Folha de pagamento da indústria cresce com “soluços”

Valor Econômico

A folha de pagamento real da indústria apresenta crescimento considerável em 2012, com alta acumulada de 3,2% entre janeiro e setembro, na comparação com igual intervalo do ano passado. Esse é o movimento esperado em um mercado de trabalho aquecido, com baixa ociosidade de mão de obra, sobretudo qualificada. Mas há uma nítida desaceleração desse indicador. De acordo com a Pesquisa Industrial Mensal de Emprego e Salário (Pimes), divulgada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), a folha de pagamento real da indústria recuou 2,1% na comparação dessazonalizada entre setembro e agosto.

Essa queda é justificada, principalmente, pela alta base de comparação. Agosto foi o mês em que a indústria extrativa pagou aos trabalhadores participação sobre lucros. Em relação a julho, com ajuste, a folha de pagamento real tinha crescido 2,1%. Esse índice, que foi completamente devolvido no mês seguinte, indica uma estagnação dos salários reais nesse bimestre.

“O crescimento dos salários tem a ver com o avanço da produtividade na indústria, ainda que baixo. O aquecimento do mercado de trabalho brasileiro, principalmente nos setores de comércio e serviços, esbarra na indústria e puxa os salários para cima. Mas já é perceptível um recuo importante na folha de pagamentos. É provável que ela comece a crescer com taxas mais modestas nos próximos meses”, afirma Rogério César de Souza, economista do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi).

Na comparação com igual mês do ano anterior, o resultado de setembro de 2012 (alta de 1,4% da folha de pagamento real) é o menor desde outubro do ano passado (alta de 1,1% em igual comparação). O indicador vem desacelerando desde junho, quando registrou alta de 4,1% ante junho de 2011. Em julho, avançou 2,4% e, em agosto, 1,6%, sempre na comparação com igual mês do ano anterior.

“Há pouca margem de ociosidade no mercado de trabalho. A taxa de desemprego está na mínima histórica. A maior parte dos desempregados foi absorvida e esse quadro deve se manter. Isso contribui para o aumento dos salários”, explica Rafael Bacciotti, economista da Tendências Consultoria. Ele acredita que a queda no pessoal ocupado [de 0,3% entre agosto e setembro, com ajuste] e no número de horas pagas [0,6% na mesma comparação] contribuem para esse quadro de valorização dos salários da mão de obra que já está empregada.

Ainda assim, esse recuo nos indicadores de emprego industrial aponta para a sustentação da indústria via aumento de produtividade, o que foi visto em agosto, quando a produção cresceu 1,5% na comparação com ajuste sazonal com julho e o número de horas pagas não variou.

A produtividade na indústria caiu 0,4% na comparação dessazonalizada entre agosto e setembro. Apesar da queda em setembro, a produtividade no terceiro trimestre avançou 1,2% ante o trimestre anterior. Nesse tipo de comparação, o indicador vem acelerando – no segundo trimestre, registrou alta de 0,71% e, no primeiro trimestre, queda de 0,4%, sempre na comparação com o trimestre anterior.

Isso indica uma tendência para a indústria, que reteve mão de obra durante vários meses em que a produção esteve em queda, temendo pagar salários ainda mais altos para recontratar essa mão de obra num momento de retomada da atividade. A incerteza quanto à retomada consistente da economia permanece e, agora, a manutenção do pessoal ocupado ficou mais cara, o que deve fazer com que esses dois indicadores cedam mais que a produção, incorrendo em aumento de produtividade.

Entre janeiro e setembro, na comparação com igual período de 2011, a produtividade da indústria caiu 1,32% – resultado de queda acumulada de 3,5% na produção, mas uma redução menor no número de horas pagas, de 2,2%.