Colômbia: Acordo prevê fim dos bloqueios de vias, mas paralisação continua

Adital

Foto: Crihu

Benedito Teixeira

Os organizadores da Paralisação Nacional e Agrária da Colômbia decidiram, neste domingo, 08 de setembro, após reunião a portas fechadas com representantes dos governo federal e departamentais, suspender os bloqueios e ocupações de rodovias no país. Comunicado da Mesa Nacional Agropecuária e Nacional de Interlocução e Acordo (MIA) ressalta, no entanto, que essa suspensão dos bloqueios não significa o fim total da Paralisação, que já dura 21 dias.

Nesta quarta-feira, 11 de setembro, nova reunião será realizada entre a MIA e o governo nacional, em Bogotá, para abordar temas relacionados com as garantias jurídicas e políticas do processo. No dia seguinte, 12, será iniciada a Conferência Nacional Agrária e Popular, também na capital colombiana.

“Em ata, ficaram acordados o fim dos bloqueios, o que não significa o fim do processo de mobilização por parte das comunidades, e o início do diálogo e negociação, sobre a base dos seis pontos da lista nacional de exigencias, definida por porta-vozes da MIA, há um mês em Bogotá”, declara a Mesa em comunicado. O acordo foi fechado com o vice-presidente da República, Angelino Garzón, e os governadores de Cauca, Nariño, Putumayo, Guaviare, Meta, Tolima e Huila, além dos defensores públicos do Valle del Causa, Meta e Cauca, o defensor público nacional, Jorge Armando Otálora Gómez, e um representante da Organização das Nações Unidas (ONU). No documento, também foi proposta a formação de uma comissão de garantidores e monitores do acordó, composta pelo ex presidente do país Ernesto Samper e pelo presidente do Congresso Nacional, Juan Fernando Cristo.

Andres Gil, porta-voz nacional da Marcha Patriótica e da MIA, reforça que a Paralisação continua: “entraremos em processo de negociação com o governo, as assembleias, reuniões e concentrações serão mantidas. Não haverá ocupação de rodovias, mas, se o governo descumprir o acordo, nós voltaremos a elas”.

A Comissão Nacional de Direitos Humanos da MIA informou que, durante os 21 dias de Paralisação, que envolveu jornadas e protestos em todo o país, o governo, longe de procurar negociar, teria implementado uma verdadeira máquina de guerra e mortecontra o povo colombiano, através da policía e do Exército nacional, com o objetivo de perseguir os manifestantes e seus líderes. “A perseguição contra as organizações sociais e populares que convocaram a Paralisação Nacional Agrária e Popular se materializou em uma crise em matéria de direitos humanos, agravada na última semana nos departamentos de Tolima, Huila, Nariño e Cauca”.

A Comissão fez o seguinte balanço: 660 casos deviolações aos direitos humanos individuais e coletivos em todo o país; 262 detenções arbitrárias; 485 pessoas feridas; 21 pessoas feridas com arma de fogo; 52 casos de hostilidades e ameaças contra os manifestantes e líderes sociais; quatro pessoas desaparecidas; 51 casos de ataques indiscriminados contra civis em diferentes departamentos do país; e 12 mortes por armas de fogo.

A Paralisação, que começou no dia 19 de agosto, reúne organizações campesinas, mineradores artesanais, motoristas, trabalhadores da saúde e da educação, estudantes, com apoio das centrais sindicais e outras organizações populares. Entre as reivindicações, destaca-se o repúdio contra a política neoliberal estabelecida no Plano de Desenvolvimento, e, em particular, o Tratado de Livre Comércio (TLC) com os Estados Unidos, que provoca a importação massiva de alimentos e a deterioração da produção agrária.