político-sindical dos trabalhadores da UFG que é a ADUFG tem sido a intensa despolitização do trabalho docente nesta universidade.
Nos campi do interior o quadro é um tanto diferente e suas contradições mais agudas. Ligados a um modelo de fundação acordada entre Universidade e prefeituras municipais (hoje Jataí, Catalão e Goiás), as formas de contratação, determinação de carreira e salários se consolidaram como um conflito entre as seções sindicais locais (AdCAJ e AdCAC) e os governos municipais. Esse modelo reflete uma das facetas de precarização do ensino superior e do trabalho dos seus docentes. Historicamente, essas seções sindicais tiveram como embate o poder público local, responsáveis – em grande parte – pelas folhas de pagamento e para a manutenção da estrutura da Universidade Federal de Goiás fora de sua sede, como parte do projeto de interiorização iniciado ainda no inicio dos anos 1980. Essa dependência do poder público local incorporou não apenas as relações locais de poder, mas também condicionou seu corpo docente a uma submissão à interesses particularistas e a (in)disposição dessas instâncias de investir em condições de trabalho e no desenvolvimento da própria carreira. Por um lado o alto custo no investimento desse nível educacional acabava por comprometer os investimentos em educação básica nesses municípios – e o cabide de empregos já não mais era atrativo e, por outro lado, a falta de projeto de integração e do papel da Universidade não estava nos planos tanto do poder público para além da utilização política.
Por quase duas décadas, as lutas dessas seções sindicais do Andes Sindicato Nacional tinham como horizonte, sobretudo, a necessidade de pressionar as prefeituras municipais locais para cumprir com seu compromisso com a folha de pagamento dos servidores ligados às fundações e prefeituras e cedidos à UFG. O processo de rompimento com essa herança cultural das reivindicações voltadas ainda ao poder público local, passaram a ganhar novos contornos a partir do final da primeira metade dos anos 2000, com o projeto de Expansão das Universidades Federais (2003) e do Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (Reuni) em 2007. Não foi por acaso que o movimento paredista em 2012 na UFG se iniciou nos campi do interior. Porém, diferentemente da ADUFG, a AdCAj e a AdCAC se mantiveram ombreados com o sindicalismo combativo e autônomo do ANDES-SN.
A mudança do cenário de lutas nas Universidades Federais, demonstra o modelo de expansão adotado pelo Estado brasileiro nos últimos 25 anos para o Ensino Superior: o caráter desigual e combinado para o seu desenvolvimento, baseado na expectativa de formar centros de excelência em espaços historicamente demarcados pelo interesse capital-trabalho acercados perifericamente por uma “educação terciária” precarizada, sem infra-estrutura básica necessária e pessoal para o desenvolvimento de suas atividades básicas no interior do Brasil.
E importante ressaltar que não apenas as condições materiais são alteradas e com ela o funcionamento das Universidades Federais, mas também o ser social correspondente a essa estrutura. O perfil do corpo docente das Universidades Federais também sofreu uma brusca alteração do ponto de vista histórico, político, econômico e social. Se nas décadas de 1970-80 e até meados dos anos 1990, havia neste espaço um debate sobre o caráter técnico-científico e político dessas instituições, nas duas décadas seguintes a Universidade e seu corpo docente ficaram condicionados a resultados imediatos e na inserção destas na competitividade desenfreada e busca à ranking de produtividade.
A greve nacional do magistério federal em 2012 fez expressar as contradições mais bruscas sobre o processo de desestruturação das condições de trabalho, carreira e salário do trabalho docente nas IFES associados ao modelo técnico-científico que intensifica e adoece seus trabalhadores. Como resultado desse processo tivemos uma das maiores e mais fortes greves do setor, com a adesão de parte significativa do funcionalismo público nas esferas federais, estaduais e municipais. Um movimento que marcou também a retomada das discussões não apenas do modelo de carreira desses segmentos, mas sobretudo do papel do Estado e seu progressivo desmonte que reflete uma sequência de políticas adotadas ainda no final dos anos 1990 e levada a cabo pelos sucessivos governos do PSDB e do PT (FHC, Lula e Dilma).
As eleições para a ADUFG e a necessidade reconstrução do sindicalismo autônomo, combativo e de classe
Durante essa greve a face burocrática, antidemocrática e manipuladora do grupo político que está à frente do sindicato da ADUFG (que perdura por duas décadas) foi um obstáculo para que os professores dessa universidade compreendessem melhor o cenário, se organizassem e lutassem naquela que foi a maior greve de universidades federais na história desse país. Desse processo, uma nova prática política se consolidou pela base, com amplos debates democráticos e com uma disposição de enfrentar a crise do ensino superior que redundou na greve e a crise interna da organização político-sindical de caráter corporativo da ADUFG.
Mesmo após a greve do setor, os movimentos sociais e populares, os sindicatos mais combativos, a juventude organizada e as forças partidárias de esquerda não apassivadas se mantiveram nas ruas. As pautas se ampliaram e o mote do “não vai ter copa” apresentou no cenário político a reorganização das demandas abandonadas em 64 por reformas de base no país. Nesse sentido, a denúncia das ruas estavam associadas à luta pela qualidade e publicização do transporte, mas também pela não criminalização da pobreza e dos movimentos sociais, pela desmilitarização da polícia, por patamares qualitativamente elevados de saúde e pela educação gratuita e pública. No interior das bandeiras de reformas de base esteve presente o germe de que sob o capitalismo tais demandas não se efetivam e que é preciso construir o poder popular pelas forças do trabalho junto com a juventude e os movimentos populares;
Em 2014 a Universidade começa novamente a se mover. A greve dos servidores técnico-administrativos instaurada em março e a busca de interlocução do sindicato nacional para reabrir a mesa de negociação com o MEC em razão de pautas não superadas da greve de 2012 estão em pleno processo. E no interior desse quadro a direção da ADUFG está silenciada vendo a história passar a nossa frente;
A democratização do Ensino Superior e a sua qualidade passa por uma organização político-sindical forte, combativa e próxima das demandas e bandeiras populares. Além da necessária mobilização dos docentes em torno de suas pautas e demandas de carreira, salário e condições de trabalho, é preciso também articular os trabalhadores da instituição e sua juventude em torno de um projeto de formação, ciência, tecnologia e cultura, enfim, de uma universidade compatível com as demandas e os desafios do povo trabalhador brasileiro.
A conjuntura histórica abriu um cenário em que é possível vislumbrar uma renovação do sindicalismo docente na UFG. A disposição de luta e de engajamento dos novos professores e as demandas latentes no cotidiano do trabalho dos professores dessa Universidade a respeito das precarizadas e precarizantes condições de trabalho em muitas unidades, da intensificação do trabalho por meio da indução produtivista em meio à ampliação vertiginosa do número de estudantes, cursos e tarefas administrativo-burocráticas e do desmonte da carreira no ensino superior (uma das carreiras mais mal remuneradas do serviço público federal) exige um novo e combativo sindicalismo. Um sindicalismo que faça o debate, que atue sobre as demandas concretas dos seus trabalhadores e que tenha disposição para articular o diálogo entre a Universidade e as necessidades mais candentes do povo brasileiro.
A construção desse novo projeto de universidade passa também pela crítica do papel do Estado e de suas estruturas de poder. A construção de uma universidade popular é um processo que coloca a necessidade de construção do poder popular a partir da articulação conjunta entre estudantes e trabalhadores (do campo e da cidade) e da retomada das lutas sociais, rompendo o paradigma da precarização e do assalariamento do atual momento do desenvolvimento do modo de produção capitalista.
Nossa tarefa, como professores e professoras, é retomar as lutas a partir de nossos locais de trabalho e estudo, na reconstrução dos sindicatos de docentes (ensino da educação básica ao superior).
Para a Unidade Classista essa é uma tarefa fundamental e um dos seus maiores desafios, participar ativamente da reconstrução pela base dos sindicatos docentes do ensino superior em Goiás, compreendendo o modelo de universidade que temos, o perfil atual de seu corpo docente e trazendo ao debate a rearticulação entre AdCAJ, AdCAC e ADUFG e a inserção dessas entidades na construção e um projeto de sociedade e universidade popular que queremos. O desafio de construir a disputa pelo projeto de universidade é a tarefa de constituir uma universidade popular. Isso exige um sindicato de professores forte e combativo.
CRIAR, CRIAR, PODER POPULAR!
Profº Hugo Leonardo Silva – Faculdade de Educação Física
Profº Fernando Santos – Campus Jataí/AdCAJ
Profº Jamesson Buarque – Faculdade de Letras
Profª Julia Izabelle – CEPAE/UFG