Apesar do fracasso da implantação do CBTC e denúncias de corrupção, Alckmin mantém contrato com Alstom

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A decisão do Metrô de manter o contrato com a Alstom para implantação do CBTC (Sistema de Controle de Trens Baseado em Comunicação) nas três linhas, anunciada na última semana, já era esperada. Surpresa estaria a categoria se a empresa, num raro momento de lucidez, admitisse publicamente que a implantação do CBTC fracassou.

O sistema foi contratado em 2008, durante o governo de José Serra (PSDB), e deveria reduzir o intervalo entre os trens nas linhas 1, 2 e 3, principalmente nos horários de pico para diminuir o sufoco e já deveria estar em operação em 2011, no entanto, estamos em 2014 e conforme justificativa do próprio Metrô, o sistema está em “aperfeiçoamento”.

Seu realinhamento segue revestido de falhas no controle e monitoramento das composições, atos notoriamente revelados pela imprensa quase que cotidianamente. Para os metroviários a inércia do governo comprova o conluio que existe entre o Metrô e a Alstom.

Descaso com dinheiro público

É preciso lembrar que foram gastos mais de um bilhão de reais para implantação do mecanismo, pois além do custo do contrato de quase 800 milhões com a Alstom, também há o custo da implantação do CBTC no equipamento de bordo do trem, e retrabalho porque o sistema não está operando nas três linhas, além dos contratos com empresas menores que dão “assessoria técnica” ao Metrô no acompanhamento do contrato principal.

O dinheiro já aplicado e sem o devido retorno aos usuários seria suficiente para extensão, por exemplo, da linha 2 ou da linha 5. Porém, o governo não quer assumir que a opção pela implantação do CBTC num sistema já em operação, com a superlotação do Metrô de São Paulo, atentava contra os preceitos técnicos. Principalmente, levando-se em conta que a Alstom não apresentou um projeto consistente. Tão pouco, alguma experiência do modelo de modernização nas condições do Metrô de São Paulo em outra cidade.

Insegurança

Quem acompanhou a “rotina testes” sabe que os técnicos do Metrô de São Paulo constantemente bateram de frente com as imposições da Alstom para garantir um sistema seguro para usuários e funcionários.

Já se perdeu a conta da versão de Software que estão utilizando. A cada problema identificado pelos trabalhadores do Metrô e “solucionado” pela Alstom, um novo problema aparece. Problemas gravíssimos como: alinhamento de rota contra rota, trens que desaparecem, pane total do sistema de controle sem condições de alinhamento de rotas em nenhum intertravamento, entre outros problemas.

Se o governador Geraldo Alckmin e o Secretário de Transporte, Jurandir Fernandes tivessem algum nível de seriedade com o sistema de transporte de São Paulo, não deixaria impune uma empresa com histórico fortíssimo de improbidade e que até agora só se beneficiou do dinheiro público.

Sempre é de bom tom lembrar que a empresa francesa Alstom é investigada por subornos a políticos e funcionários do governo do PSDB, além da suposta participação em cartel para se beneficiar. Dizer que multou em 10% a empresa contratada só demonstra o comprometimento da direção do Metrô com a Alstom.

Compromisso e verdade

A Federação Nacional dos Metroviários cumpriu seu papel quando levou ao CADE (Conselho Administrativo de Defesa Econômica) e ao Ministério Público Estadual as denúncias referentes a reforma superfaturada dos trens e a implantação do sistema CBTC da Alstom no Metrô de São Paulo.

Agora espera-se que o Ministério Público Estadual cumpra com a sua atribuição, instalando um inquérito civil público para apurar a responsabilidade da direção do Metrô e do governo estadual nesta operação desastrosa e fraudulenta.

Mas, o que mais alenta é a profunda convicção de que os metroviários não vão aceitar que um sistema que oferece risco ao usuário entre em operação comercial de maneira definitiva. Neste sentido, muitos funcionários, mesmo correndo risco diante da pressão exercida pela direção da empresa estão denunciando as falhas do sistema. Este comportamento correto e ético em defesa de um Metrô público, estatal e de qualidade é que faz a diferença.

“Por isso não vamos nos calar. A população tem o direito de conhecer a verdade. E nós da Fenametro seguiremos cumprindo o nosso papel na proteção dos metroviários e usuários” afirma a direção da Fenametro.