Médicos prometem boicote a planos
Correio Braziliense
Os consumidores que pagam por planos de saúde devem ficar em alerta. Médicos de todo o país prometem tornar oficial o que já fazem informalmente: recusar o recebimento de convênios entre 10 e 25 de outubro, como forma de exigir aumento nos honorários e gritar contra o calote de várias operadoras. Atualmente, os profissionais orientam os atendentes de seus consultórios particulares a privilegiarem os clientes que pagam as consultas à vista. Com isso, quem não pode arcar com despesas que chegam a R$ 1 mil, precisa esperar até quatro meses para receber atendimento.
Segundo os médicos, da mesma forma que tratam mal os consumidores, os planos de saúde abusam da mão de obra e se recusam a negociar reajustes nas tabelas de preços de serviços prestados. Eles garantem, porém, que a pressão sobre as operadoras não impedirá o atendimento nas emergências dos hospitais, até como forma de não transformarem o movimento em um ato que jogue a opinião pública contra eles. “Queremos o apoio dos beneficiários dos planos. Sabemos que as duas pontas, nós, os médicos, e os consumidores, somos o lado fraco da moeda”, disse um representante da categoria que pediu anonimato.
Anteontem, a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) proibiu a comercialização de 301 planos de 38 operadoras de saúde, como forma de tentar botar ordem na casa. Mas, para os médicos, é preciso que a agência também olhe para o lado dos prestadores de serviços, pois há uma relação muito desigual, que acaba só agravando a situação dos consumidores, que pagam caro pelos convênios.
Os organizadores do movimento asseguram que a mobilização será grande e a suspensão dos serviços ficará a critério dos médicos. Eles poderão escolher quais especialidades serão interrompidas e se a suspensão será por todos os dias programados, por exemplo. De acordo com a Associação Médica de Brasília, é importante ressaltar que os atendimentos de urgência serão mantidos e os pacientes com consultas marcadas serão previamente informados para não comparecerem aos consultórios. Certamente, as consultas serão reagendadas, podendo demorar meses para ser concretizadas.
Mas não são somente os honorários que incomodam os médicos. O hospital Prontonorte avisa que está tendo que tomar medidas drásticas em razão da inadimplência de um dos planos de saúde atendidos no local. Assim, desde a última quinta-feira, o estabelecimento não recebe mais pacientes beneficiários da Geap, um dos principais convênios atendidos no Distrito Federal.
De acordo com a diretora comercial do Prontonorte, Danielle Feitosa, os atrasos no pagamento passam de 120 dias. A inadimplência por parte dos planos, segundo ela, é recorrente. “As operadoras atrasam poucos dias ou até um mês, mas nunca nessas proporções. Por isso suspendemos o atendimento”, disse. A diretora afirma ainda que a suspensão deve atingir, sobretudo, os idosos, já que 80% dos pacientes do plano possuem mais de 60 anos. Procurada pelo Correio, a Geap afirmou, por meio de nota, que “realiza mensalmente o pagamento de sua rede prestadora” e que esse é o único caso de suspensão de convênio em Brasília.