Sindsaúde publica nota contra ofensa de novela da Globo aos profissionais da saúde
sindsaudern.org.br
NOTA PÚBLICA
Novela da Globo ofende profissionais de saúde e dissemina ditadura da magreza
A cena da novela: http://migre.me/gjGaT
A novela Amor à Vida, da Rede Globo, transmitiu no sábado (5) uma cena cheia de preconceitos (veja a cena aqui), repercutindo a discriminação ao peso das mulheres e enfermeiras e técnicas de enfermagem.
Na cena, o personagem Daniel informa à família que irá casar com Perséfone, enfermeira que desde o início da trama sofre por não conseguir um namorado. Ao saber da notícia, os pais do rapaz se mostram contra o casamento e afirmam que ela não é a “moça certa” para ele. Sua irmã, Leila, pergunta: “Quanta vocação pra pobreza, hein? Fala sério. Você vai casar mesmo com uma em-fer-mei-ra?” Em seguida, tenta tranqüilizar a mãe: “pelo menos ela é uma enfermeira de verdade e não uma dessas técnicas de enfermagem” e a mãe responde: “eu acho que ele conseguiria casar pelo menos com uma médica”.
O comentário da personagem Leila é um desrespeito às técnicas de enfermagem e enfermeiras, profissionais com formação e competência para cuidar da população em hospitais, clínicas e demais unidades de saúde. A cena inferioriza essas profissionais, repetindo uma divisão e uma supervalorização dos médicos que muitas vezes também é encontrada nas equipes nos hospitais.
Para o Sindsaúde, o diálogo reproduz o preconceito de classe existente na sociedade. Um preconceito que se volta contra os trabalhadores mais explorados e que recebem os piores salários. Além de ter os direitos básicos negados, estes trabalhadores – a maioria da sociedade – ainda convivem com a discriminação e o preconceito de uma minoria privilegiada.
Infelizmente, não é apenas obra de ficção. O preconceito se manifesta na vida real, como no episódio recente de uma jornalista potiguar, que publicou em uma rede social: “essas médicas cubanas tem cara de empregada doméstica. Será que são médicas mesmo?”.
A cena da novela, vista por milhões de brasileiros e brasileiras, contribui para disseminar ainda mais estes preconceitos. A mídia brasileira, controlada por uma pequeno grupo de famílias e políticos, reproduz diariamente estes preconceitos e outros, como a visão estigmatizada de enfermeiras e técnicas de enfermagem como objeto sexual.
A novela repercute ainda o estereótipo da mulher magra como padrão ideal de beleza, quando afirma que um casal formado por um homem magro e uma mulher gorda seria motivo de chacota para as pessoas. A repercussão desses preconceitos oprime ainda mais as mulheres, que se veem obrigadas a se adequar a esse padrão estético difundido na sociedade.
O Sindsaúde-RN repudia os comentários da novela da Rede Globo e exige respeito a todas as trabalhadoras e profissionais de saúde, independentemente de sua formação, função e salário. O sindicato também repudia a ditadura da magreza imposta socialmente às mulheres e à maneira como a mulher vem sendo tratada na novela. A imposição deste modelo estético vai muito além do combate à obesidade, fundamental para a saúde da população. Neste caso, trata-se de mais uma forma de opressão que se soma a tantas outras violências cometidas diariamente contra mulheres, negros e homossexuais.