França quer reduzir em 40 bilhões custo do trabalho no país
O Estado de S. Paulo
Depois de anunciar um programa de austeridade destinado a economizar € 30 bilhões em 2013, o governo socialista François Hollande vai anunciar medidas para reduzir em € 40 bilhões o custo do trabalho na França.
O programa prevê uma reforma fiscal nas taxas que incidem sobre empresas. O objetivo é recuperar a competitividade da indústria, área em que o país perdeu terreno para a Alemanha, e enfrentar melhor a concorrência dos emergentes, em especial da Ásia e do Leste Europeu.
O “choque de competitividade” planejado pelo governo Hollande deve entrar em vigor em janeiro, após a entrega do relatório do comissário-geral de Investimentos, Louis Gallois. As modalidades da reforma ainda estão sendo discutidas, mas as linhas gerais foram reveladas ontem pelo jornal Le Monde e devem ser fixadas ainda este mês. O objetivo é reduzir o custo do trabalho em € 8 bilhões a € 10 bilhões por ano, transferindo parte dos encargos trabalhistas a impostos sobre o consumo.
A iniciativa tem como alvo os custos salariais e não salariais, como a contribuição de 5% paga pelas empresas e destinada ao financiamento de programas sociais. Os empreendedores seriam desonerados quando pagarem remunerações que se situem entre 1,6 e 2,2 vezes o salário mínimo – ou entre € 2,2 mil e € 3,2 mil. Essa faixa salarial é apontada como crítica em termos de competitividade, porque é nela que se situam a maior parte de indústrias que concorrem no mercado externo da França.
A preocupação com o custo do trabalho na França cresceu depois do fechamento da fábrica do grupo PSA Peugeot-Citroën em Aulnay-sous-Bois, na região metropolitana de Paris. De acordo com Philippe Varin, diretor-presidente da montadora, a decisão teria sido tomada pela desvantagem competitiva da empresa diante da concorrência de construtores que produzem automóveis em países com baixo custo da mão de obra, como a Coreia do Sul ou a Romênia.
As críticas de Varin foram reverberadas nesta semana por Carlos Tavares, diretor-geral delegado da Renault, durante o Salão do Automóvel de Paris. “Estamos estagnados em uma situação que vai permanecer vários anos. Não voltaremos aos níveis pré-crise antes de 3 a 5 anos.”
Hora cara. A pressão dos industriais se baseia em estudos econômicos que apontam a falta de competitividade da França em relação a seu principal concorrente europeu, a Alemanha. De acordo com o Eurostat, o custo horário do trabalho francês era em média de € 34,20, ou 12% superior ao alemão.