Lula desestimula ações grevistas

O Globo

Depois do apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) por sua postura diante da greve do funcionalismo federal, a presidente Dilma Rousseff foi elogiada ontem pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Segundo ele, Dilma vive a “angústia” de não poder atender os servidores e merece a compreensão dos grevistas. A greve dos servidores federais já atinge 300 mil trabalhadores e algumas categorias, como a Receita Federal, estão paradas há mais de 50 dias.

– A presidente Dilma tem sensibilidade, ela vive a angústia de não poder atender àquilo que as pessoas precisam, porque o dinheiro é curto – disse ele ontem em São Paulo. – As pessoas têm que compreender que estamos vivendo uma crise mundial de grande repercussão. A Europa está passando por momentos difíceis e os EUA também.

O ex-presidente defendeu ainda, por um lado, o direito de greve do funcionalismo e, por outro, o direito do governo de atender ou não.

– Acho que o governo está disposto ao diálogo; e parece que está havendo as reuniões necessárias.

Dia marcado por manifestações

Acuada pelo avanço das greves dos servidores públicos federais em todo o Brasil, a equipe da presidente Dilma deve destinar entre R$ 12 bilhões e R$ 14 bilhões para reajustes ao funcionalismo no Orçamento de 2013. O governo federal deve atender apenas reivindicações específicas, sobretudo para servidores com salário defasado em comparação às carreiras ditas de elite.

O anúncio das categorias contempladas será feito em encontros com representantes das categorias para evitar ânimos exaltados entre os que não forem beneficiados.

Do montante a ser reservado no Orçamento de 2013, R$ 2,2 bilhões já têm destino certo: a primeira parcela do reajuste dos professores (entre 25% e 40%) e dos servidores técnico-administrativos das universidades federais (15,8% em três parcelas). Eles continuam parados em todo o Brasil.

– A possibilidade de um reajuste linear está descartada – garantiu o secretário de Relações do Trabalho do Ministério do Planejamento, Sérgio Mendonça.

Para sustentar o discurso de austeridade, o governo alega um inchaço na folha de pagamento. Dados levantados pelo Planejamento mostram, por exemplo, que auditores fiscais da Receita Federal tiveram 55,06% de ganho real desde 2003. Eles estão em greve há quase dois meses e querem elevações de até 49% nos contracheques.

Ontem, o dia foi marcado por manifestações em Brasília. Pela manhã, servidores pararam a Esplanada dos Ministérios e fizeram protestos em frente ao Palácio do Planalto enquanto a presidente Dilma Rousseff anunciava o pacote de investimentos em infraestrutura. Os trabalhadores realizaram uma marcha que, segundo os sindicatos, reuniu 12 mil pessoas.

À tarde, foi a vez de um grupo de pelo menos 400 servidores do Judiciário fazerem manifestação com faixas, apitos e vuvuzelas em frente ao Supremo Tribunal Federal (STF) e chegaram a incomodar os ministros, durante o julgamento do mensalão. Os grevistas chegaram a ameaçar derrubar a grade colocada em frente ao Palácio. Diante do clima tenso, policiais formaram um cordão de isolamento.

Sem acordo com o governo, a maioria das categorias promete intensificar a mobilização hoje.