NOTA CONJUNTA DA UNIDADE CLASSISTA E DO COLETIVO FEMINISTA CLASSISTA ANA MONTENEGRO — SOBRE O FEMINICÍDIO NO CEFET-RJ

A Unidade Classista e o Coletivo Feminista Classista Ana Montenegro publicam esta nota, porque é preciso dizer com todas as letras o que aconteceu no CEFET-RJ: foi feminicídio.
Allane Pedrotti e Layse Pinheiro foram assassinadas dentro do seu local de trabalho por um servidor que não aceitava ser chefiado por mulheres. O agressor já havia sido afastado por atitudes misóginas, e, ainda assim, retornou ao local de trabalho. Isso não é “um caso isolado”, não é “descontrole”, não é apenas “sobrecarga emocional”.
É ódio às mulheres. É machismo letal. É a cultura patriarcal mostrando sua face mais cruel.
Reconhecemos que há um adoecimento profundo da classe trabalhadora em geral e, como exemplifica o atual caso, de trabalhadores(as) da Educação pública, por conta da sobrecarga, da retirada de direitos e da crescente onda de terceirização e precarização.
Mas não podemos permitir que se transforme misoginia em “transtorno”. Patologizar o feminicida é proteger a misoginia.
E isso, nós não aceitaremos.
Doenças, sejam físicas ou mentais, jamais podem servir de atenuante, justificativa ou desculpa para ações que violentam qualquer membro da classe trabalhadora, sobretudo quando essas violências estão enraizadas em opressões estruturais inerentes ao sistema capitalista, como o machismo, o racismo e a lgbtfobia. O adoecimento e os recortes sociais devem ser considerados na análise materialista para a construção de estratégias políticas e estruturais que visem à superação completa desses problemas. Contudo, essa consideração não pode desviar o foco da vítima ou reduzir a violência a um caso isolado de patologia individual, desresponsabilizando o agressor e mascarando a natureza da opressão de gênero como pilar de dominação de classe.
Essa análise não pode, de forma alguma, ser utilizada para minimizar a responsabilidade do agente em crimes como o feminicídio. A violência de gênero é um reflexo brutal da superestrutura ideológica burguesa, que se manifesta na esfera privada e se sustenta na exploração e dominação. Minimizar o ato é ignorar o caráter de classe e a função social repressiva do machismo.
É nossa tarefa, em qualquer espaço que atuemos, ter a clareza ideológica e o tato político necessários para estabelecer essa diferenciação de forma categórica. Caso contrário, se permitirmos que a responsabilidade individual se dissolva em desculpas “médicas” ou psicológicas, estaremos reforçando as violências de gênero e tornando esses locais inseguros para as companheiras e companheiros que historicamente sofrem as opressões de gênero, minando a unidade necessária para a revolução.
Vivemos um tempo em que discursos de ódio contra mulheres crescem, impulsionados por grupos e conteúdos ideológicos — como os do universo “red pill” — que ensinam homens a enxergar mulheres como inimigas, inferiores ou ameaças. Não é coincidência. É um projeto de poder machista que precisa ser combatido.
Por isso, reafirmamos:
A luta feminista salva vidas — das mulheres e também dos homens.
Ela garante que as mulheres possam trabalhar sem medo de morrer.
E garante que os homens possam expressar sentimentos e fragilidades sem precisar recorrer à violência para afirmar poder.
Allane e Layse não tombaram “no exercício de suas funções”.
Foram mortas por serem mulheres que ocupavam o lugar que deveriam ocupar: o de liderança, de competência, de autoridade profissional.
Que este país entenda, de uma vez por todas: nenhuma mulher deve perder a vida por exercer seu trabalho.
Transformemos a nossa dor em força organizada. Allane Pedrotti e Layse Pinheiro seguirão presentes na nossa luta pela vida, pela igualdade de gênero, pela democracia nos locais de trabalho e por uma sociedade que pare de produzir homens ensinados a odiar mulheres.
Contra o feminicídio.
Contra a misoginia.
Pela vida das mulheres.
Pela libertação da classe trabalhadora de todas as formas de opressão.