Metalúrgicos em greve negociam acordo salarial por empresa no ABC

Valor Econômico

Os metalúrgicos no Estado de São Paulo ligados à Central Única dos Trabalhadores (CUT) estão fechando acordos salariais por empresas e adotaram como estratégia a realização de greve nas indústrias que não concordam com aumento salarial de 8%. A base da CUT, que conta com cerca de 250 mil metalúrgicos, vem fazendo paralisações isoladas desde a semana passada. Ontem, os metalúrgicos do ABC entraram em greve por tempo indeterminado nas empresas que não concordaram com o reajuste de 8%.

De acordo com o presidente da Federação dos Metalúrgicos da CUT, Valmir Marques, várias empresas estão negociando diretamente com os 14 sindicatos da base da FEM. Até o início da noite de ontem, 76 empresas do base do sindicato do ABC já haviam fechado acordos. Restavam, segundo o sindicato, 63% dos trabalhadores da base em greve. O movimento não inclui as montadoras, que fecharam, em 2010, um acordo salarial válido por dois anos.

Marques amenizou o discurso de “greve por tempo indeterminado”, considerando o movimento de acordos coletivos firmados entre empresas e sindicatos. “As paralisações nas bases estão acontecendo, mas são pontuais. Os sindicatos têm feito pressão nas empresas e as empresas, por sua vez, buscam o sindicato para fechar um acordo”, afirma.

Em 2011, os metalúrgicos das montadoras do ABC assinaram um acordo por dois anos, que garantia ganho real de 5% no período. Os trabalhadores dos demais grupos – que não fecharam acordo válido pelo biênio -, entre eles os de autopeças, pedem reajuste nominal de 8% neste ano, o que representaria ganho real de 2,5%.

Valdemar Cardoso, coordenador da comissão de negociação da empresas do Grupo 8, que envolve 36 mil trabalhadores da FEM-CUT nos ramos de trefilação, laminação e refrigeração, acredita que houve um esforço grande do setor patronal em oferecer aumento real de 2%. “Os trabalhadores pleiteiam o aumento da indústria automobilística, mas não entendem que há segmentos diferenciados, com queda de produtividade, cuja maior parte é formada por micro e pequenas empresas, como o nosso, em que 93% das empresas se enquadram nessa classificação.”

Até ontem, o Grupo 8 tinha oferecido um reajuste de 7,5% nas empresas com mais de 50 trabalhadores e de 7% nas empresas com menos de 50 funcionários. “O custo da mão de obra chega a 40% em muitas das nossas empresas, não temos como acompanhar a indústria automotiva”, diz. Na semana passada, os metalúrgicos definiram em assembleias pelo Estado que o reajuste reivindicado para todos os grupos seria de 8%. Caso contrário, haveria paralisações.

Apesar de ainda não terem sido marcadas, algumas rodadas de negociação devem ocorrer nesta semana com os demais grupos dos metalúrgicos, à medida que as paralisações nas empresas avançarem. Ontem, a FEM reuniu-se com representantes do Grupo 2, de máquinas e eletrônicos. A proposta patronal chegou a 6,5% de reajuste, o que, segundo Marques, não muda o estado de greve.

Entre os metalúrgicos em São Paulo, apenas o grupo de fundição já fechou acordo neste ano. Cerca de 4 mil trabalhadores que compõem a sua base no Estado garantiram 8% de reajuste salarial. De acordo com Marques, também em outras cidades as empresas estão negociando de forma direta.

“As empresas estão procurando os sindicatos também em Taubaté, Sorocaba, Itu e outras bases. As paralisações vão continuar onde a reivindicação não for atendida”, diz Marques. Por isso, o movimento grevista está fragmentado, já que algumas empresas de setores que ainda não fecharam acordo estão atendendo às reivindicações.