A greve dos educadores municipais de São Paulo
UC-SP*
Novamente, os educadores municipais estão em greve. Não por opção e sim por necessidade de defender seus direitos mínimos de trabalhadores, num contexto de coerção criada pelas políticas neoliberais do governo Haddad.
Durante o governo Kassab, a categoria conseguiu estabelecer estabelecer patamares anuais de reajuste. O índice de 13,43% a ser aplicado este ano, nos salários-base, já era fruto dos acordos anteriores construídos pelas lutas dos trabalhadores. deveria haver a a aplicação de 3,683% este ano e o mesmo valor em 2015 e 2016. Foi o acordo resultante da greve do ano passado e a primeira negociação feita com o governo Haddad.
O governo solenemente descumpriu este acordo. O que significa que não haverá nada em 2015 e 2016, também.
A grande questão é que não é só um problema de números e nem se fixar na luta economicista. A greve coloca a obrigação de pensarmos o que é o sindicalismo de professores e nossa relação com governos dito ‘progressistas’.
A ascensão do neoliberalismo se constituiu com o apoio de uma ‘ideologia educacional’. O mantra de que a educação seria a salvação de tudo e todos. seria a base da cidadania e de uma sociedade responsável.
Ajudou a reciclar os setores conservadores e se tornou a tábua de salvação dos setores de esquerda, que abandonaram a Reforma e a Revolução. Contudo, desde 2008, só os cegos não querem ver que há uma crise do Capital. E nesta crise, o complexo da Educação se tornou uma frente crucial para os processos de valorização do Capital, em especial, o setor financeiro. Logo, as mil e uma mirabolantes propostas educacionais possuem uma relação direta e intrínseca com a manutenção das taxas de lucros. Os 150 mil exemplares da Nova Escola compradas da editora Abril , garantem mais os lucros de monopólio capitalista e a imposição do imaginário neoliberal, do que solucionar problemas reais de aprendizagem.
A CRISE chegou e o PT , que no Brasil, representa as forças que optaram pelo ‘transformismo e a pequena política’ está implantando a flexibilização e precarização da força de trabalho.
Vamos superar a tacanhez e limitação do nosso sindicato burocratizado. Estamos diante de uma lógica totalizante e precisamos entender isto como um todo. O SGP (Sistema de Gestão Pedagógica) não é só um sistema para ‘ajudar tecnologicamente’ professores e apesar de ser mais um encargo (trabalho não pago), é mais que isso. É o coração de um sistema de privatização e precarização do trabalho docente.
Instaurado no município de Foz de Iguaçu, esteve relacionado ao aumento do IDEB do município, durante a gestão Haddd do ministério da Educação. IDEB alto, mais verbas para o município. Contudo, o preço foi o congelamento de salário e precarização da vida de funcionários públicos. A responsável pelo projeto em Foz é a coordenadora do SGP no município de São Paulo com a missão de aumentar o IDEB paulistano. Dá para prever o resto da história…
Estamos vivendo o momento paulistano da ‘Dieta Mediterrânea’, isto é ,as políticas neoliberais que visam liberar recursos do setor público, sacrificando os servidores, serviços e políticas sociais. É o que está ocorrendo na Grécia, Itália, Espanha, Portugal, Irlanda….
O nosso sindicato burocratizado e desarmado intelectualmente não consegue dar conta desta nova realidade. Igualmente enredado na ‘ideologia educacional’ (a de que individualmente chegaremos lá) e no velho peleguismo, só poderemos espera algo quando os trabalhadores da educação assumirem sua condição de classe.
* Por Maurício Orestes Parisi –
Conselheiro do Sinpeem e membro da UC