Parcela dos 10% mais ricos concentra 42% da renda do país, diz IBGE
apn.org.br
As pessoas com os 10% de menor renda per capita do país detinham apenas 1,2% da renda total no ano passado, apontou a pesquisa Síntese de Indicadores Sociais (SIS) 2014, divulgada nesta quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Por outro lado, o instituto computou que os 10% mais ricos da população concentraram durante todo o período analisado 41,7% da totalidade da renda per capita. O IBGE salientou que numa sociedade perfeitamente igualitária, cada décimo das pessoas com renda deteriam 10% da soma dos rendimentos do país.
De acordo com o IBGE, entre 2000 e 2010 o país teve crescimento econômico médio acima das duas décadas anteriores, devido à “conjuntura internacional favorável (boom de matérias primas, benéfico à economia exportadora brasileira), fortalecimento do mercado interno, crescimento da renda média da população, incentivos ao consumo das famílias e expansão do crédito”.
Além disso, o IBGE acrescentou que a redução da desigualdade se explica em parte pelo crescimento econômico observado e também por um conjunto de políticas e conjunturas, como a valorização do salário mínimo (reajustado nos últimos anos em patamares acima da inflação real observada), programas de transferências de renda, e também uma “evolução favorável” do rendimento do trabalho, devido à crescente formalização e maior capacidade de barganha dos trabalhadores para ganhos salariais, sobretudo até a crise de 2008-2009.
Em 2013, entre os 10% mais pobres, 76% eram pretos ou pardos e 24%, brancos. Em 2004, eram 72,8% de pretos ou pardos e 26,9% de brancos nesse grupo. Já no 1% com maiores rendimentos o quadro se inverte. Em 2013, 14,6% dos mais ricos eram pretos ou pardos, contra 83,6% de brancos. Em 2004, esse 1% era composto por ainda menos pretos ou pardos, com 12,5% de participação.
Programas sociais
A dependência dos brasileiros mais pobres de recursos oriundos de outras fontes — como transferências de programas sociais, aplicações financeiras, rendimentos de aluguéis, bônus — aumentou entre 2004 e 2013. O levantamento apontou que esse tipo de renda, em 2004, representava 20,3% e passou para 37,5%, em 2013, do rendimento mensal familiar per capita das famílias com até 1/4 de salário mínimo.
Para essas famílias, a participação do trabalho em seu rendimento caiu de 73,6% para 57%, entre 2004 e 2013. No mesmo período, a renda com aposentadoria e pensão recuou de 6,1% para 5,5%.
Entre as famílias com rendimento per capita de 1/4 a 1/2 do salário mínimo, o peso de outras fontes também cresceu, passando de 10% para 12,5%, ao passo que o de aposentadoria e pensão subiu um ponto percentual nesse período, para 14,7%. O rendimento com trabalho para essas famílias recuou, entre 2004 e 2013, de 76,3% e 72,9%.
Por outro lado, o rendimento mensal familiar per capita das famílias brasileiras oriundo do trabalho, em média, cresceu entre 2004 e 2013, de 76,4% para 77,2%, enquanto a renda com a aposentadoria e pensão subiu de 18,1% e 18,3%. No mesmo período, a renda das famílias brasileiras de outras fontes recuou de 5,5% para 4,5%.
“Esse crescimento das outras fontes modificou a composição por origem, mas não ocorreu em substituição da renda do trabalho, que cresceu no período. Com dados das Pnad, o rendimento médio mensal real de todos os trabalhos das pessoas de 15 anos ou mais de idade, ocupadas na semana de referência, com rendimento de trabalho, cresceu 42,1% entre 2004 e 2013”, afirmam os técnicos do IBGE.
A SIS utiliza dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) 2013, Censo Demográfico 2010, a Projeção da População do Brasil por sexo e idade 2013, do IBGE, além de bases de dados do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep), do Ministério da Saúde.