Os comunistas e os desafios do movimento sindical brasileiro

Nos dias de hoje, os trabalhadores brasileiros têm, diante de si, um quadro complexo e pleno de dificuldades a enfrentar em sua luta pela emancipação da classe trabalhadora. Vivemos um momento de crise sistêmica do capitalismo, hoje mundializado, que mostra, cada vez mais, a sua real natureza excludente e concentradora de riqueza deste sistema. Com elevado desemprego e visível incapacidade de recuperação econômica, dois de seus pólos mais importantes – a Europa e os Estados Unidos – mergulhados em dívidas, vêm perdendo o papel de locomotivas do crescimento mundial e entram no que se delineia como o início de um processo, de longo prazo, de declínio econômico e político.

No Brasil enfrentamos a herança de duas décadas de políticas neoliberais, a partir da eleição de Collor, em e, em seguida, com FHC, Lula e, agora, com Dilma, que levaram à privatização dos setores de siderurgia, telecomunicações, energia elétrica, transportes, à predominância dos interesses dos grandes bancos e do agronegócio, à internacionalização da economia, ao desmonte da previdência, da saúde, da educação públicas, ao achatamento salarial, à retirada de direitos trabalhistas, à precarização das relações de trabalho.

O movimento sindical se apresenta hoje com grande fragmentação e debilidade, refletindo a hegemonia liberal, colocando por terra a história de lutas de grande intensidade dos anos 80, quando cresceu muito a mobilização de trabalhadores de diversos setores por melhorias salariais, melhores condições de vida e direitos sociais, cresceu a luta pela derrubada da ditadura e pela reconstrução democrática, foram deflagradas inúmeras greves e surgiram novas entidades representativas da classe trabalhadora, como a CUT

e o MST. A denúncia do capitalismo e a proposta de construção do Socialismo estavam presentes nas plataformas e ações de sindicatos e outros movimentos.

A partir dos anos 90, sob pressão do avanço do neoliberalismo no Brasil e no mundo e sob os ecos da queda da URSS, entre outros fatores, muitos segmentos do movimento sindical e outros movimentos sociais abandonaram a luta pelo socialismo e passaram a lutar por compensações às perdas salariais e de direitos e a pôr o foco de suas ações em demandas e lutas sem caráter classista. A CUT é o principal exemplo desta tendência. O PT tornou-se um partido da ordem e forma um bloco de poder político em parceria direta com o capital financeiro e com os grandes grupos econômicos capitalistas. Paralelamente, os governos Lula I e II cooptaram diversas lideranças sindicais e sociais, o que reforçou a perda de combatividade dos sindicatos e o abandono da postura revolucionária de muitos dirigentes.

Vivemos sob uma hegemonia liberal que se constrói e se sustenta a partir de programas de natureza compensatória e assistencialista como o Bolsa-Família (que atende a mais de 12 milhões de famílias, que, sem dispor de empregos, dependem da ajuda do Estado para viver); o aumento do salário mínimo um pouco acima

da inflação e as medidas anti-crise, tomadas, principalmente, a partir de 2008, de incentivo à produção de automóveis, eletrodomésticos, moradias e outros – com reduções de impostos – e ao consumo desses e de outros bens – via crédito – expandiram o mercado brasileiro e a chamada nova classe média – aqueles que recebem, no total do núcleo familiar, mais de mil Reais, levando os trabalhadores a uma postura passiva em relação aos sindicatos e às lutas por direitos sociais.

No entanto, vem amadurecendo as condições para retomada do movimento dos trabalhadores, no Brasil, pois o desgaste das perdas de direitos e do desmonte das políticas sociais se faz sentir, e, por conta do modesto crescimento econômico dos últimos 10 anos e do achatamento salarial acumulado neste período, entre outros fatores, mais

trabalhadores vêm se mobilizando, sindicalizando-se, promovendo greves e participando de lutas gerais como a defesa da saúde pública, do direito à cobertura previdenciária integral.

Precisamos reconstruir uma organização sindical nacional de cunho classista, que possa atuar em conjunto com outros movimentos sociais organizados para enfrentar o desemprego, os baixos salários, a precarização das relações de trabalho, para lutar pela retomada os direitos sociais que foram retirados da classe trabalhadora, para deixar claro que, no capitalismo, não haverá solução definitiva para os problemas da maioria da população, para a classe trabalhadora.

É tarefa central dos comunistas a iniciativa levantar estas bandeiras, formar uma frente de forças políticas e sociais – uma frente anticapitalista e antiimperialista – para levar adiante a construção da contra-hegemonia socialista, para construir a Revolução socialista no Brasil.

É com esta disposição que construímos a Unidade Classista.