Kátia Abreu compara movimento grevista às invasões do MST
Valor Econômico
A presidente da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), senadora Kátia Abreu (PSD-TO), comparou o movimento grevista nos portos às invasões organizadas pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST). “Vai funcionar mais ou menos do mesmo jeito que nas invasões: a sociedade é a favor da reforma agrária, mas contra as invasões”, afirmou Kátia, ao ser questionada sobre as paralisações nos portos. “Eu tenho certeza de que não haverá apoio popular, e isso é importante.”
Apesar de a Força Sindical ter atraído os holofotes, com a cruzada do deputado Paulo Pereira da Silva (PDT-SP) contra a medida provisória que altera as regras de funcionamento dos portos, a Central Única dos Trabalhadores (CUT) também apoia a greve.
A Federação Nacional dos Portuários, vinculada à CUT e que congrega principalmente trabalhadores ligados à administração dos portos nas Companhias Docas, aderiu ao movimento e participará das duas paralisações recém-anunciadas. Primeiro, as atividades nos portos de todo o país serão interrompidas por seis horas, na sexta-feira de manhã. Depois, na terça-feira à tarde, os trabalhadores cruzarão os braços por outras seis horas.
De acordo com o presidente da federação de portuários, a decisão de antecipar as paralisações ocorreu por receio de que a MP dos Portos seja aprovada sem uma análise de “todas as emendas”. “O Congresso tem um prazo a cumprir. Não sabemos se haverá tempo para analisar todas as emendas ou se o texto será aprovado como o governo quer.”
Na CNA, Kátia Abreu divulgou um extenso diagnóstico da entidade sobre o setor e apontou riscos de um “apagão portuário” se o ritmo de investimentos não for acelerado. Ela lembrou que a movimentação de contêineres no país aumentou 10,3% ao ano, entre 1998 e 2011, e pode duplicar novamente nos próximos sete anos. Para ela, “a tendência de conteinerização de cargas agrícolas é uma realidade” e é preciso ampliar a oferta de terminais portuários para atender à demanda crescente. Se a MP 595 não for aprovada, segundo Kátia, haverá um “apagão no médio prazo”.
A senadora fez uma defesa aguerrida da medida provisória, que libera a construção de novos portos privados, sem a exigência de carga própria para tirar os empreendimentos do papel. Citando um ranking elaborado pelo Fórum Econômico Mundial, o levantamento da CNA mostra que o Brasil ocupa a 130ª posição entre 142 países, em uma lista que mede a qualidade da infraestrutura portuária. Um exemplo mencionado pela entidade é o tempo que os navios ficam parados nos portos, à espera não só do embarque e desembarque, mas também da realização de procedimentos aduaneiros.
O Brasil demora, em média, 5,5 dias para desembarcar suas cargas nos portos. Hong Kong, que tem o porto mais produtivo do planeta, faz isso em menos de 15 horas. Para a senadora, um ponto importante para melhorar o desempenho dos portos é fazer com que órgãos do governo, como a Receita Federal e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), funcionem em período integral. A MP não trata diretamente disso, mas o assunto está na pauta do governo.