Contra patrões e Cristina, sindicalistas param sistema bancário na Argentina

O Estado de S. Paulo

Uma greve geral paralisou ontem o sistema bancário em toda Argentina. O sindicato optou pelo confronto direto com o governo da presidente Cristina Kirchner e prometeu não recuar da exigência de aumento salarial de 35%. Inicialmente, os sindicalistas pretendiam estender a greve até hoje, mas depois voltaram atrás.

A proporção reivindicada pelos bancários eqüivale à inflação extraoficial registrada neste ano, segundo consultorias argentinas e agências internacionais de rating. Mas a Casa Rosada rejeita esse índice e sustenta que a alta dos preços em 2012 não passará de 10%.

Na quarta-feira, o Ministério do Trabalho ordenou a conciliação obrigatória, medida que suspenderia automaticamente a greve. No entanto, os sindicalistas rejeitaram a decisão, alegando que Cristina e os bancos estão aliados contra os trabalhadores.

O governo argentino recusa qualquer tipo de aumento salarial superior a 18%. O objetivo é evitar um efeito de contágio que aumente a escalada inflacionária – embora a Casa Rosada negue haver uma crise desse tipo. Segundo os bancários, o governo pretende “disciplinar” os bancários para evitar que outros sindicatos também exijam aumentos similares.

A vice-ministra do Trabalho, Noemi Rial, declarou que o governo aplicará suas “ferramentas administrativas” contra os sindicalistas por não aceitar a ordem de conciliação obrigatória e cancelar a greve.

Com a paralisação dos bancários, abre-se mais uma frente de batalha entre o governo e setores que se opõem à Casa Rosada.

Na quarta-feira, quatro associações ruralistas do país paralisaram as atividades agropecuárias por 24 horas em protesto contra o confisco dos terrenos e edifícios da Sociedade Rural no bairro de Palermo. No local, são realizadas anualmente a Exposição Rural e a Feira do Livro de Buenos Aires. Ambos os eventos costumam ser tribunas de duras críticas à presidente.

O

líder da Sociedade Rural, Luis Etchevere, afirmou que a estatização das instalações da entidade são uma vingança do governo pela crise de 2008, quando associações ruralistas enfrentaram Cristina com um locaute de quatro meses. Na época, a Casa Rosada pretendia- aplicar um “impostaço agrário”, derrubado no Senado por margem estreita – apenas um voto.

No dia 18, alas “rebeldes” da Confederação Geral do Trabalho (CGT) e da Central dos Trabalhadores Argentinos (CTA) realizaram uma manifestação com dezenas de milhares de pessoas na Pra-çadeMaio. Eles exigiam uma mudança na política econômica do governo de Cristina.

Os sindicalistas – que no dia 20 de novembro já haviam realizado a primeira greve geral da era Kirchner – acusam a presidente de aplicar “políticas econômicas mais ortodoxas do que

as do FMI” e de ter traído os

“ideais trabalhistas” do peronismo.

Na manifestação, o secretáriogeral da “CGT rebelde”, o caminhoneiro peronista Hugo Moya-no, afirmou que os sindicatos não se “ajoelharão” diante de Cristina.

As principais causas da insatisfação com o governo argentino em 2012 são o aumento da inflação e a retomada do crescimento da pobreza, segundo um relatório da consultoria Diagnóstico Político. De acordo com o estudo, ao longo do ano, foram, registrados 4.897 piquetes em estradas e avenidas – um aumento de B 52,36% em comparação com 20ix. Os protestos também foram reprimidos com maior violência por parte das forças de segurança. Segundo dados da CTA, nos últimos três anos, 22 pessoas morreram em manifestações.