ONG: Bahrein encomendou mais bombas de gás lacrimogêneo do que número da população

operamundi

O Ministério do Interior do Bahrein está planejando importar 1,6 milhões de bombas de gás lacrimogêneo e 145 mil granadas de efeito moral ainda neste ano, segundo um documento vazado obtido pelo grupo de direitos humanos “Bahrein Watch”. A quantia de armas encomendadas ultrapassa o número populacional do país, estimado em 1,2 milhões de habitantes.

A solicitação, enviada no dia 16 de junho de 2013, estabelece o prazo de um mês para empresas enviarem suas propostas – o que significa que a compra já deve estar em andamento ou pode até mesmo ter sido concluída.

Esta é a primeira vez que um pedido das autoridades do Bahrein para a compra de armas menos letais é divulgado publicamente. Como lembram os ativistas da Bahrein Watch, os orçamentos e compras do governo do país não estão disponíveis para conhecimento público.

Desde 2011, quando se iniciaram os protestos contra a monarquia de Hamad Al Khalifa, milhares de bombas de gás lacrimogêneo foram utilizadas pela polícia do Bahrein contra manifestantes. Pelo menos 39 pessoas morreram, incluindo crianças, em consequência tanto do impacto das granadas quanto dos efeitos da fumaça, segundo informações dos Physicians for Human Rights (médicos pelos direitos humanos na tradução livre).

A ONG ainda indica que o uso constante e desmedido deste armamento pode ser responsável pelo crescimento do número de abortos espontâneos, doenças respiratórias e de pele no Bahrein. Além de manifestantes, o gás lacrimogêneo atinge residências, escritórios e transeuntes próximos aos protestos.

Campanha: parem as remessas!

Nada garante que essas novas bombas e granadas não foram jogadas nesta quarta-feira (24/10) contra manifestantes em um protesto na capital do país, Manama. Mas, os ativistas acreditam que as entregas ainda não foram feitas e por isso, lançaram uma campanha online para paralisar o processo de importação.

“Nunca vimos um documento como esse antes”, disse um dos membros da Bahrein Watch, Bill Marczac. “Agora, nós temos a oportunidade única de nos unir e salvar vidas ao bloquear as próximas distribuições de gás lacrimogêneo para o Bahrein. Vamos impedir essas remessas antes que seja tarde demais”, acrescentou.

Brasil

Baseados na coleta de vídeos e imagens das armas utilizadas na repressão aos protestos no Bahrein entre os anos de 2011 e 2013, o grupo fez uma estimativa das empresas que mais venderam ao país.

As companhias sul-coreanas DaeKwang Chemical Corporation e CNO Tech e a norte-coreana Korea Defense Industrie parecem ser as principais exportadoras do gás lacrimogêneo. Em seguida, aparecem as empresas Rheinmettal (África do Sul – Alemanha), Defense Technologie e Non Lethal Technologies (Estados Unidos – Reino Unido) e a brasileira Condor Tecnologias – responsável também pelas bombas atiradas contra manifestantes no Brasil.

“As bombas de gás lacrimogêneo são supostamente ‘não-letais’, mas a polícia do Bahrein usa grandes quantias em áreas residenciais, mesmo quando não existem protestos, e, por vezes, diretamente nas casas”, diz o texto da Bahrein Watch. “A polícia também atira granadas de gás na cabeça de manifestantes, o que já causou mortes e ferimentos graves”.