NOTA POLÍTICA SOBRE AS DEMISSÕES DE TRABALHADORES (LAYOFFS) E CULTURA START-UP
Nos últimos meses assistimos a demissões em massa de várias empresas de Tecnologia da Informação (TI), o que requer de nós um posicionamento claro e firme em defesa dos trabalhadores e contra a diminuição de salários e direitos da categoria. Orientamos a categoria a se organizar na Unidade Classista e filiar em seus respectivos sindicatos.
Já faz anos que o setor de TI é parte central e fundamental das forças produtivas do sistema capitalista, tanto para a evolução técnico científica da humanidade quanto no aumento da extração de mais valia. Basta olharmos a grande quantidade de Big Techs, como redes sociais, gigantes da tecnologia como Microsoft, Google e Apple, empresas do setor de entrega de mercadorias e pessoas como Uber e Ifood, empresas do setor de entretenimento, tais como Netflix, Nintendo e Sony, produtoras de hardware e software como a Xiaomi, Samsumg, etc. E poderíamos citar muitas outras empresas de vários outros setores! Nesse sentido, conclui-se que a demanda por mão de obra de tecnologia é alta, porém, a quantidade disponível de trabalhadores para ocupar todos os cargos do mercado não é atendida no Brasil e no resto do mundo, logo, os salários tendem a ser altos em comparação com a média dos salários da classe trabalhadora.
Na pandemia, o controle inicial do espalhamento do vírus COVID 19 foi a política de lockdowns, ou seja, evitar o contato humano ficando em casa. Isso fez com que a humanidade toda tivesse uma demanda muito mais alta por serviços de tecnologia, principalmente os supracitados, o que demandou ainda mais mão de obra aumentando ainda mais os salários da categoria em média. Mas quando analisamos o aumento de salários, primeiramente temos que ver que isso não ocorreu para todos os trabalhadores da categoria, os aumentos se deram principalmente para setores de desenvolvimento de ponta, o que é quase um nicho dentro da categoria, ora, a maioria dos profissionais não são seniores mas juniores ou plenos, e isso quando não estão em contratos altamente precarizados (leia-se PJ).
A pandemia passou, a maioria das empresas de TI ganharam muito dinheiro mas com alguns investimentos de algumas empresas sendo equivocados (mas não todos). Um bom exemplo de investimento que não deu certo foi o Facebook que apostou na tecnologia do Metaverso que seria uma associação da rede social com a realidade virtual, o que na prática não pegou para o público. Porém, a maioria das empresas investiram em otimização e melhorias de suas tecnologias, o que fizeram seus serviços serem mais atrativos para seus clientes, gerando mais receitas. Só que com a diminuição ou ausência de lockdowns, houve uma normalização na solicitação de serviços de TI pela população. Aproveitando desses dois fatores (investimentos errados mais controle da pandemia com a vacinação), em um primeiro momento, várias Big Techs demitiram parte considerável de sua mão de obra (de 10% a 20%). Porém, esse movimento se estendeu para empresas de médio e pequeno porte que demitiram porque viram nos layoffs (demissão em massa) a oportunidade de diminuir os salários e direitos dos trabalhadores de TI. O problema é que de fato, a minoria das empresas de TI teve uma diminuição de seus crescimentos financeiros, sendo que algumas tiveram aumento da lucratividade mesmo após o período agudo da pandemia, mas se aproveitam do momento para explorar mais ainda os trabalhadores. Um excelente exemplo é a quase aquisição da Activision Blizzard pela Microsoft por US$ 68,7 bilhões mas demitiu 10 mil funcionários no mundo em 2023.
A análise acima nos coloca um desafio para o ano de 2023 para lutarmos contra a precarização do trabalho dos trabalhadores de TI. No mundo todo, sindicatos da categoria foram criados ou foram fortalecidos porque aquela cultura Start-Up – que prega que a empresa é uma “extensão do lar“ e que trabalhadores e patrões formam “uma única família” – cai por terra quando trabalhadores de TI são demitidos sem observar que eles tem despesas familiares e pessoais cotidianas que não podem ser adiadas, como moradia, alimentação, educação, etc e coloca toda a categoria em um esquema de demissões, aumentando a disponibilidade de mão de obra no mercado e contratam outros trabalhadores demitidos cujos poderes políticos de negociação salarial foram afetados pela alta artificial de disponibilidade no mercado de mão de obra. Mas voltando a premissa inicial que TI é um setor estratégico para o capitalismo, demissão e recontratação de trabalhadores com baixos salários é somente uma “dança das cadeiras” para aumentar a mais valia das empresas de TI.
Um corolário de toda essa fragilização de direitos trabalhistas do setor de TI é a exigência de retorno aos escritórios físicos pós pandemia. Se a contratação de vários trabalhadores na pandemia aconteceu de forma remota, há que se observar que muitos deles são moradores de cidades do interior dos estados ou de regiões afastadas dos grandes centros tecnológicos do país, o que faz com que esses trabalhadores tenham que se mudar para as grandes cidades as quais os custos de vida são muito altos, principalmente no quesito moradia.
O ano de 2023 será bem desafiador nas negociações das databases das categorias nos sindicatos mas, dado que a cultura de Start-Ups é uma máscara que caiu, é mais que necessário que a categoria faça três movimentos. O primeiro é incentivar os trabalhadores a entrar na Unidade Classista para que comitês de base de TI dos estados sejam fortalecidos ou sejam criados onde não existem. O segundo movimento é incentivar os trabalhadores a se filiarem em seus respectivos sindicatos, principalmente solicitando os sindicatos a opção de contribuição por boleto bancário ao invés de desconto em folha para aumentar a segurança dos trabalhadores, haja vista que patrões odeiam sindicatos e não pensarão duas vezes para demitir um trabalhador filiado. Cumpridas as duas etapas iniciais, orientamos os trabalhadores a participar das lutas das databases, ou seja, das assembleias e demais mobilizações que os sindicatos promoverão, com identidade própria, materiais próprios da Unidade Classista, redes sociais próprias dos comitês de bases, panfletagens nos locais de trabalho (onde persiste o trabalho presencial), etc. Não é hora de baixar a guarda para os patrões que forçaram reajuste zero para nossa categoria e retirada de direitos de todas as formas possíveis. Nós, trabalhadores, precisamos nos lembrar que em último caso a greve é um recurso que defendemos e será utilizado caso necessário, cremos que os patrões não querem que os trabalhadores de TI sejam inflamados com essa ideia, enfim, nós temos nossa união e nossa força a nosso favor.
Fração Nacional dos Trabalhadores de Tecnologia da Informação da Unidade Classista
Abril de 2023