‘O governo deveria estatizar o Porto do Açu’
entrevista com Carlos Lessa
Professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e primeiro presidente do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nas gestões petistas iniciadas em 2003, o economista Carlos Lessa critica a ajuda governamental a Eike Batista e propõe ; uma solução: a estatização do Porto do Açu e da jazida de ferro da MMX em Minas Gerais.
O sr. é favorável a eventual ajuda do governo ao grupo X?
Eu discordo. Existe uma solução muito melhor. A Vale está penalizada no mercado mundial porque a longo prazo sua expansão apresenta ângulos poucos favoráveis. O grande dinamismo do mercado de ferro, hoje, é da China. O governo deveria simplesmente estatizar o Açu e a mina de ferro para capitalizar a Vale com uma nova reserva e um novo porto para exportação.
Isso é viável?
O grupo Eike foi criado por uma bolha especulativa de dimensões colossais. A estatização é uma solução bastante viável. Não debilita o BNDES, que é dono de parte das ações de controle da Vale, e aumenta a potência da mineradora no mo-: mento em que o mercado mundial assiste ela se enfraquecer cada vez mais diante da expansão da China.
O governo teria essa coragem?
Minha proposta é singela. Não sei se é exeqüível. Não sei se (o governo) tem tutano para isso. A dívida de Eike é imensa, uma parcela enorme vencendo imediatamente. Os ativos importantes do Eike são o porto e a mina de ferro. Agora, tem de ter coragem. Vai haver uma reação muito grande contra a estatização, essas coisas.
O sr. é contra o uso do porto pela Petrobrás como forma de ajudar o grupo X?
Totalmente. O grupo Eike é uma criatura do PT. Digo que a realização do PT no campo social é o Bolsa-Família. E, no campo econômico, botar o Eike no pódio internacional das fortunas.
Doar mais dinheiro a Eike?
Sou contra. Só o porto não paga a dívida dele.
Fonte:OEstadodeSP