PF mantém greve e vai boicotar ações
O Estado de S.Paulo
Agentes, escrivães e papiloscopistas da Polícia Federal rejeitaram a última chance de acordo e decidiram manter a greve deflagrada em 7 de agosto e enfrentar o governo em busca do reconhecimento como categoria de nível superior. O calendário de protestos nos próximos quatro meses, organizado ontem em assembleia dos 27 sindicatos da categoria, inclui boicote às ações de inteligência da PF, como infiltração, campana, interceptações telefônicas e investigação de organizações criminosas.
Segundo o comando de greve, essas atividades exigem habilidades de nível superior. “Como não recebemos por ações de inteligência e planejamento, vamos nos abster de realizá-las até que o governo entenda o absurdo da situação”, avisou o presidente da Federação Nacional dos Policiais Federais, Marcos Wink. Essas atividades são exercidas quase exclusivamente por agentes, um exército de mais de 8 mil policiais, 60% do efetivo da PF.
Sem reajuste há três anos, eles recebem hoje entre R$ 7.500 e R$ 13 mil. Com a reestruturação, querem ser equiparados às demais carreiras de Estado, cujos salários vão de R$ 11.500 a R$ 19 mil. Mas sofrem resistência dentro da própria corporação – os delegados e dirigentes da PF são contra – e o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, avisou que não vai comprar a briga. A entidade vai editar uma cartilha de procedimentos funcionais orientando a categoria a só exercer funções de nível médio como protesto.
Os federais não estão sozinhos. Outras categorias de peso decidiram recusar o índice de reajuste dado pelo governo – 15,8% fatiados em três parcelas anuais – e manter a paralisação das atividades até que as negociações sejam reabertas. Elas somam mais de 50 mil pessoas, cerca de 10% do total de servidores ativos da União. Os demais 90% fecharam o acordo e já começaram a retornar ao trabalho.
Entre as categorias que continuam de braços cruzados, conforme o balanço final do Ministério do Planejamento, fechado ontem, estão a dos servidores das agências reguladoras e da Receita Federal.
As categorias que não assinaram acordo ficarão sem reajuste em 2013. Ficaram de fora, por exemplo, os servidores do Instituto Nacional de Política Industrial, do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e de alguns ministérios, como o do Desenvolvimento Agrário. O governo informou que vai continuar negociando com o funcionalismo, mas reajuste salarial só será possível em 2014. A última esperança dos rebelados é reverter a situação no Congresso, durante a votação do Orçamento da União de 2013. Para isso, terão de enfrentar a base aliada do governo, que está sendo orientada a não permitir mudanças que elevem os gastos.
O bloco dos insatisfeitos saiu ontem mesmo às ruas. Vestidos de preto, grevistas da carreira de analistas e especialistas de infraestrutura do governo fizeram o enterro simbólico da presidente Dilma Rousseff e do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Sinalizaram com isso que devem boicotar obras do PAC, como a transposição do Rio São Francisco.