Grife de luxo utiliza trabalho escravo para produção de roupas

Adital

Foto:Anali Dupré

Uma das marcas de roupas mais caras do Brasil, a Le Lis Blanc, utiliza trabalho para fabricação de suas peças em São Paulo. Repórter da organização Repórter Brasil (www. reporterbrasil.org.br) acompanhou a fiscalização realizada por fiscais da Superintendência Regional do Trabalho e Emprego de São Paulo (SRTE/SP) em três oficinas, de onde foram resgatadas 28 pessoas, incluindo uma adolescente de 16 anos.

Todas as três oficinas com problemas eram “quarteirizadas”. Duas empresas intermediárias encomendavam as peças e as repassavam para a grife de luxo. Mesmo assim, de acordo com o auditor fiscal Luís Alexandre Faria, que participou da ação, não há dúvidas sobre a culpa daRestoque S.A, empresa dona da marcaLe Lis Blanc, em relação às condições em que os trabalhadores foram resgatados.

Numa das oficinas, em cômodos próximos, ficavam os trabalhadores bolivianos, vivendo em beliches em quartos apertados, alguns com divisórias improvisadas, recebendo por produção e cumprindo jornadas exaustivas, de 10 horas por dia. Segundo os depoimentos, em média o valor pago por peça variava de R$ 2,50 a R$ 7. Nos shoppings, as roupas com a marca Le Lis Blanc são vendidas por até 150 vezes mais.

Quando a fiscalização foi feita, as oficinas estavam paradas, devido a um cancelamento repentino de encomendas. “Isso só agravou a situação, pois tirou a única possibilidade de subsistência dos trabalhadores que costuravam para a empresa”, explica o auditor fiscal Renato Bignami, que coordenou a ação. “O principal problema que encontramos foi o fato de trabalhadores morarem e viverem no mesmo local”, completa. Além de submetidos a condições degradantes e jornada exaustiva, muitos dos resgatados estavam presos a dívidas, o que também configura escravidão contemporânea. Todos resgatados são bolivianos.

Também foi caracterizadotráfico de pessoas para fins deexploração de trabalho em condição análoga à de escravo, conforme previsto noProtocolo Adicional à Convenção das Nações Unidas contra o Crime OrganizadoTransnacional Relativo à Prevenção, Repressão e Punição do Tráfico de Pessoas, e naInstrução Normativa n. 91da Secretaria de Inspeção do Trabalho do Ministério doTrabalho e Emprego.

Segundo a SRTE/SP, a diretoria da Le Lis Blanc assumiu a responsabilidade pelo caso, fazendo o registro e regularizando o pagamento de encargos de todos os trabalhadores, incluindo direitos retroativos referentes ao período em que ficou comprovado que os costureiros trabalharam para o grupo. As indenizações pagas diretamente aos resgatados chegaram a cerca de R$ 600 mil, ainda segundo as autoridades.

Com informações de Daniel Santini, da Repórter Brasil.