ACIDENTE GRAVE NA USINA DE RAÍZEN RESULTA EM MORTE DE TRABALHADOR

Na noite do dia 16 de abril, um acidente gravíssimo deixou três trabalhadores feridos na Usina Santa Elisa, da Raízen, em Sertãozinho (SP). Conforme informações divulgadas no dia seguinte pelo G1, dois trabalhadores sofreram queimaduras graves. Um deles foi transferido ao Hospital Albert Einstein, em São Paulo, enquanto o outro foi internado em estado grave na Santa Casa de Sertãozinho. Um terceiro trabalhador sofreu ferimentos leves e está em observação. Segundo o Corpo de Bombeiros e a Polícia Civil, não houve chamado imediato de emergência, e apenas posteriormente um boletim de ocorrência foi registrado.
A versão oficial apresentada à imprensa aponta que o acidente teria ocorrido após o rompimento de um duto de vapor, liberando vapor superaquecido que atingiu as vítimas. A Raízen declarou que mobilizou sua equipe de saúde para dar suporte às famílias e que está apurando as causas do ocorrido.
No entanto, relatos de trabalhadores da usina revelam uma realidade ainda mais alarmante, sugerindo sérias falhas operacionais e negligência. Segundo relatos, em dezembro de 2024, houve demissão dos antigos operadores da turbina, após reivindicação de aumento salarial. Novos trabalhadores assumiram as funções, porém não houve preocupação por parte dos gestores e líderes da Usina em instruir corretamente esses novos trabalhadores, resultando em erros operacionais— como a entrada de água nos encanamentos de vapor e o consequente dano nas tubulações, pelo choque térmico.
Ainda de acordo com o relato, houve um vazamento identificado durante regulagem de válvulas — dispositivos que controlam a pressão do vapor e que requerem assinatura técnica. Os trabalhadores teriam solicitado a paralisação da operação, mas foram ignorados pela supervisão. Com o aumento do vazamento, foram orientados a descer até a galeria para filmar o vazamento. Foi nesse momento que o duto de vapor estourou, lançando vapor a altíssima temperatura e pressão e substâncias químicas contra os corpos dos trabalhadores. Dois deles tiveram aproximadamente 90% do corpo queimado. No dia 23 de abril, um dos trabalhadores veio a falecer no hospital.
A denúncia aponta ainda que, após o acidente, a Raízen proibiu expressamente a divulgação de vídeos ou informações sobre o caso entre os funcionários, sob ameaça de demissão. Também chama a atenção o fato de que o Conselho Regional de Engenharia (CREA) não compareceu para realizar a devida fiscalização e que a usina não acionou imediatamente as autoridades públicas. Além disso, segundo os relatos, a empresa teria tentado responsabilizar brigadistas pelo não acionamento dos bombeiros.
Em paralelo a essa tragédia, a Raízen mantém ativa sua participação em grandes eventos como a Agrishow, projetando sua imagem de inovação e sustentabilidade para o Brasil e o mundo, enquanto o acidente e suas vítimas parecem receber atenção insuficiente por parte da companhia e da mídia.
O acidente na Usina Santa Elisa não é um episódio isolado, mas a expressão brutal de um sistema que prioriza o lucro sobre a vida humana. A morte e o sofrimento dos trabalhadores são vistos como simples “custos operacionais” por empresas como a Raízen, que seguem operando normalmente enquanto ocultam a tragédia e intimidam quem ousa denunciar.
Este crime não pode ser tratado como um acidente isolado: é fruto direto da lógica capitalista que descarta vidas em nome do lucro.