Empresas de ônibus lucram até com vans

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Motoristas legalizados acusam Fetranspor de falta de transparência.Transporte alternativo paga taxa de 8% sobre sua receita a empresas criadas pela entidade para processar a bilhetagem eletrônica

A teia dos negócios controlados pelos empresários de ônibus do Rio, que vão desde agência de publicidade ao futuro VLT do Centro, envolve até um antigo inimigo: as vans. O transporte alternativo legalizado tem de adotar equipamentos de bilhetagem eletrônica, que são fornecidos — e a receita é processada — por duas empresas criadas pela Fetranspor, associação controlada pelo maiores empresários do setor no estado, como Jacob Barata, conhecido como o “Rei dos ônibus”. Os motoristas de vans, no entanto, dizem que o sistema não é transparente e que não estão satisfeitos, porque pagam uma taxa de 8% sobre as receitas, bem mais que os R$ 0,0215 repassados pelos ônibus em cada operação. A Fetranspor alega que todas as informações estão disponíveis aos motoristas

Empresas criadas pela Fetranspor operam bilhetagem das vans, que repassam 8% da receita

O emaranhado de negócios dos empresários de ônibus do Rio, que inclui participação em agência de publicidade, terminais rodoviários e até no futuro VLT, transformou antigos adversários em fonte de receita. Em fase de legalização pela prefeitura, as vans já licitadas têm equipamentos de bilhetagem eletrônica, de modo a aceitarem vale-transporte e Bilhete Único Carioca (BUC). Só que esses aparelhos são fornecidos – e a receita é processada – por RioCard e RioCard Tecnologia da Informação, empresas criadas pela Federação das Empresas de Transporte de Passageiros (Fetranspor) para operar o sistema. Entre os dirigentes da entidade estão alguns dos maiores empresários do setor no estado, como José Carlos Reis Lavouras, Amaury de Andrade e Jacob Barata, que é conhecido como o “Rei dos Ônibus”.

Os motoristas de vans pagam taxa de 8% sobre as receitas, e as empresas filiadas à Fetranspor, R$ 0,0215 por operação (o que equivale a cerca de 0,8% do valor de uma passagem). Em nota, a federação afirmou que esse valor vem caindo, “por conta de maior eficiência e produtividade dos processos internos”. Mas os motoristas ainda mostram insatisfação com o processo de prestação de contas, que consideram pouco transparente. A Fetranspor argumenta que todas as informações estão à disposição deles.

A reclamação sobre a distribuição das receitas entre os 104 motoristas de vans já legalizados é a mesma que levou a Transportes Paranapuan, que opera na Zona Norte, a entrar na Justiça contra a Fetranspor, pedindo a apresentação das planilhas.

– Pelas nossas planilhas, o que a RioCard deposita é inferior ao que transportamos – diz o consultor Jorge Rodrigues, que faz a contabilidade dos motoristas de vans da Zona Oeste.

Secretário: dúvidas são naturais

A queixa é a mesma entre aqueles que, há dois meses, receberam autorização para ligar Rocinha e Vidigal ao asfalto. Outra dúvida é se os motoristas de lotadas vão ou não compartilhar os subsídios da prefeitura pelo transporte gratuito dos alunos da rede municipal. Só este ano serão cerca de R$ 55 milhões.

Isso motivou a intervenção da prefeitura. No sábado, após uma reunião na Rocinha com o secretário municipal de Transportes, Carlos Roberto Osorio, ficou combinado que uma comissão irá hoje à RioCard tirar dúvidas. Mas os motoristas da Zona Oeste reclamam que não foram convidados.

– A integração das vans é um processo novo, é natural que haja dúvidas. Desconhecia reclamações na Zona Oeste. Quanto à divisão das receitas, isso é um acordo feito entre as partes. Não é uma questão da prefeitura – disse Osorio.

Segundo os motoristas de vans, eles recebem R$ 1,49 por passageiro transportado sem integração e R$ 1,01 pelo usuário do BUC, ambos os valores já com o desconto de 8%. Em nota, a Fetranspor disse que esse desconto é maior que o das empresas de ônibus porque a RioCard assumiu as despesas de instalação e manutenção dos equipamentos das vans.

O Sindicato dos Proprietários de Vans afirmou já ter sido procurado por outras empresas de bilhetagem eletrônica, que ofereceram uma taxa menor do que os 8% da Fetranspor. Só que a legislação atual estabelece, nas operações de integração, que a administração do sistema é exclusiva das empresas de ônibus ou da entidade por elas escolhida.

A federação disse ainda que os custos pela operação da bilhetagem não são computados nas planilhas usadas para calcular as tarifas dos ônibus. Sobre a falta de acesso às planilhas, a Fetranspor disse depender de autorização do município.

Um fato curioso sobre o sistema de bilhetagem é que a RioCard Tecnologia foi criada há dois anos em sociedade com Homero Quintaes, que era responsável pelos serviços de informática terceirizados usados pela Fetranspor. Em nota, a Fetranspor disse ter convidado Quintaes por ele ser “profundo conhecedor da tecnologia necessária”.