“Só restou a greve”

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Entrevista com Jesu Júnior, do Sintrajufe-CE

O diretor do Sintrajufe-CE, Jesu Júnior, militante do PCB, explica o porque da greve no Judiciário Federal e como a categoria tem avançado em sua organização no Ceará. Recém-chegado ao Partido, Jesu conta ainda o porque de ter escolhido o PCB para lutar.

PCB – Por que os servidores do judiciário estão em greve no Ceará?

Jesu Júnior – As principais reivindicações dos servidores do Judiciário Federal na greve que já atinge 20 estados no país são as seguintes:

-Os servidores estão há 5 anos sem reajuste.

-Aprovação do PL 6613/2009 (reajuste), há mais de um ano parado na CFT da câmara federal.

-Contra o PL 549/2009, que congela por 10 anos os salários e impede novos investimentos no Serviço Público.

-Contra o PL 1992/07, que reduz a aposentadoria dos servidores para o teto do Regime Geral e, na prática, implicará na privatização da previdência, com uma corrida aos fundos privados de pensão.

-Contra a política do Governo Lula/Dilma de sucateamento e privatização do Serviço Público.

Como o governo Dilma não se dispõe a negociar, só restou a greve.

PCB – Há quanto tempo a categoria está parada?

JJ – Os servidores da JF/CE decidiram pela greve no dia 18/10/2011. Foram cumpridas todas as formalidades legais, de forma que a greve iniciou efetivamente em 24/10/2011. Já no início do mês de novembro, os servidores da JF/CE decidiram manter-se em estado de greve, porém concentrando as atividades de paralisação num único dia: as quartas-feiras, marcando o chamado “apagão” da JF/CE.

PCB – Como estão as negociações com o governo?

JJ – Infelizmente, o governo federal permanece inflexível, orientado a base aliada no Congresso Nacional a rejeitar emendas e obstruir votações relativas ao reajuste dos servidores do Judiciário Federal.

O STF tem prometido interceder pelos servidores, buscando dialogar com o governo Dilma e sua base aliada no Congresso Nacional, mas até o momento os servidores não tem nada garantido, diferentemente dos magistrados, que já tiveram seu reajuste anual assegurado pela CMO (Comissão Mista de Orçamento) da Câmara.

PCB -Como o sindicato está mobilizando os servidores da Justiça Federal?

A categoria dos servidores do Judiciário Federal se caracteriza por diversas peculiaridades. São servidores com poder aquisitivo considerável, com salários que variam muito para cima dependendo da fase em que o servidor ingressou na instituição.

Tudo isso faz com que o servidor do judiciário federal não se sinta sequer parte da categoria dos servidores federais, embora obviamente o seja. Mais difícil ainda é trabalhar com a ideia de uma classe trabalhadora una.

Foi nessa conjuntura desfavorável e cheia de preconceitos históricos que aprovamos o nome de “SINDICATO DOS TRABALHADORES” ao invés de “Sindicato dos servidores”, ainda em 2008, numa disputa ferrenha com a oposição pelega montada pela administração.

Foi uma vitória simbólica mas de grande importância. De lá para cá a luta tem avançado, e hoje os servidores da JF/CE já aceitam com mais naturalidade as intervenções de professores, sapateiros e trabalhadores da construção civil nas assembleias de greve da categoria.

Fazemos todo um esforço para conciliar a luta imediata economicista com a estratégia maior de crítica ao governo do PT e ao próprio capitalismo, apontando sempre a unidade entre a classe trabalhadora como a chave para a vitória. Isso tem funcionado bem e a cada dia de greve uma nova barreira é transposta: depois da inédita manifestação na praça em frente à JF/CE, esta semana os servidores da JF/CE pela primeira vez na sua história percorreram as ruas do centro de Fortaleza com faixas, som, adesivos e distribuindo panfletos à sociedade.

Avaliamos que estamos no caminho certo.

PCB – Há quanto tempo você é diretor sindical?

JJ – Nosso grupo aqui no Ceará disputou e venceu as primeiras eleições em 2007, assumindo a direção da então associação dos servidores. Já em 2008, transformamos a associação em sindicato (SINTRAJUFE/CE), pondo um fim na política de subserviência à administração da JF/CE.

A direção reagiu e organizou uma “chapa-branca”, numa conjuntura de ataques e difamações orquestradas contra o nosso grupo sindical, o que resultou numa derrota nossa no pleito de 2009, por uma diferença de menos de 3% dos votos apurados.

Nas eleições de 2011, mais uma vez lançamos chapa, e vencemos o pleito, dando início, no dia 01 de setembro de 2011, à gestão UNIDADE NA LUTA.

PCB – E há quanto tempo você milita no PCB?

JJ – Antes de me aproximar do PCB, eu militava numa organização de esquerda sem registro no TSE e de abrangência limitada a poucos estados do país. Ao final de 2010, comecei a acompanhar mais de perto os documentos, declarações políticas e atividades do PCB, considerando ser este um partido organizado em todo o território nacional, de forma que meu esforço militante poderia assim trazer melhores frutos.

Foi assim que rapidamente conclui ser o PCB o único partido registrado a manter posições coerentes com o marxismo-leninismo, defender a revolução cubana e dos demais estados operários e se contrapor efetivamente ao imperialismo.

Já no início de 2011, procurei o diretório estadual do PCB no Ceará, participei de algumas atividades para conhecer melhor o partido e, desde então, consolidei minha opção pelo PCB, partido ao qual hoje estou filiado.

PCB – Recentemente você esteve na Conferência Política do PCB. Qual sua avaliação sobre o evento?

JJ – As atividades do PCB no Ceará e a Conferência Política que participei recentemente, no Rio de Janeiro, deixam claro ser o PCB um partido onde efetivamente existe debate interno.

Aqui podemos vivenciar o verdadeiro centralismo democrático, com os militantes do partido expressando não apenas suas concordâncias, mas também as necessárias discordâncias, que devem ser discutidas nas instâncias internas do partido.

São muito importantes as posições firmes do PCB, reafirmadas na conferência, contra a invasão imperialista da Líbia, as ameaças na Síria e no Irã. A defesa da revolução cubana, o rechaço ao assassinato do comandante das FARC, Alfonso Cano e o repúdio às agressões ao povo palestino protagonizadas pelo estado terrorista de Israel.

Tudo isso sem precisar cair no esquerdismo estéril. É isso que diferencia nosso partido de todos os outros. Esperamos, agora, poder aplicar aqui no Ceará as resoluções aprovadas nessa Conferência.