Mercedes avalia dispensa de temporários no ABC

Valor Econômico

Depois de congelar salários, suspender contratos de trabalho e programar mais 15 paradas de produção até janeiro, o próximo passo da Mercedes-Benz diante da ainda crítica situação no mercado de caminhões pode ser a redução do quadro de funcionários.

A montadora avalia não renovar os contratos temporários de aproximadamente 480 metalúrgicos se não houver reação das vendas. Paralelamente, segue discutindo alternativas para adequar a folha de pagamento no complexo industrial de São Bernardo do Campo, no ABC Paulista.

Oficialmente, a empresa diz que não tomou decisão sobre o assunto e que, antes de uma definição, aguarda a resposta do mercado aos últimos incentivos do governo, como a redução para 2,5% ao ano dos juros no financiamento de caminhões pelo Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Além disso, a Mercedes-Benz, segunda em vendas no setor, deve estender por mais tempo o regime de lay off – suspensão de contratos de trabalho – no ABC, onde são produzidos caminhões e ônibus, além de eixos, câmbios e motores.

A ideia é levar o programa até 31 de janeiro, no último dia do acordo fechado na semana passada com o sindicato local para evitar demissões em massa e, ao mesmo tempo, equilibrar os custos da empresa.

No último acerto, anunciado na terça-feira, ficou definido que os trabalhadores permanecem dispensados até 17 de dezembro – um mês além do que estava previsto inicialmente. Mas o acordo dá à Mercedes-Benz a possibilidade de prorrogar o lay off por mais um mês, o que já está sendo considerado como muito provável.

Contudo, apenas os operários contratados por tempo indeterminado estão garantidos no programa. Os temporários – cerca de um terço dos 1,4 mil metalúrgicos em lay off – não entraram no último acordo de prorrogação.

Esses trabalhadores entraram na empresa há pouco mais de um ano para reforçar o terceiro turno da fábrica, no momento em que a indústria caminhava para o recorde de produção, com 223,4 mil caminhões fabricados em 2011.

Na virada do ano, contudo, a chegada da linha de caminhões menos poluentes, com preços até 15% maiores devido a mudanças no motor para atender às novas regras de emissões, inverteu o cenário e a produção registrou queda de 40,2% no acumulado até agosto.

No mesmo período, numa combinação de resistência das transportadoras aos novos veículos e desaceleração econômica, as vendas caíram 19,3%, atingindo as principais montadoras instaladas no país (veja gráfico).

Para se adequar à nova realidade, a Mercedes-Benz já lançou mão de férias coletivas, licenças remuneradas e uma série de paradas de produção desde o início do ano. Na expectativa de uma reação do mercado, a montadora chegou a renovar parte dos contratos temporários em maio, mas a demora na retomada das vendas colocou em risco a manutenção deles no quadro.

Como os contratos são por tempo estabelecido, a Mercedes-Benz avalia que a dispensa dos temporários não rompe o acordo fechado com os metalúrgicos do ABC de não demitir funcionários em São Bernardo. Por sua vez, o sindicato dos metalúrgicos no ABC enfatiza que a principal finalidade desse pacto é a manutenção dos empregos até 31 de janeiro.

Estima-se que o excedente na montadora supere 3 mil funcionários, incluindo na conta os 1,4 mil que estão com contratos suspensos e, por isso, não trabalham na unidade desde 18 de junho. No total, a Mercedes tem aproximadamente 12 mil empregados no ABC, dos quais 8,5 mil nas linhas de produção.

Apesar da recepção positiva ao anúncio de cortes de juros para bens de capital no fim do mês passado, a avaliação comum é que os efeitos da medida não serão imediatos e dificilmente inverterão a tendência de declínio nas vendas em 2012. A indústria ainda trabalha com a expectativa de queda de 15% a 20% do mercado neste ano.

Na projeção da Fenabrave, entidade que representa as concessionárias, os emplacamentos de caminhões devem fechar o ano 19% abaixo do recorde de 2011, quando 172,6 mil unidades foram licenciadas. Por isso, a atividade das montadoras segue em ritmo reduzido. A Ford, também em São Bernardo, adota a chamada semana curta, com um dia a menos de trabalho, desde o início do ano. Como parte do último acordo trabalhista, semanas mais curtas também acontecem na Mercedes: serão 15 paradas de produção de 1 de setembro a 31 de janeiro.

Já em Resende, no sul do Rio de Janeiro, 270 operários estão dispensados até dezembro na MAN, líder no segmento com a marca Volkswagen. A companhia ainda retirou o terceiro turno de produção e o volume diário de caminhões da linha caiu de 350 para 240 unidades.