Eldorado capta recursos de fundo do FGTS

Valor Econômico

A Eldorado Brasil Celulose, empresa controlada pela J&F Participações, do Grupo JBS, fechou uma captação de R$ 940 milhões por meio de uma emissão de debêntures. A empresa, que saiu da fase pré-operacional neste mês, com a inauguração da fábrica localizada em Três Lagoas (MS), obteve os recursos com o fundo de investimento do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FI-FGTS).

Com um patrimônio da ordem de R$ 21 bilhões, o FI-FGTS foi criado em 2007 com o objetivo de obter retorno para o dinheiro dos trabalhadores a partir do investimento em projetos ligados a infraestrutura. Administrado pela Caixa Econômica Federal, o fundo investe tanto em instrumentos de dívida corporativa como diretamente no capital de empresas.

As debêntures da Eldorado possuem prazo de 15 anos e renderão ao fundo taxa de juros equivalente à variação da inflação medida pelo IPCA mais 7,41% ao ano. Praticamente não existem no mercado papéis com prazos semelhantes e a comparação mais próxima é com a ViaRondon, concessionária de rodovias paulista, que em junho deste ano obteve R$ 300 milhões com o fundo do FGTS pelo mesmo prazo, pagando IPCA mais 7,75% ao ano.

As debêntures da Eldorado contarão com fiança da J&F Participações. A holding que concentra os investimentos do grupo JBS obteve há cerca de um mês um empréstimo de R$ 500 milhões da Caixa, também via emissão de debêntures – nesse caso, sem conceder garantias. Além da J&F, a Eldorado tem entre os principais sócios os fundos de pensão Petros (dos funcionários da Petrobras) e Funcef (Caixa).

Graças à fiança da controladora, a emissão da Eldorado obteve a classificação de risco “BBB”, em escala nacional, da agência Standard & Poor”s (S&P). A nota das debêntures ficou um grau acima da obtida pela própria Eldorado, que recebeu “BBB-” da agência.

Para o vice-presidente de gestão de ativos de terceiros da Caixa, Marcos Roberto Vasconcelos, as condições das debêntures foram muito boas para o fundo. “Com a queda nas taxas de juros, não se encontra mais oportunidades como essa no mercado”, afirma. Segundo Vasconcelos, as negociações para a emissão de debêntures com a Eldorado levaram 14 meses.

A empresa usará os recursos obtidos do FGTS para implementar projetos de saneamento e logística, incluindo um sistema de hidrovias pelo qual deve escoar a celulose. “Era o tipo de investimento que faltava na nossa carteira”, diz Vasconcelos. Além do fundo, a fábrica da Eldorado conta com empréstimo do BNDES, que tem preferência no recebimento dos recursos sobre as debêntures, de acordo com o relatório da S&P.

O executivo da Caixa também se revela otimista com o investimento de R$ 600 milhões feito pelo FI-FGTS por uma participação no grupo Rede Energia. A empresa teve aceito o pedido de recuperação judicial e teve nesta semana o controle vendido por R$ 1 para a Equatorial Energia e a CPFL. Como o fundo permanece na companhia, o valor aplicado ainda pode ser recuperado. “Estamos convictos da qualidade dos ativos do Grupo Rede, que atua em Estados com crescimento acima da média do país.”

O FI-FGTS tem como meta obter uma rentabilidade equivalente à TR mais 6% ao ano. Neste ano, Vasconcelos diz que “é possível” que o fundo cumpra o objetivo. Mas como investe em projetos de longo prazo, Vasconcelos afirma que o desempenho da carteira não deve ser medido em períodos curtos como o anual.