Docentes da UFPE se manifestam
UC-PE
As manifestações sociais que emergem no país e que ficaram conhecidas como as “jornadas de junho” não podem ser compreendidas senão como expressão de um conjunto de problemas que afetam a vida de trabalhadoras e trabalhadores que convivem, cotidianamente, com a precarização de serviços e equipamentos públicos, com a negação de direitos sociais básicos, com a insegurança de viver nas cidades. Durante todos esses meses, assistimos, sistematicamente, mobilizações de grande visibilidade em defesa de transporte público, de educação e da saúde de qualidade, dentre tantas outras reivindicações.
Também em muitas universidades brasileiras essas manifestações eclodiram e os movimentos organizados dos estudantes, em aliança com outros setores, têm trazido ao debate público uma agenda de discussões que impactam o cotidiano acadêmico e a qualidade dos serviços que a legitimam enquanto instituição universitária referenciada na sociedade.
Os nossos jovens estudantes, que durante as décadas de 90 do século passado e nos anos 2000 pareciam ter sucumbido aos apelos das saídas individuais, levando-os, muitas vezes, a uma postura de conformismo e letargia, passaram a participar ativamente da vida política e, nas universidades, a reivindicar direitos de acesso e permanência para além das políticas assistenciais existentes. A discussão da EBSERH também é uma das principais bandeiras de lutas do movimento docente, dos servidores técnico-administrativos e dos estudantes. Não é a única, mas, no momento, é aquela que provoca um debate legítimo que incide sobre a vida da população que não consegue acessar o direito à saúde com qualidade. Daí sua importância estratégica para evidenciar os processos de sucateamento e privatização a que está submetida a universidade pública brasileira.
A recente ocupação da reitoria da UFPE é parte desse processo de disputas e de resistência. Compreendemos que é a partir dele que temos de construir o diálogo necessário para exercitar a capacidade de autonomia da gestão universitária em relação a governos, sindicatos e partidos de plantão.
Preocupados com algumas tendências que estão presentes, hoje, no cenário da UFPE pós-ocupação da reitoria, mas, principalmente porque precisamos fortalecer o caráter progressista e democrático na nossa universidade, em contraposição às fortes ofensivas conservadoras que insistem em conduzir os rumos da universidade com o “tacão de ferro” é que nos posicionamos frente aos recentes acontecimentos.
Somos contrários a todo tipo de destruição do patrimônio publico e exigimos apuração dos fatos no sentido de não confundirmos a ação organizada de estudantes que souberam recuar, a partir de uma correta análise da correlação de forças, com a ação de grupos não identificados e estranhos ao movimento. Todavia, não podemos ser coniventes com a política do medo e do terror estabelecida no momento pós-ocupação – potencializada pela mídia e por setores conservadores da Universidade – uma vez que esta prática somente reforça uma opção dos gestores por reprimir e apagar da vida universitária a livre expressão dos estudantes e criminalizar a ação dos movimentos organizados.
A ação da Polícia Federal e da Polícia Militar, como a que ocorreu no campus, contraria a história política de sujeitos e da própria UFPE, que, em meio aos processos mais perversos da Ditadura Militar, filaram trincheiras para defender a autonomia universitária e o direito de manifestação. Não podemos reeditar, no estado Democrático de Direito, a herança e a prática de militarização da gestão pública, sob pena de deixarmos para os nossos jovens a lição e o exemplo de que não vale a pena lutar pelos seus direitos. Vários docentes desta Universidade foram testemunhas da ação das polícias e da truculência da segurança patrimonial na desocupação da reitoria. E cumpriram o papel que lhes cabe enquanto mestres: contribuíram para intermediar a negociação, impediram a ação das forças militares, souberam ouvir os estudantes e abriram canais de comunicação em momentos de grande tensão e completo abandono daqueles por parte dos representantes da Instituição.
Entendemos que os nossos jovens estudantes não podem ser tratados como inimigos e por isso conclamamos todos aqueles/aquelas que defendem e têm um compromisso com uma sociedade/universidade democrática, solidária, livre de todo tipo de opressão, a não perder mais uma geração – que neste momento, exerce a sua capacidade de crítica e reaprende a fazer política. Se não soubermos lidar com essa nova conjuntura estaremos jogando-a nos braços do aparelho repressor do estado ou deixando-a entregue à própria sorte. E assim retrocederemos na história: todos contra todos!
Recife, 12 de dezembro de 2013
ASSINAM:
Airton Temístocles Gonçalves de Castro – Departamento de Matemática
Ana Cristina de Souza Vieira – Departamento de Serviço Social
Ana Elizabete Fiuza Simões da Mota – Departamento de Serviço Social
André Luiz de Miranda Martins – Centro Acadêmico do Agreste
Angela Santana do Amaral – Departamento de Serviço Social
Antonio Paulo Rezende – Departamento de História
Antonio Roazzi – Departamento de Psicologia
Atenágoras Oliveira Duarte – Centro Acadêmico do Agreste
Claudemir Leite da Silva – Centro Acadêmico do Agreste
Daniel Rodrigues – Centro de Educação
Daniela Ferreira – Centro de Educação
Dayse Cabral Moura – Centro de Educação
Elaine Judith de Amorim – Departamento de Clínica e Odontologia Preventiva
Ester Calland de Sousa Rosa – Centro de Educação
Evenildo Bezerra de Melo – Departamento de Geologia
Everson Melquíades de Araújo Silva – Centro de Educação
Evson Malaquias de Morais Santos – Centro de Educação
Fernando Magalhães – Departamento de Filosofia
Flavio Brayner – Centro de Educação
Gildemarks Costa e Silva – Centro de Educação
Glaudionor Gomes Barbosa – Centro Acadêmico do Agreste
Gustavo Gilson Oliveira – Centro de Educação
Heitor Scalambrini Costa – Departamento de Engenharia Elétrica
Heloísa Mendonça de Morais – Departamento de Medicina Social
Hildeberto Eulálio Cabral – Departamento de Matemática
Jaileila de Araújo Menezes – Centro de Educação
Jamerson Antonio de Almeida da Silva – Centro Acadêmico do Agreste
Jaqueline Barbosa – Centro Acadêmico do Agreste
Jorge Ventura – Departamento de Sociologia
Juliane Feix Peruzzo – Departamento de Serviço Social
Luis Anastácio Momesso – Departamento de Comunicação
Karina Valença Alves – Centro de Educação
Katharine Ninive Pinto Silva – Centro Acadêmico do Agreste
Kátia Calligaris Rodrigues – Centro Acadêmico do Agreste
Lady Selma Ferreira Albernaz – Departamento de Antropologia
Liana Lewis – Departamento de Sociologia
Lúcia Caraúbas – Centro de Educação
Luis Felipe Rios – Departamento de Psicologia
Lurildo Cleano Ribeiro Saraiva – Departamento de Medicina Clínica
Marcelo Barreto Cavalcanti – Colégio de Aplicação
Marco Antônio Mondaini de Sousa – Departamento de Serviço Social
Maria das Graças e Silva – Departamento de Serviço Social
Maria Emília Lins e Silva – Centro de Educação
Marlon Freire de Melo – Colégio de Aplicação
Maria do Socorro Abreu e Lima – Departamento de História
Marion Teodósio de Quadros – Departamento de Antropologia e Museologia
Michel Zaidan Filho – Departamento de Ciência Política
Miriam Damasceno Padilha – Departamento de Serviço Social
Mitz Helena Sousa Santos – Centro de Educação
Mônica Rodrigues Costa – Departamento de Serviço Social
Paulo de Barros Correia – Departamento de Geologia
Petronildo Bezerra da Silva – Centro de Educação
Rafaella Asfora – Centro de Educação
Raquel Cavalcante Soares – Departamento de Serviço Social
Rejane Dias – Centro de Educação
Ricardo Luiz de Lyra Santiago – Departamento de Sociologia
Roberta Ramos Marques – Departamento de Teoria da Arte e Expressão Artística/Dança
Rosineide de Lourdes Meira Cordeiro – Departamento de Serviço Social
Rui Gomes de Mattos de Mesquita – Centro de Educação
Telma Leal – Centro de Educação
Thiago Aquino – Departamento de Filosofia
Valdilene Pereira Viana Schmaller – Departamento de Serviço Social
Vantuil Barroso – Cátedra José Martí/ Centro de Educação
Xavier Uytdenbroek – Centro de Educação
LISTA EM CONSTRUÇÃO