Campanha salarial para fábricas de autopeças em SP

Valor Econômico

Depois da paralisação de 50 fábricas realizada na segunda-feira no ABC Paulista, metalúrgicos da região de São José dos Campos, onde está instalada a General Motors (GM), começaram a se mobilizar ontem por ganhos de rendimento acima da inflação, por enquanto negados pelos patrões.

Trabalhadores da TI Automotive, em São José dos Campos, e da Schrader, em Jacareí, cruzaram os braços após rejeitarem a proposta de reajuste salarial apresentada pelo Sindipeças, o sindicato que representa os fabricantes de componentes automotivos.

Na TI – fabricante de sistemas de ar condicionado, que emprega aproximadamente 800 funcionários -, os metalúrgicos fizeram uma greve de 24 horas. Já na Schrader, que produz válvulas para pneus, houve uma parada de duas horas na fábrica, segundo o sindicato local.

Como a campanha está sendo intensificada, outras mobilizações de “advertência aos patrões”, incluindo paradas de produção, são aguardadas ao longo da semana no Vale do Paraíba e nas regiões controladas por sindicatos filiados à Central Única dos Trabalhadores (CUT), caso do ABC Paulista, de Taubaté e de Sorocaba.

Em São José, os metalúrgicos reivindicam um reajuste salarial de 12,86%. Já na campanha unificada dos metalúrgicos vinculados à CUT, pede-se reajuste de 8%, sendo 5,39% referentes à reposição da inflação e mais 2,5% de aumento real.

Contudo, até agora, as empresas se recusam a conceder aumento real aos trabalhadores – ou seja, superior à inflação. A maior parte das bancadas patronais em São José propõe reajuste de 5%.

Em comum, os metalúrgicos ameaçam entrar em greve se não houver evolução nas negociações. Na mesa de negociações, eles destacam os recordes de venda e produção apresentados pela indústria automobilística após o pacote de incentivos anunciado pelo governo em maio. As medidas incluíram a redução do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) nas vendas de carros.

A Federação Estadual dos Metalúrgicos da CUT (FEM-CUT) diz ainda que o ambiente de negócios ficou mais favorável ao setor, citando a adequação do câmbio a um patamar mais competitivo, a redução dos juros, a desoneração de impostos, os obstáculos colocados para a importação de carros e o novo regime automotivo, que atrela benefícios tributários ao uso intensivo de peças regionais.

Já faz mais de dois meses que os metalúrgicos da CUT apresentaram a pauta de reivindicações. A FEM-CUT, contudo, reclama que até agora não recebeu qualquer proposta aceitável e reclama que a bancada patronal endureceu nas negociações.

A disputa acontece no momento em que as montadoras fecham acordos com seus trabalhadores. Na última quinta-feira, a Volkswagen acertou um acordo salarial de três anos na fábrica de São José dos Pinhais, no Paraná. Já neste ano, os metalúrgicos paranaenses da Volks terão aumento real de 2,5%, além de abono salarial de R$ 4,2 mil e participação nos lucros e resultados de R$ 12,5 mil.

Ontem, os trabalhadores da GM em São José aprovaram um aumento de 8,24%. A proposta, fechada na segunda-feira, foi aprovada pelos metalúrgicos de todos os turnos do complexo industrial da montadora no Vale do Paraíba.

Com isso, a GM derruba a ameaça de greve feita pelos trabalhadores na última quinta-feira, quando um aumento real de 2% dos salários foi rejeitado. O acordo aprovado em São José prevê a reposição de 5,39% da inflação mais 2,7% de aumento real, valendo, inclusive para os 925 operários com contratos de trabalho suspensos até 30 de novembro. Também inclui um abono salarial de R$ 3,25 mil.

Por outro lado, os trabalhadores da GM em São Caetano, que negociam em conjunto com o sindicato de São José, não aceitaram a proposta da montadora em duas assembleias realizadas durante a manhã e a tarde de ontem. Eles querem que o acordo salarial seja retroativo a 1º de setembro, e não a partir de 1º de outubro, como ficou acertado em São José.