Sapateiro Jair Antônio da Costa: violência policial e impunidade no RS

SindSapateiros-CE

O sapateiro e dirigente do Sindicato dos Sapateiros de Igrejinha-RS, Jair Antônio da Costa, foi morto por policiais militares em setembro de 2005, enquanto participava de mobilização de trabalhadores do setor coureiro-calçadista. Ao todo, nove pessoas foram apontadas pela justiça como autores da morte de Jair. Até hoje, nenhum envolvido no crime foi preso.

Jair era diretor de esportes e lazer da entidade, e era reconhecido como um companheiro atuante e defensor da luta de sua categoria. Em junho de 2009, a juíza Paula de Mattos Paradeda, da Vara Criminal de Sapiranga, decidiu que os envolvidos deviam ir a júri popular, mas os réus recorreram ao Tribunal de Justiça.

Dois anos depois, a 1ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul julgou o recurso do desembargador Newton Brasil Leão e manteve a decisão pelo júri popular. Como a decisão não foi unânime, isto abriu a possibilidade de um recurso conhecido como “embargos infringentes”, com isso, em 2012, o julgamento sofreu outro adiamento.

Entenda o caso

No ano de 2005, o polo industrial do Vale dos Sinos no Rio Grande do Sul foi duramente atingido pela crise da baixa do dólar. Como boa parte da produção era voltada às exportações, trabalhadores das cidades de Sapiranga, Novo Hamburgo, Dois Irmãos e Parobé sentiram de forma pesada, a decisão dos empresários pela demissão de trabalhadores.

Por conta desta crise, organizações sindicais organizaram um ato em meio à BR 230, em Sapiranga, no dia 30 de setembro. Cerca de três mil pessoas, em sua grande parte compostos de trabalhadores de “chão de fábrica” compareceram ao protesto que transcorreu tranquilamente.

Por volta das seis da tarde, quando a multidão já se dispersava, seis policiais do 32º Batalhão da Polícia Militar de Sapiranga abordaram Jair, acusando-o de ter roubado a chave de uma moto da polícia. Desconhecendo o fato, Jair tentou resistir à voz de prisão e foi cercado, imobilizado e algemado. Para afastar a multidão, os policiais apontaram suas armas.

De posse dos policiais, Jair era agredido e tinha um cassetete pressionado conta o pescoço até se debater e cair desfalecido.

Desacordado, o sindicalista foi levado para o Hospital Beneficiente Sapiranguense, durante uma hora a equipe médica tentou reanimá-lo, sem sucesso. O laudo médico apontou como causa da morte: “asfixia mecânica causada por uma contusão hemorrágica da laringe e traumatismo cervical”. Com apenas 31 anos de idade, o sapateiro foi enterrado no dia seguinte no Cemitério Católico de Igrejinha, diante de centenas de pessoas.

Parte das informações sobre o crime contra o sapateiro Jair foram retirados do livro “Plantados no Chão – Assassinatos Políticos no Brasil Hoje” (Editora Conrad), de autoria da jornalista Natália Viana. Em sua obra, Natália aborda outras histórias de violência política como o da missionária norte americana Dorothy Stang e Anderson Amaurílio, vítima da repressão policial contra o movimento estudantil.

O livro pode ser lido baixado aqui.