Candidatos de esquerda à presidência realizam debate no segundo dia da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas
CSP-Conlutas
Nesta manhã (30), iniciando o segundo dia da reunião da Coordenação Nacional da CSP-Conlutas, os três candidatos de esquerda à Presidência da República – Zé Maria (PSTU), Jorge Paz (vice na chapa do PSOL, representando Luciana Genro) e Mauro Iasi (PCB) – debateram os principais pontos que compõem seus programas políticos.
Dentre os temas discutidos, tiveram destaques a qualidade e o direito aos serviços públicos, como transporte, saúde, educação e moradia, a necessidade de construir a reforma agrária, a garantia dos empregos e a criminalização dos movimentos sociais da classe trabalhadora, a organização da esquerda e o próprio sentido das eleições de 2014.
Jorge Paz abriu o debate e citou a questão da dívida pública, que descreveu como “bastante perversa, com juros sobre juros”, e disse que o caminho é “trabalhar com uma auditoria da dívida pública para denunciar que a maior parte da divida é do setor especulativo, que financia os poderosos. Além disso, é necessária uma reforma tributária, pois os tributos recaem sobre o assalariado e sobre o consumo, o trabalhador e a classe média”, concluiu.
Ainda nesta temática, Mauro Iasi comentou a afirmação da presidente Dilma que defende um país onde todos sejam da classe média. “Imagine um país só de classe média? Isso é um pesadelo. Cheio de pessoas egoístas, consumistas e individualistas. Queremos um país de trabalhadores, da classe trabalhadora, e isso envolve mais do que a simples busca pela produção acelerada e pelo consumo. É uma profunda mudança na vida, que exige modificar a estrutura econômica, agrária, na cidade etc”, disse.
Também para o candidato Zé Maria, o meio para que os trabalhadores tenham acesso à saúde, educação, salário digno, aposentadoria, cultura, lazer, é o Brasil, que pode prover tudo isso, passar por transformações profundas no sistema político, econômico e social. “900 bilhões [de reais] vão para os bancos. E este valor é que faz falta para as políticas públicas no país, para a qualidade e construções de escolas, de hospitais. A saúde vive em situação de caos, o trabalhador vive em situação de caos, mas os bancos estão bem”, exemplificou, complementando que a estatização dos serviços é um meio de evitar que bens públicos sejam entregues ao mercado. “Não se produz nem distribui energia pensando na população, mas nos fundos, quase todos estrangeiros, que investem neste mercado”.
Outro ponto que teve destaque no debate, a repressão contra os movimentos sociais e as mobilizações dos trabalhadores, de modo geral foi compreendida pelos candidatos como uma das lutas a ser encampada pelo setor de esquerda.
Jorge ressaltou o caso das ações em defesa da luta dos metroviários, que teve importância para tratar a questão do transporte coletivo e a criminalização dos movimentos. “É um dos exemplos de como o governo age contra os movimentos sociais. E, neste caso especialmente, de forma violenta pelo Alckmin”, frisou.
E considerando que o transporte deve ser tratado como direito pelo Estado, para usuários e trabalhadores da categoria, Mauro defendeu a tarifa zero, e salientou que “essa gestão privatizante afeta a base do trabalho, prejudica usuários, quando não investe ou renova as frotas, e precariza as condições dos trabalhadores”.
Complementando e ampliando o tema, Zé Maria relembrou que, nas jornadas de junho de 2013, chegou a encaminhar “uma proposta concreta para que se suspendesse o pagamento da dívida, o que renderia um volume de 6 bilhões de reais, o necessário para cobrir o gasto com ônibus em São Paulo e garantir a tarifa zero”.
Refletindo sobre a mobilidade e os impactos para a categoria que produz no setor automotivo, o candidato também citou que “nos últimos seis anos este setor enviou uma remessa de 10 bilhões [de reais] para o exterior, valor que suportaria 12 anos de salário sem que o trabalhador produzisse um carro. O setor recebeu ajuda de 30 bilhões para supostamente defender o emprego, e o que vemos é a possibilidade de cerca de 5000 demissões”, alertou.
Educação e luta no campo – Os candidatos Mauro Iasi e Zé Maria defenderam a necessidade de investimento na educação, seguindo por caminhos contrários aos defendidos pelo PNE (Plano Nacional de Educação), indicando, por exemplo, a campanha pelo destino de 10% do PIB para esta área social. Para Jorge Paz, embora não seja o tipo de programa mais adequado, ainda considera que parte da população se beneficia com as possibilidades do PNE.
No campo da reforma agrária, Mauro reforça que não se trata apenas de exigir a simples distribuição de terra, “e depois boa sorte para concorrer com o agronegócio. Mas sim garantir o uso coletivo da terra voltado ao objetivo central de produzir alimento. Não é possível que 43% do fundo público seja já retirado para pagamento dos juros da dívida. Somos favoráveis ao não pagamento da dívida”. E Zé Maria, neste sentido, afirmou a necessidade de “retirar as terras dos poderosos do agronegócio”, citando como exemplo de prioridade ao capital o fato de que o Brasil produz “soja aqui para exportar para a Europa, porque dá mais lucro, e no fim precisamos importar feijão preto da China”.
Além dos privilégios do agronegócio, as políticas públicas para os assalariados rurais também foram colocadas em xeque, tendo como exemplo o Pronaf (Programa Nacional de Desenvolvimento da Agricultura Familiar) que, segundo Iasi, oferece apenas 8 mil reais ao ano para a família que vive de agricultura familiar, o que “possibilita sobreviver do trabalho, mas não financiá-lo”, pontuou.
Mulheres – Marcela Azevedo, da Secretaria Executiva Nacional do MML (Movimento Mulheres em Luta) entregou um documento com as demandas do movimento deliberadas durante o último Seminário Nacional do MML, realizado em SP. Os candidatos expressaram concordância com as exigências e planejamento de luta, e se colocaram à disposição de adicionar a pauta a seus programas políticos.
Jorge Paz também falou sobre o tema, ressaltando que a questão salarial deve ser debatida. “A mulher está no mesmo trabalho com remuneração diferente. Precisamos conquistar a igualdade salarial. Além de levar em conta a violência que se abate contra a mulher, e o direito também de, junto com seu companheiro, família, figura religiosa, poder decidir se suspende ou não uma gravidez. A questão do aborto não pode ser tratada mais como caso de polícia, é uma questão de saúde pública”, comentou.
Legalização das drogas e genocídio do povo negro – Jorge também defendeu a legalização da maconha, afirmando que “em nome do combate ao narcotráfico, há uma guerra contra a juventude, somos contrários, devemos combater o narcotráfico, mas o que ocorre é uma guerra, vitimando, principalmente, pobres e negros nas periferias”. Em contrapartida, Zé Maria ressaltou que há também um racismo institucionalizado que mata a população pobre e periférica. “O genocídio não é só problema do narcotráfico, o jovem dos Jardins – região nobre de SP – não usa maconha? No Leblon? E a PM age como? Eles não dão chutes nas portas, nem entram atirando. Não é só problemas das drogas, mas é prática de contenção da pobreza”.
Mauro Iasi, além de defender a desmilitarização, diz ser a favor do fim da Polícia Militar, uma vez que “o direito não está mais no patamar mínimo. Os direitos foram para a mesa de negociação. O Brasil assina tratados internacionais, mas não respeita. Por isso consideramos o fim da PM”.
Outros temas – A situação da educação pública superior, em especial a das públicas estaduais de São Paulo, como o caso da USP, em greve há mais de 3 meses, foi destacada pelos candidatos que acreditam que o sucateamento é proposital para que o ensino seja privatizado, e o baixo desenvolvimento do país, com PIB abaixo de 1%, foi considerado pelos candidatos como clara situação de recessão técnica da economia do Brasil.
Opção pelo voto nulo – Houve ainda espaço no debate para a defesa do voto nulo como uma opção possível dos trabalhadores nesta eleição, defesa que foi feita por Vitor, do Movimento Revolucionário Socialista, que evocou o legado das manifestações de Junho como argumento para buscar deslegitimar o sistema eleitoral burguês.
Público e objetivo – O debate contou com 154 participantes, de 62 entidades, com 18 estados representados no plenário.
Com o debate, a Central pretendeu destacar as candidaturas de esquerda, com programas alternativos, com as quais tem maior base de apoio e que contam, inclusive, com representação entre os trabalhadores organizados na base da Central e de suas entidades filiadas.
A CSP-Conlutas já manifestou sua rejeição às candidaturas Dilma, Marina e Aécio, que detêm a maior intenção de voto, por entender que não expressam as aspirações e interesses da classe trabalhadora, da juventude, dos desempregados, aposentados, das mulheres trabalhadoras, negros e negras e LGBT´s.
Neste domingo (31), a Central aprovará uma resolução nacional sobre sua intervenção no processo eleitoral.