Reflexões sobre uma eleição sindical

UC-RJ

Por Fernando Vieira*

Em 15 de agosto de 2014, foi finalizado o processo eleitoral no Sindicato de Professores do Município do Rio de Janeiro e Região, o Sinpro – Rio.

Mais do que debater os fatores para a chapa no qual o PCB/UC-RJ participava foi derrotada, devemos refletir sobre os dilemas que marcarão o futuro do Sinpro – Rio e o papel do PCB/UC-RJ ante esse futuro.

A eleição foi centrada numa campanha de tons moralista que atendeu aos anseios de um eleitorado conservador e ainda impregnado por nuances lacerdistas, sem contar, a influência midiática na defesa de uma moralidade política conservadora.

A chapa que o PCB/UC-RJ apoiou, indicando cinco (5) nomes, não soube rebater esse discurso e apontar os riscos da vitória da outra chapa. Em grande parte, por não perceber as contradições inerentes aos grupos que compunham a própria chapa. Mas, cabe uma pergunta: que

riscos seriam esses?

Lênin nos aponta um dado importe:

A velha burocracia profissional e as antigas formas de organização sindical entravam de todas as maneiras esta transformação no caráter dos sindicatos. A velha burocracia profissional procura, em todos os lugares, manter os sindicatos com as características de organização da aristocracia operária (…) (Lênin. O movimento sindical, os comitês de fábrica e de usinas)

A velha burocracia foi vitoriosa. Na eleição a luta era entre um projeto de sindicato e um modelo de sindicato.

O PCB/UC-RJ apoiava um projeto de sindicato voltado para a luta dos trabalhadores. Enfrentando o capital na porta de escolas que desrespeitavam direitos trabalhistas, liderando greves em universidades privadas que não pagavam salários.

Um sindicato voltada para o enfrentamento à luta de classes onde os comunistas contribuíam para a organização dos trabalhadores de forma incisiva.

A outra chapa expressa um modelo, como nos diz Lênin, burocratizador do sindicato. Dirigentes que temem o enfrentamento contra o patronato nas próprias escolas e universidades em que trabalham e, o pior, mais preocupados em transformar o sindicato em correia de transmissão dos atos defendidos pelo governo federal e pela central sindical a que se vinculam e que a cada dia perde mais e mais sindicatos de sua base, cansados ante a letargia carreirista que caracteriza essa central.

Relembrando Lênin:

A velha burocracia sindical se esforça ainda para substituir o movimento grevista, que a cada dia assume o caráter de um conflito revolucionário entre a burguesia e o proletariado, por uma política de acordos a longo prazo que perdem todo o significado diante da fantástica variação dos preços. (Lênin. Ib. id.)

Nada mais atual para designar o grupo vencedor. Defensores de um sindicato de negociatas com o patronal, que buscaram e conseguiram, entre 1998 e 2011, despolitizar a categoria, burocratizar o sindicato e deslocá-lo do cenário central da luta de classes. Não por acaso, sua pauta eleitoral tratava de uma suposta falência do Sinpro e apregoa um sindicato que dê lucro, tratando o sindicato como uma empresa e defendendo medidas de caráter neoliberal como remédio para a suposta falência.

Nesse sentido, comunistas defendemos que os comunistas façam parte dos sindicatos e trabalhem para fazer deles órgãos conscientes da luta pela derrubada do regime capitalista e o triunfo do comunismo. (Lênin. Ib. id.)

Retomaremos, com maior força, o lugar que ocupamos entre 2005 e 2011: o da oposição. Voltaremos a liderar um campo da oposição que acredita no papel organizacional do movimento sindical e que sabe que liderança dos comunistas

em suas escolas e universidades, é um fator de fortalecimento e crescimento do ideário comunista na sociedade.

Não nos prendemos ao burocratismo sindical. Não somos correia de transmissão de governos ou centrais. Defendemos um Sinpro-Rio autônomo e atuante na defesa dos interesses não só dos professores, mas do conjunto de trabalhadores no país.

Fortalecer a luta sindical é um passo na construção do poder popular. E é na trincheira de luta da sociedade e dos trabalhadores que o PCB/UC-RJ continuará a atuar. 2017 já começou!

* Professor e militante do PCB/ UC-RJ