SOFRIMENTO MENTAL EM MEIO À PANDEMIA DE COVID-19

Mesmo que os números oficiais não representem o número real de óbitos por COVID-19, estes não param de aumentar no Brasil, demonstrando cada vez mais os limites estratégicos do governo em relação a resposta à pandemia. Já são quatro meses de COVID-19 no país. Os casos conhecidos chegaram a 1.193.762 – até o dia 25/06/2020 –, com o total de 53.897 (4.5%) óbitos. No Estado da Bahia foram registrados até o dia 25/06/2020 um total de 51.932 casos confirmados e 1.541 (3%) óbitos (Rede CoVida, 2020).

A humanidade está sofrendo as consequências desta crise pandêmica (e da sua interrelação com a crise econômica, social e histórica), sendo os problemas do âmbito da saúde mental um dos tantos em evidência. O efeito é global e nós todos estamos sendo afetados (alguns mais e outros menos) (Neves, 2020). A ampliação não é somente do número de mortos, mas também das taxas de desemprego, das taxas de empobrecimento, da fragilidade do Sistema Único de Saúde (SUS) e da miserabilidade na totalidade da classe trabalhadora (Antunes, 2020; Mascaro, 2020).

O capital pandêmico (Antunes, 2020) tem impactado negativamente na saúde da população e determinado materialmente o sofrimento mental de trabalhadores/as da saúde e de usuários de saúde mental. Tem se observado o aumento dos transtornos de ansiedade, insônia, irritabilidade, transtornos traumáticos e pós-traumáticos e até casos mais graves como tentativas de suicídio e surtos psicóticos neste período (Neves, 2020).

Para tornar o cenário atual ainda mais trágico, o que tem sido observado ao longo dos últimos anos é o desmonte da Política Nacional de Saúde Mental (PNSM) que representa uma conquista social importante, seja por implementar a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS) e as práticas de atenção psicossocial, seja porque produz efeitos concretos na vida de muitas pessoas em sofrimento mental (EPSJV, 2018).

O processo de precarização e/ou fechamento dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS) e das equipes da Estratégia de Saúde da Família (ESF) têm deixado muitas pessoas desassistidas e sem saber onde buscar ajuda para cuidar destes sofrimentos. Estas questões quando atreladas a prática do distanciamento social (que se faz necessário neste momento) têm contribuído negativamente para ampliação, desencadeamento ou agravamento de sintomas mentais; afinal o trabalho em saúde mental prioriza o contato próximo, afetivo e de confiança mútua seja com as pessoas em sofrimento mental ou mesmo com seus familiares, e neste cenário, essas práticas (com tamanha proximidade) não são possíveis de serem desenvolvidas. Constate-se desta forma que o enclausuramento e distanciamento social produzem ou agravam o sofrimento mental (Neves, 2020).

Diante dessa realidade nefasta, se faz necessário o continuum de denúncias sobre o governo genocida de Jair Bolsonaro e as consequências da sua necropolítica sobre as condições de saúde e os aspectos da vida social da classe-que-vive-do-trabalho.

Acima de tudo, é importante compreendermos que o antídoto para os problemas que vivenciamos no campo da saúde mental (que vão desde a precarização e desmonte dos serviços até a medicalização social da vida, para citar alguns) não podem ser atenuados com políticas públicas, apenas. Estes e outros impasses só serão resolvidos quando superarmos as formas do capital (mercadoria, Estado e direito) (Mascaro, 2020) e essa superação só se dará por meio “das lutas da classe trabalhadora, dos movimentos sociais das periferias, das comunidades indígenas, do movimento negro, da juventude, da revolução feminista global em curso” e da luta antimanicomial, “articulando as lutas contra a opressão masculina e também contra as múltiplas formas da dominação e da exploração do capital” (Antunes, 2020).

REFERÊNCIAS

ANTUNES, R. Coronavírus, O trabalho sob fogo cruzado. 1. ed. São Paulo: 2 de jun. de 2020, 2020.
EPSJV. Retrocessos na saúde mental. Disponível em: <http://www.epsjv.fiocruz.br/…/r…/retrocessos-na-saude-mental>. Acesso em: 15 jun. 2020.

MASCARO, A. L. Crise e pandemia. 1. ed. São Paulo: 9 de abr. de 2020, 2020.

NEVES, J. “Assim como o vírus pode agir de diferentes formas nas pessoas que se infectam, as respostas emocionais também podem ser muito distintas, dependendo de diversos fatores”. Disponível em: <http://www.epsjv.fiocruz.br/…/assim-como-o-virus-pode-agir-…>. Acesso em: 15 jun. 2020.

REDE COVIDA. PAINEL – Rede Covida. Disponível em: <https://painel.covid19br.org>. Acesso em: 15 jun. 2020

Núcleo de Saúde – Unidade Classista Bahia