Colômbia: Documentário mostra o que está por trás dos conflitos agrários

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Com o intuito de mostrar o que está por trás dos conflitos agrários na Colômbia, e como os meios de comunicação comerciais e hegemônicos retratam esses casos e as violações que acontecem nas zonas camponesas do país, o jornalista basco Unai Aranzadi, especialista em cobrir conflitos armados, registrou o que viu no documentário Colômbia Invisível. Ele concedeu uma entrevista à Agência de Notícias Nova Colômbia (Anncol).

Aranzadi afirma que os conselhos de direção de grandes veículos estão formados por senhores que “têm um pé nos meios de comunicação e outro pé em grandes multinacionais”, e que, por isso, os grupos de comunicação, que vivem da publicidade, não podem trazer em suas páginas uma notícia sobre “energia limpa e verde”, e ao lado disso, “uma reportagem sobre sindicalistas assassinados ou deslocamentos e outros casos”. “Então, é uma forma totalmente interesseira na hora de narrar o conflito”, constata.

O jornalista observa que, “facilmente”, se encontram na Colômbia episódios como o do assassinato de uma juíza que investigava a morte de três adolescentes camponeses “por parte de militares”, cuja família também está sendo ameaçada de morte.

“Tomemos a tese de que o Estado não tem nada a ver com o paramilitarismo, nem com o assassinato de líderes camponeses, ou de sindicalistas. Bom, então porque estão sendo assassinados? Quem se beneficia com essas mortes? Isso é a lição número um de criminologia de uma academia de polícia. A quem beneficiam esses assassinatos? Se olhamos os beneficiários veremos sempre que são as multinacionais, o próprio Estado com seus políticos”, analisa. Ele observa ainda que se colocar o mapa das multinacionais presentes no país e o sobrepor ao mapa da presença paramilitar “veremos que coincidem perfeitamente”.

Segundo ele, “há uma grande operação global apoiada pelo capital transnacional” para apoiar o presidente Juan Manuel Santos, sobre a sua “lei normativa inovadora, valente e comprometida com os direitos humanos ”, que diz respeito à reparação de vítimas do paramilitarismo e sobre a restituição de terras. No entanto, Aranzadi questiona a aplicabilidade dessa lei, já que de 6 milhões de hectares apenas “2 milhões e pouco” foram encaminhados para devolução. “Sobre a recompensa às vítimas, o Estado colombiano se vê como um mero gestor, mas esse mesmo Estado fez parte do conflito, foi um ator armado do conflito”, enfatiza, atribuindo a Santos a responsabilidade por esses conflitos, desde quando o atual presidente era ministro da Defesa.

O jornalista fundamenta o interesse do mandatário colombiano nesse processo, lembrando que sua família é dona de um dos grandes grupos editoriais da Colômbia, a Casa Editorial El Tiempo. “É um presidente que tem sua própria família dominando os meios de comunicação. Imagino que se isso tivesse acontecido na Bolívia ou na Venezuela, ou em outros países, fariam um grande escândalo, mas na Colômbia não fazem nada a respeito”, ressalta.

“Eu creio que a Colômbia está destinada à paz. A intenção de Santos é vender pequenos caramelos, como é a Lei de Vítimas; a restituição de terras seria mais para dar uma aparência de progresso e de um grande esforço de normalização e de fim de conflito, mas a simples realidade os vai colocar em seus lugares, porque a necessidade do povo colombiano de soluções reais, autênticas e verdadeiras nascidas da pura justiça é tão forte, que não há mentira nem orquestração midiática e propagandista suficientemente grandes para aplacar essa necessidade que tem o povo colombiano”, finaliza.

Assista à entrevista:

“Colômbia Invisível” – Entrevista

Unai Aranzadi