UBS planeja cortar 10 mil empregos

Valor Econômico

O UBS, maior banco da Suíça, vai eliminar até 10 mil empregos por causa da redução dos negócios com títulos, segundo informou uma pessoa a par do tema. Muitas das demissões ocorrerão nas operações supervisionadas por Carsten Kengeter, presidente adjunto da unidade de banco de investimentos do UBS, e provavelmente serão efetivadas ao longo de vários trimestres. O banco pode fazer um pronunciamento a respeito na terça-feira, quando anunciará os resultados do terceiro trimestre.

O presidente-executivo Sergio Ermotti, 52, está reestruturando o banco depois que as autoridades reguladoras suíças passaram a pressionar o UBS e o Crédit Suisse para que reforcem o capital e reduzam as operações com títulos e banco de investimentos. Assim como corretoras de valores concorrentes, o UBS vem lutando para melhorar sua lucratividade, uma vez que a atividade dos clientes e os negócios com títulos continuam fracos.

“Foi um jogo perdido para eles”, diz Terry Connelly, ex-reitor da Ageno School of Business da Golden Gate University de San Francisco e ex-diretor administrativo do Salomon Brothers. “Foi culpa deles, que simplesmente tentaram escalar a montanha errada.” Os altos custos fixos e a demanda fraca tornaram difícil ser lucrativo e o setor terá de encolher mais.

Ermotti disse este mês ao seu staff, em um memorando, que vai fazer o que for preciso para “enfrentar o ambiente de mercado difícil e a mudança de paradigma” no setor bancário, e que continuará “remodelando” o UBS. Ele disse em julho que o cenário mudou completamente desde que a instituição anunciou planos de reorganização para a sua corretora de valores em novembro.

“O UBS é um microcosmo para o setor”, afirma Mark Williams, professor da faculdade de administração da Boston University. “O modelo de negócios do setor bancário está mudando e precisamos olhar para a estrutura de custos, precisamos olhar para a remuneração e precisamos de um reajuste.”

O banco tinha cerca de 63.250 funcionários em 30 de junho, segundo o relatório financeiro mais recente, o que significa que o corte poderá chegar a 16% da folha de pagamento. O UBS já anunciou que está reduzindo os ativos ponderados pelo risco no banco de investimento em mais da metade, em relação aos níveis de setembro de 2011, principalmente na área de renda fixa.

O plano levará a uma redução adicional de até 100 bilhões de francos suíços (US$ 107 bilhões) nos ativos ponderados pelo risco, segundo disse a fonte. Grande parte das operações de renda fixa será alocada para uma nova unidade que cuidará de ativos considerados não essenciais, e Kengeter provavelmente deixará a atual função para comandar a nova unidade.

As operações restantes do banco de investimentos incluirão uma unidade de consultoria enxugada, negócios com ações e análises, câmbio, negócios com títulos soberanos, crédito limitado e negócios com bônus corporativos, segundo a fonte. As exigências de capital pelas autoridades reguladoras suíças, que estão entre as mais rígidas do mundo, estão tornando difícil para o UBS competir em negócios de capital intensivo como os de renda fixa.

“O UBS voltará às suas raízes, tornando-se uma corretora com uma forte franquia nos mercados de capitais”, disse Kian Abouhossein, um analista do J.P. Morgan Chase em Londres.

A notícia das demissões foi publicada antes pelo “Financial Times”. Os cortes levarão a mudanças na cúpula administrativa e reduzirão os custos nas funções de apoio do banco, incluindo a área de Tecnologia da Informação (TI), disse o “FT”.

Serge Steiner, um porta-voz do banco, não quis comentar o assunto. Desde que assumiu, no ano passado, Ermotti vem trabalhando para reduzir os custos de produção em todos os negócios do banco.

As mudanças no banco de investimentos poderão significar mais responsabilidades para Andrea Orcel, 49, que comanda a unidade junto com Kengeter, 45, segundo informaram três outras pessoas a par do assunto. Kengeter vem comandando o banco de investimentos desde abril de 2009, primeiro como presidente adjunto com Alexander Wilmot-Sitwell, e depois sozinho, e desde julho com Orcel, ex-funcionário do Bank of America.

O conselho de administração da instituição esteve reunido em Nova York na semana passada para considerar a reorganização da unidade, que incluirá cortes centrados na área de renda fixa, pela qual Kengeter vinha sendo responsável desde 2008.

O banco de investimento vem sofrendo com os deslizes que sacudiram o UBS, o segundo maior administrador de fortunas do mundo. Perdas sofridas durante a crise “subprime” forçaram o UBS a buscar ajuda do governo suíço em 2008, para que pudesse se desfazer de ativos tóxicos. No ano passado, uma perda de US$ 2,3 bilhões, resultado de negócios não autorizados, levaram à saída do executivo-chefe Oswald Gruebel.

“Os investidores querem que o UBS revele o valor dos ativos e dos negócios de gerenciamento de fortunas, que, segundo nossas estimativas, proporcionarão retorno de 26% em 2013. Eles querem também uma redução material do banco de investimentos, que vem tendo dificuldades para obter retornos de um único dígito”, diz Huw van Steenis, analista do Morgan Stanley em Londres.

A falta de demanda no setor bancário significa que outra rodada de demissões deverá ocorrer em Wall Street, prejudicando permanentemente as carreiras de alguns banqueiros de investimentos, disse Connelly. “As pessoas passarão um tempo na praia. Seus negócios chegaram ao ponto em que seus cérebros não têm mais tanta importância. Muitos banqueiros de investimentos terão de encontrar outra maneira de ganhar dinheiro.”