2,6 mil sindicatos estão no radar das centrais sindicais

O Estado de S. Paulo

O Brasil tem hoje pouco mais de 10 mil sindicatos e 7,5 milhões de filiados, mas é um universo muito menor, de 2,6 mil entidades, que interessa às centrais sindicais. Estes são os sindicatos “independentes”, isto é, que não são ligados a nenhuma das 12 centrais brasileiras. Os dados pertencem a levantamento do Ministério do Trabalho obtido pelo ‘Estado’, que serão divulgados nesta semana.

É com base nessas informações que o governo divide com as centrais o dinheiro arrecadado com a cobrança do imposto sindical, que representa um dia de trabalho de todos os 46 milhões de trabalhadores com carteira assinada do País. Para obter uma parte do bolo, que no ano passado superou R$ 2 bilhões, uma central precisa ter, no mínimo, 7% de representatividade.

Apesar de existirem oficialmente 12 centrais no Brasil, apenas 5 recebem recursos provenientes do imposto sindical: CUT, Força Sindical, UGT, CTB e Nova Central. Por isso a briga por sindicatos é tão frenética.

“Há uma quantidade ainda muito grande de sindicatos independentes, e eles serão alvos da CUT a partir de agora. Queremos aumentar muito nossa base”, disse o presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas. A central é a maior do País – com 2,1 mil sindicatos e 2,7 milhões de associados, ou 35,6% do total. Assim, abocanha a maior parte do imposto. Ainda assim, a CUT é a única contrária ao repasse.

Busca geral

A estratégia de buscar os 2,6 mil sindicatos independentes – que contam, ao todo, com 994,8 mil sócios – foi repetida ao Estado por todos os demais líderes sindicais, com maior ou menor ênfase. O presidente da União Geral dos Trabalhadores (UGT), Ricardo Patah, afirmou que a central tem como meta ampliar em 400 sindicatos sua base, e, para isso, preparou um “kit UGT”, para convencer os independentes a migrarem. Hoje, a UGT conta com pouco mais de mil sindicatos e 849,4 mil sócios.

Se for bem-sucedido, Patah vai levar a central a se aproximar da Força Sindical, que tem 1,6 mil sindicatos e 1 milhão de filiados.

Autonomia

A Força, histórica rival da CUT, aposta na “autonomia” em relação ao governo federal como bandeira para atração dos sindicatos. “Precisamos defender os trabalhadores e isso, por vezes, significa brigar com o governo, algo que nós fazemos quando é necessário”, disse João Carlos Gonçalves, o Juruna, secretário-geral da Força.

A principal guerra entre o Planalto e o mundo sindical hoje se dá no setor portuário, onde os trabalhadores são principalmente ligados à Força Sindical.

Segundo Wagner Gomes, presidente da Central dos Trabalhadores e Trabalhadoras do Brasil (CTB), a entidade vai priorizar sindicatos onde a sindicalização é maior. A CTB conta com “apenas” 624 sindicatos, número inferior à da Nova Central (NCST), porém com mais associados.

O Planalto quer fechar o cerco a sindicatos de fachada. Nos últimos anos, em busca de uma fatia maior do imposto sindical, as centrais buscaram todo tipo de entidade – até mesmo aquelas fantasmas. O governo aumentou o rigor sobre o registro sindical nesta semana, com medidas como reconhecimento em cartório de atas de fundação de entidades, e a exigência de assembleias.