Greve pode afetar fornecimento de GLP

O Estado de S. Paulo

O fornecimento de gás de cozinha (GLP) no Estado de São Paulo poderá ficar seriamente comprometido se a Justiça do Trabalho não decidir até amanhã o dissídio dos trabalhadores da categoria. Até agora, os problemas enfrentados pela população são pontuais. Mas se a greve, que já dura mais de uma semana, se prolongar, a situação pode ficar complicada, diz o presidente do Sindicato Nacional das Empresas Distribuidoras de Gás Liquefeito de Petróleo (Sindigás), Sergio Bandeira de Mello.

Hoje haverá duas audiências de conciliação em Campinas: uma com o Sindicato dos Rodoviários e outra com o Sindicato dos Trabalhadores no Comércio de Minérios e Derivados de Petróleo. Mello, no entanto, não acredita em desfecho positivo, como já não foi possível na semana passada com o sindicato que representa a Capital, Grande São Paulo e Baixada Santista, que manteve a greve. “Agora acreditamos apenas em uma pacificação na Justiça.”

Os trabalhadores reivindicam reajuste salarial de 7,39%, participação nos lucros de 2,1 salários, R$ 350 de cesta básica e R$ 3,2 mil de auxílio funeral, entre outros itens, explica o primeiro secretário do sindicato dos trabalhadores de São Paulo (Sinpetrol), Juvenil Acácio de Souza. “Estamos apostando no julgamento, já que o sindicato patronal não acatou nossa proposta.”

As empresas oferecem reajuste de 6%, cesta básica de R$ 310 e participação nos lucros de 1,6 salário. O presidente do Sindigás explica que a situação atual do setor não permite ir além nas negociações. “Apesar das projeções apontarem aumento de 2% nas vendas, os lucros devem cair entre 28% e 40% por causa do avanço nos custos de fretes, energia elétrica e mão de obra.” Na avaliação dele, a continuidade da greve pode causar grave desabastecimento em São Paulo, apesar de liminar que determina uma produção entre 30% e 40%.

Cerca de 10% do consumo de São Paulo tem sido abastecido por outros Estados, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Espírito Santo. “O problema é que o custo logístico é alto e o produto chega aqui a um preço mais elevado”, diz Mello. Ele completa que durante esta semana a greve não teve reflexo tão negativo para a população porque muita gente tinha reserva em casa e as distribuidoras ainda tinham estoque.

Sem estoque

O proprietário de um restaurante em Santos, Guilherme Brum, conta que precisou mudar de fornecedor para não ter problemas. “O caminhão que fazia a entrega dos botijões não está circulando, então tivemos de pedir diretamente à distribuidora.” Embora o custo seja maior, o abastecimento ficou garantido. O empresário, porém, está preocupado com os estoques: “Telefonei para o novo fornecedor e ele disse que até o fim de semana ainda vai ter gás. Espero que isso se resolva até lá.”

Em Ribeirão Preto, a situação está mais complicada. O dono da distribuidora Avenida do Gás, Marcos Vinícius Ilário, conta que os fornecedores só têm conseguido entregar metade dos botijões encomendados. Sabendo da greve, alguns clientes habituais, principalmente donas de casa, compraram mais unidades para deixar no estoque. Na distribuidora Águia Gás, clientes ficaram sem botijões, segundo a proprietária Paula Míriam de Barros. No domingo, a empresa não abriu por falta de gás.

Na região de Campinas, os mais prejudicados têm sido os consumidores residenciais e o comércio de pequeno porte, como restaurantes e bares. “Ninguém se planeja para um problema desse, que pode prejudicar o faturamento do ano todo”, diz o superintendente da Associação Comercial e Industrial de Campinas, Luiz Eduardo Drouet. O presidente da Associação Comercial e Industrial de Valinhos, Emerson Ferrari, prevê que alguns estabelecimentos tenham de fechar, caso a greve continue: “Alguns comerciantes já estão indo buscar gás em outros Estados. Se não regularizar, vão ter de fechar as portas.”