PELEGUISMO 5 ESTRELAS – Metalúrgicos mudam estratégia de negociação
A seguir, reproduzimos matéria do jornal “Valor Econômico” que é panfleto descarado do projeto de reforma trabalhista e sindical que retira direitos dos trabalhadores. Como porta-vozes do patronato em meio aos trabalhadores, prestam declarações enganosas ao veículo de comunicação dirigentes sindicais ligados ao PT e a CUT.
“A campanha salarial dos metalúrgicos do Estado de São Paulo filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) perdeu força neste ano e se pulverizou em acordos fechados diretamente por empresas e sindicatos, entre eles, o do ABC – o mais forte do país. Em 2012, os sindicatos não conseguiram unificar a negociação de reajuste salarial com os setores patronais e recorreram a acordos bilaterais. Essa fragmentação aponta para um novo modelo de luta sindical da categoria.
Até sexta-feira, apenas um grupo dentre seis (Fundição, com 4 mil metalúrgicos) fechou acordo garantindo 8% de reajuste salarial a partir de 1º de setembro, data-base da categoria. O índice representa 2,5% de ganho real. Mas passa de 150 mil o número de metalúrgicos que garantiram o índice pedido (75% do total de trabalhadores em campanha). Isso porque as empresas procuraram diretamente os sindicatos nas 14 bases da Federação dos Metalúrgicos (FEM), da CUT-SP, para dar fim às paralisações dos trabalhadores onde o acordo ainda não havia sido firmado.
No ano passado, em 22 de setembro, 86% dos metalúrgicos da CUT em campanha no Estado já tinham garantido, via negociação por grupo com o setor patronal, o reajuste pedido. Ou seja, em um mês a menos de negociação, maior índice de trabalhadores tinha conquistado suas reivindicações através das vias “normais”.
O quadro mais emblemático da campanha salarial dos metalúrgicos cutistas deste ano é a descoordenação do próprio movimento sindical – à medida que os acordos são fechados diretamente com o sindicato por empresas grandes, os trabalhadores de empresas menores perdem voz e poder de barganha. Não fazem parte desse movimento de fragmentação – ainda – os metalúrgicos das montadoras. Em 2011, eles fecharam um acordo válido por dois anos com as empresas, logo, não entraram na campanha salarial deste ano.
“Vemos algo inédito na organização dos metalúrgicos. Nas últimas três décadas, houve uma mudança profunda no desenho sócio-organizacional das empresas e na formação dos trabalhadores, o que trouxe repercussões no terreno sindical”, diz Ricardo Antunes, professor de sociologia do trabalho da Unicamp. Segundo ele, na década de 80 as empresas até chegavam a negociar individualmente, mas havia um movimento unitário que levava essa proposta para o conjunto dos metalúrgicos. “A consciência de unidade representativa foi corroída.”
Antunes explica que, no passado do ABC, havia a preocupação de que as grandes empresas do setor automotivo, que chegaram a representar 70% do contingente dos metalúrgicos, não se descolassem das menores nas reivindicações da categoria. “Há diferença entre a greve que vai se pulverizando e greves canalizadas numa proposta unitária. Na década de 80, as ações de confrontação visavam preservar o patamar conquistado e estendê-lo para o conjunto de trabalhadores. O ABC, hoje, diz que faz isso, mas a prática não tem sido essa”, afirma.
Os dirigentes sindicais envolvidos na campanha salarial se defendem: a crise internacional atingiu as empresas no país e dificultou a negociação neste ano – e em todos os outros de crise. “O movimento de acordos por empresa é normal em momentos de dificuldade econômica. Os trabalhadores das pequenas empresas não saem prejudicados, porque, historicamente, nunca ficamos sem uma convenção coletiva que contemplasse toda a categoria”, diz Sergio Nobre, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. “O melhor sempre é fazer o acordo com o sindicato patronal e ter tranquilidade na negociação, mas, com as dificuldades deste ano, o acordo por empresa ajuda a destravar as demais negociações”, afirma.
Nobre lembra que no setor metalúrgico as empresas têm realidades distintas. A Volkswagen, diz, tem 15 mil trabalhadores, enquanto a mesma convenção coletiva dos metalúrgicos vale para os cinco trabalhadores de uma pequena empresa que faz parafusos, exemplifica. “O setor de caminhões teve um ano muito ruim, ao contrário do de automóveis, que conta com a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). A realidade é diversificada.”
O coordenador-geral da comissão de fábrica da Volks na fábrica da Anchieta, no ABC, José Roberto da Silva, o “Bigode”, afirma ser necessário que muitas discussões saiam da mesa dos grupos de negociação e que acordos sejam fechados diretamente entre empresas e sindicatos. “Há empresas que não têm condições de pagar abono salarial, por exemplo. O normal é que, quando uma sai na frente na negociação, ela puxe as discussões dentro da cadeia. Normalmente são as montadoras que fazem isso”, afirma Bigode.
No dia 12 de maio de 1978, o então ferramenteiro Gilson Menezes liderava o início da greve de mais de 3.000 metalúrgicos da Scania, em São Bernardo. Hoje, como vice-prefeito de Diadema, defende os acordos bilaterais. “Se a empresa chega à posição que o sindicato quer, não tem como não fechar o acordo. Há 30 anos isso não acontecia, porque o que se reivindicava era algo que não era conseguido nas negociações, não havia nem o debate. Naquele tempo havia a questão política.”
Nas negociações por empresa, no entanto, não é difícil que sindicatos menores, e trabalhadores de fábricas menores, saiam em desvantagem. Vanderlei Tavares, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de Monte Alto (o menor da base da FEM-CUT-SP, com 2,6 mil trabalhadores), diz que, sob os efeitos da crise de 2008, nem todos os trabalhadores conquistaram os mesmos benefícios durante a campanha salarial.
Tavares conta que, em 2009, a FEM fechou um acordo com a bancada patronal que garantia 6,5% de reajuste salarial, mas algumas empresas em Monte Alto já tinham garantido 9%. Os trabalhadores não queriam aceitar os 6,5%. “Fizemos greve em mais de dez empresas, inclusive nas grandes, mas estávamos sozinhos”, afirma.
Situação diferente foi observada em Monte Alto neste ano, ainda com as dificuldades apresentadas nas negociações pelas bancadas patronais. Na campanha salarial de 2012, o sindicato foi o primeiro – e, até agora, único – a garantir os 8% de reajuste para toda a base.
Antunes, da Unicamp, acredita que o setor patronal vê benefícios na negociação bilateral, uma vez que desune o movimento dos trabalhadores. “A ideia patronal de tomar a iniciativa e fazer propostas é compreensível, porque, assim, o setor avança em negociações heterogêneas. Com isso, não tem uma categoria unida a enfrentar”, diz.
O professor critica a proposta de Acordo Coletivo Especial (ACE), que nasceu entre os metalúrgicos do ABC. O projeto prevê que sindicatos, com o aval do Ministério do Trabalho, negociem diretamente dentro das empresas. “Consolidou-se dentro do ABC uma concepção de sindicalismo autorreferente”, afirma Antunes. “É como se o ABC pudesse estabelecer leis para o conjunto do sindicalismo, a partir do seu desenho sindical, e não visse a história no passado como uma conquista do conjunto.”
Na visão de Antunes, o sindicalismo de hoje no ABC é negocial, e não mais de confrontação. “Negociação e luta nasceram juntos com o movimento sindical. Por que no ABC não há mais aquelas greves? Isso é sinal de avanço? Não há mais ideia de unidade com a força que havia no passado”.
Nobre, presidente do sindicato do ABC, vê a negociação como evolução. “Uma categoria que vive em greve é uma categoria que tem seus direitos desrespeitados a todo o momento. É isso o que diferencia um sindicato forte de um sindicato sem representação”, diz. Segundo ele, as greves na década de 80 foram resultado da falta de diálogo, o que não ocorre hoje.”