Colômbia: o assassinato sistemático de sindicalistas
Por Luis Alberto Vanegas*
Em 11 de abril de 2010, foi assassinado Henry Ramírez Daza, ex-presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Bebidas Alcoólicas – Sintrabecólicas. Um sicário deu-lhe um tiro na cabeça enquanto assistia televisão junto de seu filho, em sua residência da cidadela Comfenalco na capital do departamento de El Tolima.
O criminoso fugiu a pé e, em posteriormente, abordou um veículo, de acordo com informações fornecidas por dirigentes do sindicato Sintrabecólicas. Henry Ramirez foi um destacado líder sindical, social e político, o último cargo que exerceu foi vereador do município de Ambalema, em El Tolima e pretendia concorrer a prefeito desta mesma cidade.
Esse fato novo se soma aos 2.742 sindicalistas assassinados na Colômbia desde o ano de 1986, genocídio que o governo tenta desvirtuar e o que consegue é transformar os companheiros novamente em vitimas, ao dizer que os telefones celulares não estão relacionados com o trabalho sindical e social dos que foram assassinados.
O que o governo está procurando é desmentir que, na Colômbia, existe violência antisindical. Como explicar, então, que, nos acontecimentos de 2010, doze companheiros e companheiras tenham perdido suas vidas – entre os quais o companheiro Henry Moya, assassinado em El Tolima, organizador do Sindicato Astracatol, de Fensuagro, Javier Cárdena Gil, da Associação de Areeiros de El Quindio, Miyer Garcés, de Asoinca, e Israel Verona, de ACA Arauca, entre outros.
Devemos denunciar que a crise humanitária está crescendo em meio a uma impunidade de 98% e o envolvimento de agentes de alto nível do Estado no assassinato e na violação dos direitos humanos dos trabalhadores e sindicalistas colombianos.
Nos diversos escândalos que vêm sendo conhecidos e que estão vinculados ao governo de Álvaro Uribe Vélez, destacamos o denunciado pelo jornal El Espectador, no dia 15 de abril, que informa como “o DAS (Departramento Administrativo de Segurança) bisbilhotou os escritórios dos sindicalistas”.
Os fatos são narrados nos depoimentos apresentados no julgamento de Jorge Noguera, nos quais se revela uma sinistra estratégia de espiões. O jornal disse que “um dos detetives, que foi encarregado de monitorar os sindicalistas, disse ao procurador que, em duas ou três ocasiões, foi incumbido de subtrair, clandestinamente, documentos dos sindicatos contendo informações sobre suas atividades… Disse que essa tarefa foi cumprida de forma eficiente com a colaboração de seguranças terceirizados… Mas outro dos detetives foi além e contou ao promotor que na Sub-diretoria de Análises da Direção Geral da DAS, nos anos 2004-2005, eram arquivados as folhas de vida de reconhecidos sindicalistas e de opositores do Executivo. Um deles foi justamente Correa de Andreis, um dos ”alvos de trabalho” do DAS. Um terceiro depoimento, de um detetive subordinado à Diretoria de Inteligência, descreve que, quando fazia parte de um dos grupos especiais de inteligência, que estavam sob a coordenação do já falecido coordenador do G-3, Jaime Fernando Ovalle Olaz, em 2004, se realizaram atividades de guerra política contra várias organizações. Essas organizações sofreram interceptação de correios eletrônicos, além de ter as linhas de telefone monitoradas. Os relatórios eram entregues diretamente ao diretor da agência, Jorge Aurélio Noguera Cotes”.
Agora entendemos porque o governo não fornece resultados sobre a questão da justiça e da verdade, sobre os autores intelectuais das violações aos direitos humanos contra o movimento sindical, como pode ser visto claramente no que se conhece do julgamento do ex-diretores do DAS. As ações ilegais beneficiavam aos superiores hierárquicos imediatos destes funcionários do Estado.
Neste contexto, John Gossaín acaba de denunciar as diferentes operações criminosas realizadas contra juízes, sindicalistas e opositores, realizadas pelo Estado colombiano, as quais, em documentos conhecidos que provêm do DAS, levam o nome de “Operação Amazônia, Risaralda, Europa, Internet , Imprensa, Arauca, Intercâmbio, Halloween e operação Transmilênio”, e este jornalista, na sua denuncia, exige que se conheça a verdade de quem ordenou esta conspiração e ação terrorista do Estado.
A profunda decomposição do regime que visa perpetuar-se a todo custo, encontrou um obstáculo na medida em que a verdade surge, Uribe começou a transição de seu mandato que termina em sete de agosto próximo, com um claro desgaste, isolamento, descrédito e a cada dia serão mais fortes as reivindicações das vítimas e das organizações atingidas, de exigir a verdade, justiça e reparação dos crimes de lesa-humanidade cometidos em nome da fascista “Segurança Democrática”.
Este cenário é ainda agravado por diversos relatórios da comunidade internacional, que vem denunciado o ocorrido nos últimos oito anos. O recente relatório “Herdeiros dos Paramilitares” de Human Rights Watch, enfatiza o fracasso da chamada “Lei de Justiça e Paz” quando manifesta o aumento do número de vítimas em meio à crise que vive a Colômbia, na contramão dos relatórios preparados pelo governo, que dizem que a Colômbia é um país em desenvolvimento.
A realidade mostra justamente o contrário, e o relatório destaca como cresce o deslocamento, o tráfico de drogas, assassinatos de sindicalistas, a revitimização das vítimas das AUC, e se esconde a verdade dos mentores intelectuais dos crimes e os vínculos e financiadores do paramilitarismo. Também aponta como o Estado delegou, na polícia de Carabineiros, o controle dos novos grupos e que, pelo contrário, as estruturas paramilitares estão se reorganizando e recrutando novos membros, transformando essa realidade na herança que deixa Uribe, após legalizar e conceder impunidade para os agressores.
Da mesma forma, a CIDH – Comissão Interamericana de Direitos Humanos, apresentou um relatório em 2009. Diante do caso colombiano, mencionou os assassinatos extra-judiciais, reconhece que continua a se violar o direito à vida dos sindicalistas e, entre outras aspectos, nas suas conclusões, recomenda ao Estado colombiano, no item 8, adotar as medidas necessárias para proteger o trabalho dos defensores dos direitos humanos, líderes sindicais, sociais e jornalistas; prevenir a estigmatização e uso indevido de mecanismos de inteligência usados contra eles; e remover os fatores de risco que afetam o esclarecimento dos atos de violência, fustigamento e ameaças. Esta breve resenha exemplifica as preocupações do relatório da CIDH diante da persistente violação dos direitos humanos na Colômbia.
É no meio dessa realidade crítica que fazemos o nosso trabalho sindical, num debate desigual porque nossos agressores não se importam em utilizar a mentira de mãos dadas com a violência. A CUT, que sofre com 87% das vítimas do movimento sindical, se prepara, em conjunto com a CTC e CTG, para participar na 99ª Conferência Anual da OIT, no mês de junho, onde exigiremos que o governo e os empresários colombianos sejam, novamente, sancionados por a Colômbia ser uma dos maiores violadores dos direitos trabalhistas e dos direitos humanos no mundo.
Isto significa derrotar o trabalho de sabotagem desenvolvido pelo ex-dirigente sindical Angelino Garzón, enquanto representante do governo de Uribe diante da OIT, e que, em uma clara atuação como traidor da causa dos trabalhadores colombianos, buscou nesses cenários diplomáticos disfarçar e esconder o drama vivido pelos sindicalismo colombiano.
Com nossa ajuda, buscamos denunciar como na Colômbia tem existido um plano sistemático de perseguição e destruição das organizações e dirigentes sindicais por parte dos empresários, com a ação permissiva, e em muitos casos criminal, de agentes do governo em nome do Estado.
(*) Luis Alberto Vanegas é Diretor do Departamento de Direitos Humanos e Solidariedade; membro do Comitê Executivo da Central Unitária dos Trabalhadores da Colômbia (CUT).