Militância Classista no Capitalismo Brasileiro
- Por Alex Roberto
Descartes tem em sua célebre frase “penso, logo existo”, o que seria um pensamento interessante de alguém que não é comunista porque significa que se alguém tem percepções e análises da realidade concreta, logo esse é relevante. O capitalismo piorou esse pensamento para “consumo, logo existo”, “sou super explorado, logo existo”, “tenho doenças mentais, logo existo” … bom, é melhor parar o momento tragicómico porque ele se vai indefinidamente. Vejo muitos militantes trabalhadores que questionam a sua militância por não conseguirem dar grandes contribuições e optam por deixar de militar. Isso merece uma reflexão.
Normalmente, um trabalhador tem 8 horas de jornada de trabalho (sendo que há muitos que vão muito além disso), uma hora de almoço, um tempo de deslocamento até o trabalho e vice-versa, existem as tarefas de casa, cuidado com filhos, etc. Ah, e é necessário dormir porque a “noite é uma criança” para a burguesia, mas para os trabalhadores é momento de renovar as forças porque precisamos trabalhar no dia seguinte. Ser militante nessas condições (repito, são normais!) é um ato de heroísmo e é fruto de acúmulo de consciência de classe.
Quando pensamos em conquistas de direitos trabalhistas, elas não vieram do nada, mas sim foram fruto de muita luta do movimento sindical (e demais movimentos sociais) ao longo da história do capitalismo brasileiro. Falando de revolução, Marx e Lênin colocam a classe trabalhadora como sujeito principal da transformação social operando de forma consciente uma ruptura social do capitalismo e superando o velho pela sociedade socialista.
Ok, mas como lidar com a pressão do dia a dia e militar ao mesmo tempo com tantas tarefas por serem feitas? Vamos partir do seguinte princípio: problemas simples, soluções simples, já problemas complexos, soluções complexas. Se a questão supracitada é um problema complexo, fica difícil trazer uma solução definitiva ou aquela pílula azul que resolve todos os problemas (ou vermelha). Mas trazemos alguns apontamentos:
- Apontamos a classe a estar organizada em um Comitê de Base da Unidade Classista, afinal, é importante estarmos conjuntamente com outros trabalhadores para que coletivamente potencializemos nossa ação;
- Tenhamos o máximo de camaradagem possível. Parece algo abstrato, mas significa objetivamente: ter empatia, se apresentar para ajudar nas soluções dos problemas, lutar ombro a ombro, distribuir adequadamente as tarefas, etc;
- Tirar de nós todo estigma liberal que nos é imposto. No capitalismo, quanto mais trabalhamos, mais nos sentimos úteis (fruto da ideologia liberal). Na militância não podemos pensar assim, se todos lutam, todos conquistam, o que retira o mérito de individualidades.
- Pensar que estamos em uma maratona. Claro, há momentos que a luta de classe se acirra, mas quando estamos na luta dos trabalhadores, ela dura a vida toda. Tentar fazer desta uma corrida de 100 metros rasos fará com que cansemos rapidamente e venhamos a desistir de se organizar. É importante ir devagar e sempre!
Muitos trabalhadores optam por não se organizarem, o que é problemático. Para o capitalismo, nós trabalhadores somos números, trabalhamos exaustivamente e adoecemos, somos descartados e outro ocupa nosso lugar. O sistema, como diz Marx, aponta para a barbárie. A extrema direita tem acelerado esse processo, os conciliadores de classe têm trabalhado para retardar esse processo, mas não deixa de ser inevitável. O capitalismo brasileiro tem retirado direitos dos trabalhadores dia após dia em todos os setores profissionais. Aí vem o dilema: deixar o capitalismo seguindo o seu curso para a derrocada da humanidade ou lutar por uma sociedade mais justa e igualitária. Não é uma escolha muito difícil, não é mesmo?
Antonio Morgado, [28/09/2023 09:06]
Se na Rússia czarista, onde os trabalhadores tinham uma jornada de trabalho que variavam entre 14 e 15 horas diárias, conseguiram fazer a revolução, por que nós com muitos menos não conseguiríamos? Estar unidos e organizados é a melhor arma que temos, basta que cada um de nós faça aquilo que consegue de melhor com o tempo disponível. Sim, parece fácil falar isso, mas fato é que exige de nós doses de sacrifício, muitas vezes, do tempo de lazer e de descanso. Mas acreditamos que quanto mais trabalhadores tivermos organizados, mais leve será o fardo sobre nós e mais facilmente atingiremos nossos objetivos.
Pensando além do escopo, a candidata à Presidência da República pelo Partido Comunista Brasileiro, Sofia Manzano, em 2022 propôs a redução da jornada de trabalho de 44 para 30 horas semanais. Países que não tem nada de socialistas, como Holanda, Dinamarca, Alemanha, Suíça e Irlanda tem jornadas de trabalho que variam de 30 a 35 horas por semana, o que mostra que a ideia do PCB é completamente factível. Mas como essa proposta atinge o coração do capitalismo brasileiro, claro que isso não será entregue de bandeja, é necessário muita luta e organização. E somos nós, trabalhadores quem devemos colocar isso em pauta. E aí trabalhador, vamos lutar? Entre em contato com a Unidade Classista http://unidadeclassista.org.br/contato/ e faça parte desse movimento de luta!
- Alex Roberto é diretor do Sindados MG e membro da Coordenação Nacional da Unidade Classista