Funcionalismo teve perda no salário em 2011

Correio Braziliense

Apesar de manter a maior renda mensal do país, exatos R$ 3.835,88 no ano passado, os brasilienses tiveram perda em relação a 2010. Enquanto, na média, os salários dos trabalhadores brasileiros subiram 2,93% em termos reais, alcançando R$ 1.902,13, no Distrito Federal caíram 2,63%. É o resultado da contenção salarial imposta pelo governo aos servidores, que, em Brasília, tiveram recuo de 3,91% na remuneração quando se leva em conta a inflação. A perda tem sido combustível para greves, algumas encerradas, outras em curso. Os salários pagos aqui pela construção civil também caíram, e ainda mais do que os do funcionalismo: 4,98%. Os dados são da Relação Anual de Informações Sociais (Rais), divulgados ontem pelo Ministério do Trabalho.

Segundo o secretário interino de Salário e Emprego, Rodolfo Torelly, a queda de salários na construção pode ser explicada por mudanças de perfil da mão de obra. “A hipótese que levantamos é de os profissionais mais qualificados, como engenheiros, terem sido substituídos por outros mais baratos, como pedreiros e carpinteiros, no desenrolar da obra”, explicou.

Nos dois anos anteriores, entretanto, o salário dos brasilienses cresceu mais do que a inflação. Em termos reais, o ganho no rendimento foi de 1,93% de 2008 para 2009 e de 1,26% de 2009 para 2010. E mesmo com a queda, a remuneração obtida pelos trabalhadores em Brasília é mais do que o dobro dos salários do Ceará, que estão no nível mais baixo do país. No ano passado, a remuneração média no estado, apesar de ter crescido 4,92% em termos reais, foi de R$ 1.367,79.

O Distrito Federal não ficou sozinho na perda de rendimentos de 2010 para 2011. Amapá e Roraima também registraram queda real no rendimento médio dos seus trabalhadores. No Amapá o tombo foi de 1,89%, puxado pela construção civil (-31,20%) e pela agropecuária (-9,67%). Em Roraima, cujos salários perderam 0,60% do valor real, os setores que tiveram variação negativa nos rendimentos dos trabalhadores foram o extrativo mineral (-14,25%) e o de serviços (-4,19%).

A Rais é um registro administrativo criado em 1975, com declaração anual obrigatória a todos os estabelecimentos existentes no país. Diferentemente do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que mede o fluxo mensal dos registros em carteira no país, a Rais capta também o emprego no setor público (estatutários). É a melhor fonte de informações de que o governo dispõe sobre o mercado formal de trabalho, incluindo dados em relação ao grau de instrução da força de trabalho.

Disparidades

Os números divulgados ontem demonstram que o ambiente profissional reflete o preconceito e a discriminação que domina a sociedade. Embora os rendimentos dos trabalhadores negros tenham crescido mais do que os dos trabalhadores brancos, eles recebem, em média, apenas 68,51% dos salários desse segmento. Mulheres com nível superior incompleto continuam ganhando 67,44% do salário de um homem na mesma condição. No caso dos que possuem ensino superior completo, a defasagem é ainda maior: as mulheres têm 60,42% do salários dos homens.

Há revelações mais positivas, porém. Cada vez ganham mais espaço os trabalhadores com maior nível de escolaridade e mais maduros, embora haja também maior espaço para quem começa. Em termos relativos, o percentual de emprego cresceu acima da média nacional para os trabalhadores com idade entre 50 e 59 anos (7,99%) e para os trabalhadores com mais de 65 anos (11,45%), além dos jovens aprendizes com idade entre 16 e 17 anos (14,48%). Enquanto cai quase 20% a participação dos trabalhadores analfabetos no mercado de trabalho — eles eram 222.251 em 2010 e passaram a ser 179.024 no ano passado — , sobe a participação dos trabalhadores com nível médio completo (8,54%) e com nível superior completo (8,06%).

Pelos dados da Rais, o número de vínculos empregatícios formais atingiu 46,3 milhões em 2011. Em 2010, eram 44,06 milhões. O crescimento se deve ao aumento do emprego formal no país, de 2,24 milhões no ano passado. Foi o terceiro melhor saldo líquido do emprego com carteira assinada, menor apenas do que os postos de trabalho gerados em 2010 (2,86 milhões) e 2007 (2,45 milhões).