Comunista do PCB assume direção da Sindufap
Para professor, “PCB foi a única e necessária guarida para uma vida cheia de sentido”
O comunista Iuri Cavlak assumiu uma enorme tarefa nas últimas semanas: aos 32 anos, ele é o novo presidente do Sindicato dos Docentes da Unifap (Sindufap), em Macapá (AP). Professor adjunto e doutor em História, esse militante do PCB que pesquisa as relações diplomáticas entre o Brasil e a Argentina e atualmente é responsável pelas disciplinas de Teoria da História e Metodologia da História comandará a entidade até 2013. Conheça as prioridades de sua gestão e a luta que ele desempenha na Universidade Federal do Amapá nessa entrevista:
PCB – Em que conjuntura você assumiu a presidência da associação?
Iuri Cavlak – Desde o ano passado articulamos uma chapa em que a diretoria executiva, composta por cinco professores, na qual quatro deles nunca haviam participado de nenhuma diretoria sindical antes.
Digo mais: os quatro – presidente, secretário-geral, tesoureiro e diretor de cultura – assumiram antes de completarem dois anos de seus respectivos cargos na Universidade Federal do Amapá (Unifap).
Ou seja, um grupo novíssimo, combativo, que adentrou no ensino superior nessa fase acelerada de degradação da universidade pública. Também é um grupo afinado aos recentes mandatos que estão construindo e fortalecendo o Sindufap (Sindicato dos Docentes da Unifap).
Cito a Prof. Dr. Marinalva Oliveira, o Prof. Dr. Arley Costa e o Prof. Doutorando André Guimarães.
Estava no posto de secretário-geral, mas a presidenta Cassia Hack renunciou por problemas vários, sobremaneira o acumulo de trabalho a que estava submetida.
PCB – Qual o arco de forças na diretoria?
IC – Sou o único filiado a partido. O restante da diretoria, salvo engano, não milita em nenhum partido político.
PCB – Há quanto tempo você militava no movimento docente?
IC – Comecei a militância em 19 de agosto de 2010, dia da minha posse como professor adjunto. Da segunda metade do ano passado até a primeira metade desse ano, frequentei como militante de base as assembléias, atos políticos em Brasília e o 30º Congresso Nacional do ANDES em Uberlandia (MG). Fui convidado e aceitei compor a diretoria que iniciou nova gestão em agosto de 2011.
PCB – E o mandato, será de quanto tempo?
IC – O mandato vai até agosto de 2013.
PCB – Que realidade vive sua universidade, a Unifap?
IC – A Unifap é uma típica universidade federal da periferia do capitalismo brasileiro. Tem uma carência tremenda de professores, agravada com o REUNI – que abriu novos cursos em condições bárbaras de precarização. Temos apenas três cursos de mestrado e uma verba minguada para o desenvolvimento da instituição.
PCB – E quais as principais reivindicações dos seus colegas docentes?
IC – Nossas principais reivindicações vão muito além de nossos salários aviltantes. Como disse, o REUNI foi incrementado e potencializou a carência. Aumentou o número de alunos sem aumentar a infra-estrutura.
Falta cadeira para os alunos sentarem. Aumentaram os furtos dentro do Campus. Não há lugar para estacionar os carros. Novos cursos não possuem sala de aula nem coordenação – tem professor coordenador que anda com uma CPU de computador debaixo do braço, sob o sol da linha do Equador, procurando sala para trabalhar.
No semestre passado eu ministrei 5 disciplinas! Como fazer pesquisa e extensão ou mesmo ter vida social com essa carga horária, planejando e ministrando as aulas? E sendo novato!
Então nossa pauta local passa por todas essas questões…
PCB – E que relação você espera ter com entidades como o DCE, o sindicato dos técnicos-administrativos?
IC – Nossa relação com os técnicos tem sido a melhor possível. O sindicato deles está se reestruturando e tem uma gente bastante honesta e combativa a sua frente. Nós tínhamos greve com data marcada, com assembléias lotadas, mas o acordo ANDES/Governo em 26 de agosto nos fez recuar.
Eles deflagraram sua greve esperando que nós professores engrossássemos suas fileiras, mas nem por isso deixaram de nos apoiar. O movimento dos alunos vem passando por reposicionamentos. Mas estamos sempre alinhados com os companheiros mais inquietos desse setor.
PCB – E sua militância no PCB, tem quanto tempo?
IC – Comecei a militar no PCB esse ano. Procurei o partido aqui em Macapá e recebi acolhida calorosa dos camaradas Mercedes, Décio, Francione e Nelson Souza. No encontro do ANDES em Uberlândia, também travei ótimas relações com os camaradas Milton Pinheiro e Eduardo Serra.
PCB – E sua trajetória antes do PCB?
IC – Talvez essa resposta destoe das respostas do gênero. Nunca militei em nada, nem no movimento estudantil. Fui professor da rede pública do Estado de São Paulo por dois anos. Era filiado à APEOESP, mas sem nenhuma atividade.
Por outro lado, desde o início da graduação (1998), passando pelo mestrado e doutorado, sempre foi fortalecendo na minha cabeça a perspectiva marxista e no coração a história e o papel do PCB na luta dos trabalhadores brasileiros.
Finalmente, defendi o doutorado em fevereiro de 2010 e adentrei ao ensino superior em agosto do mesmo ano. Tinha duas opções: engrossar o “cretinismo acadêmico” e ser o típico professor-doutor-classe média ou engrossar as fileiras do Partido de Marx, Lenin, Guevara, Prestes e centenas de milhares de tantos outros. Optei por esse último.
PCB – E por que especificamente o PCB?
IC – Penso não haver mais espaço nessa segunda década do século XXI para o itinerário que a maioria dos meus professores trilharam. Carreira estritamente acadêmica, publicações subsidiadas pelo Estado, razoável carga horária, bons salários, viagens, simpósios internacionais, bons vinhos, etc. O estágio atual da economia de mercado não permite.
Por outro lado, mesmo que isso ainda tivesse espaço, faria sentido viver nesse mundo quando milhares de semelhantes são massacrados diariamente sob a lógica da riqueza para poucos? Não hesitei. Diante de tal cenário, o PCB foi a única e necessária guarida para uma vida cheia de sentido.