A prioridade dos trabalhadores é lutar contra o golpe aos seus direitos
A primeira edição do jornal “O Poder Popular“, de janeiro de 2015, deu destaque ao verdadeiro estelionato eleitoral realizado por Dilma: durante as últimas eleições, o PT intensificou os esforços para convencer o eleitorado de que sua manutenção à frente do governo federal era a única forma de evitarretrocessos nos direitos trabalhistas e sociais, ameaçando a população quanto ao risco em relação à continuidade das políticas públicas de atenuação da miséria, além de endurecer o discurso contra as privatizações.
Após o resultado nas urnas, contudo, o que se deu foi o prosseguimento do projeto rebaixado de conciliação de classes, com o conhecido argumento da governabilidade… Para os trabalhadores e o povo pobre em geral, estavam reservados cortes nos programas sociais e mudanças perversas no seguro desemprego, além de outros direitos, atendendo a exigências dos grandes capitalistas.
Nesse sentido, a Unidade Classista começou o ano alertando os trabalhadores quanto à necessidade de unificar as lutas para barrar a derrubada de conquistas, o arrocho, as demissões, a carestia e toda sorte de ataques da classe dominante e seus representantes políticos. Enquanto as organizações governistas procuraram direcionar os esforços do movimento sindical e popular para combater um suposto golpe da oposição de direita, afirmávamos que o golpe em curso no país era o golpe do capital e dos governos a seu serviço contra os direitos conquistados
historicamente pelos trabalhadores.
Portanto, insistimos, e continuaremos insistindo, que frente à atual situação política, econômica e social do Brasil, os trabalhadores devem voltar suas energias não para as disputas institucionais que tomam o noticiário, mas para a luta independente na defesa intransigente de seus direitos e ampliação de suas conquistas. Nem o processo de impeachment encabeçado por oportunistas nem a defesa deste governo subserviente aos bancos, às empreiteiras, ao agronegócio e à burguesia em geral interessam ao proletariado e ao conjunto do povo brasileiro.
Entendemos que não está na ordem do dia a derrubada de Dilma pela esquerda. Isto ocorre, entre outras razões, pelas debilidades na construção de uma alternativa popular – sobretudo na esfera sindical, onde os setores combativos e independentes do governo estão extremamente fragmentados. Entretanto, para mudar este quadro no médio/longo prazo, devemos começar desde já. Ou seja, ao invés de seguir como massa de manobra para os conflitos internos do bloco político dominante (PT, PMDB, PSDB, etc.), os trabalhadores devem impor nas ruas, nas greves e mobilizações em geral sua própria pauta.
Enquanto, a pretexto de evitar que volte ao poder uma direita com a qual o PT tem cada vez menos diferenças, movimentos populares e centrais sindicais seguirem defendendo o governo de maneira mais ou menos indireta, estarão contribuindo com a manutenção da classe trabalhadora como refém de pautas alheias e atrasando, mesmo que não seja sua intenção, a sua luta independente e revolucionária.
Assim sendo, avaliamos que a conjuntura colocada demanda uma ofensiva ideológica dos trabalhadores, no sentido de intensificar e armar politicamente suas lutas concretas, superando a fragmentação, o reboquismo e a superficial personalização da luta de classes. Bandeiras fulanizadas nesse momento não levam a avanços. Exemplo disso é o que ocorreu recentemente no Ministério da Fazenda. Alguns movimentos sociais vinham empunhando a consigna do “Fora Levy”. Pois bem: mal assumiu o cargo e Nelson Barbosa já anunciou seu compromisso com a manutenção do ajuste fiscal e, atenção, uma nova reforma da previdência ainda no primeiro semestre de 2016.
Esses são os votos de “ano novo” do governo e seu novo ministro, que já conta com acenos públicos de simpatia de entidades patronais como a Federação Brasileira de Bancos (FEBRABAN), Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA), construtoras e outras. Recorrendo às transformações demográficas que ocorrem no Brasil, Barbosa prepara o terreno para justificar um aumento brutal na idade mínima para aposentadoria.
O que não explicam, nem poderiam explicar os defensores desta proposta é que se trata de converter o aumento da expectativa de vida em ganhos para o capital, evitando a possibilidade de traduzir o chamado progresso em melhoria na qualidade de vida do povo. Para emplacar mais uma manobra em favor dos capitalistas, PSDB, PMDB, DEM, etc deverão deixar de lado as divergências com o governo e apoiar a medida, revelando outra vez que as contradições entre PT, base aliada e aposição de direita não são de classe. As centrais sindicais pelegas, correias de transmissão deste bloco dominante, não podem oferecer uma resistência real a este processo. Ao contrário, continuam cumprindo o papel de apassivamento do proletariado.
A picuinha institucional entre os partidos da ordem joga uma cortina de fumaça sobre contradições centrais na sociedade brasileira, naturalizando o sofrimento da grande maioria da população em benefício da manutenção dos privilégios de um punhado de parasitas capitalistas. A todo tempo se fala em crise, trabalhadores tem seus salários atrasados, parcelados, corroídos pela inflação, o SUS é afetado por cortes de verbas, universidades públicas entram em colapso orçamentário… mas a dívida pública é paga rigorosamente em dia e os juros seguem aumentando, consumindo metade da riqueza nacional!
Empresas continuam usufruindo de renúncias fiscais, os lucros dos bancos quebram recordes, mas pouco se ouve falar em termos de questionamento a esse respeito. Pouco ou nada se ouve falar sobre como os ricos poderiam pagar pela crise do sistema. O atual ciclo político e sindical, apesar de decadente, ainda está de pé, deseducando as massas. A desigualdade social e a exploração aparecem no senso comum como parte da natureza, como algo eterno.
A ladainha da imprensa hegemônica é avassaladora: não podemos aumentar os impostos dos ricos e diminuir os impostos para os pobres, para não “afugentar investimentos”; não podemos acabar com as isenções fiscais a grandes corporações, para evitar que transfiram suas operações a outros países; não podemos garantir direitos trabalhistas, pois geram custos aos patrões que podem fechar as portas e acabar com milhares de empregos. Na prática, estão sempre dizendo que temos que nos conformar com o capitalismo, que somos reféns, que não há saída viável.
Mentira! O que não é viável é manter o sacrifício de 99% da população mundial para sustentar o luxo de 1%! Não somos nós que dependemos dos patrões, eles é que dependem de nós! São os trabalhadores que produzem toda a riqueza material do mundo, não precisamos de patrões sugando nosso sangue. Porém, para conquistar o que é seu em detrimento dos exploradores, os trabalhadores precisam ser mais organizados que seus inimigos e se dedicar a uma longa e dura batalha rumo à libertação definitiva.
Não podemos prever como será essa batalha nem quanto tempo vai durar. Estamos certos, porém, que em 2016 a burguesia e suas organizações políticas continuarão articuladas para submeter os trabalhadores a mais opressão, independentemente do resultado do processo de impeachment. A resposta imediata dos trabalhadores deve ser o fortalecimento de seus instrumentos organizativos, a unidade de categorias específicas, da juventude que luta bravamente por educação em SP, nos demais estados e em todo o mundo; o atropelo de direções sindicais pelegas e, principalmente, a intensificação das greves e demais formas de luta de massas para derrotar o principal golpe: o golpe contra os direitos históricos dos trabalhadores, o patrimônio e os serviços públicos.
A Unidade Classista continuará firme, ombro a ombro com o conjunto da classe trabalhadora na luta contra o capitalismo, pelo poder popular!